Livro traz histórias do pai e do filho responsáveis pelo restaurante Mocotó

Laison dos Santos/Divulgação
O chef Rodrigo Oliveira e seu pai, Zé Almeida, no Mocotó
O chef Rodrigo Oliveira e seu pai, Zé Almeida, no Mocotó

"Meu pai é a principal razão de eu estar aqui", conclui o chef Rodrigo Oliveira, sentado em uma das mesas de seu Mocotó. "Eu já me perguntei por que, aos 13 anos, eu vinha aqui todos os dias para lavar louça, limpar chão, picar cebola e aguentar bebum. E era só para ficar perto dele."

O Mocotó, casa que Zé Almeida abriu 44 anos atrás na Vila Medeiros, zona norte da cidade, e que Rodrigo assumiu em 2001, acaba de ganhar um livro. "Mocotó - O Pai, o Filho e o Restaurante" (ed. Melhoramentos) chega às livrarias na terça-feira (8).

Segundo Rodrigo, o livro é um "registro documental" do restaurante "que superou os sonhos mais desvairados ao transformar a visão da comida sertaneja, estigmatizada como grosseira, pesada e pobre".

Ele começa com a história do obstinado Zé Almeida, um migrante do sertão pernambucano (onde a comida era escassa) que trabalhou duro em São Paulo até abrir sua casa do norte e, depois, o Bar do Mocotó.

Rodrigo surge como o jovem inquieto, questionador do que estava pela metade naquele lugar. E, em sua narrativa, cita cada mudança: das panelas remendadas, da alta temperatura da cozinha, do banheiro precário. E então seu mergulho na gastronomia, as viagens pelo país e a chegada dos críticos.

Uma linha do tempo mostra, ano a ano, a transformação do Mocotó. E um diário conta, hora a hora, um frenético sábado na disputada casa. Fala-se também das pesquisas, dos preparos e das receitas —essas, adaptadas para a cozinha caseira quando necessário, com um outro corte de carne ou o forno baixo em vez do sous-vide. Há ali o passo a passo de caldinhos, petiscos, farofas, carnes, purês, doces e drinques.

Um robusto glossário esmiúça ingredientes fundamentais dessa cozinha: feijões, farinhas, carnes-secas e milho. "Que formam o sustento da culinária sertaneja", diz o chef.

Apesar dos capítulos separados para pai e filho, o Mocotó é claramente fruto dessa relação, do encontro e do embate de duas gerações. "A cozinha dos cozidos, que praticamos até hoje, é herança direta do meu pai. E é essa essência que dá notoriedade à casa."

"Meu pai é a tradição, o freio e a segurança. Eu sou o ímpeto, a criatividade e a ousadia. Para convencê-lo de cada coisa, era preciso estar muito certo. Por isso, erramos menos. Com ele sozinho, talvez o Mocotó tivesse acabado. Só comigo, não teria nem começado."

*

Mocotó - O pai, o filho e o restaurante
Autor Rodrigo Oliveira
Editora Melhoramentos
Preço R$ 105 (264 págs.)
Noite de autógrafos terça-feira (8), às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2.073, Consolação)

Reprodução
A capa do livro "Mocotó - O Pai, o Filho e o Restaurante" (ed. Melhoramentos
A capa do livro "Mocotó - O Pai, o Filho e o Restaurante" (ed. Melhoramentos)
Publicidade
Publicidade