Conheça pais que conciliam filhos e hobbies como escalar o Himalaia e ir a shows do Iron Maiden

Está pensando que a vida dos pais é só trabalho e cuidar da cria? Eles também batalham para colocar em prática seus hobbies, como cruzar oceanos atrás de um show de heavy metal, fazer longas caminhadas pelo Nepal e guardar uns minutinhos para desfrutar do jardim.

Conheça cinco histórias a seguir: Jota, o explorador | Jair, o motorizado | Sandro, o veloz | Rodrigo, o guardião das plantas | Wilson, o planejador

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Jota, o explorador

Keiny Andrade/Folhapress
João Marincek, 49
João Marincek, 49

Há alguns meses, Jota fez algo que não costuma fazer: levou a família para a praia. Lá, rolou um pouco de tédio. Para seus três filhos e uma enteada, que cresceram explorando a natureza, acordar e tomar sol era tranquilidade demais.

Naquela viagem a Itaúnas, no Espírito Santo, eles acabaram sentindo saudades de outras expedições que fizeram, como quando desceram de barco um rio no Jalapão, em Tocantins, ao longo de três dias. Quando a noite chegava, eles montavam acampamento nas margens para esperar o dia seguinte.

"Viagens assim são um jeito de criar cumplicidade com os filhos. Quando eles viram adolescentes, fica cada vez mais difícil eles quererem sair com os pais, mas a gente quer estar próximo. Quando tem uma pitada de emoção, de aventura, a cumplicidade aumenta", diz João Marincek, 49, conhecido como Jota, nos fundos de um sobrado laranja em uma rua tranquila de Perdizes, na zona oeste.

Ali funciona a Venturas Viagens, agência criada por ele em 1992 e especializada em turismo de natureza e de cultura, como o Himalaia, no Nepal, o Pantanal ("Não tem lugar no Brasil onde tem tanto bicho pra ver") e o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.

Hoje no terceiro casamento, Jota já precisou deixar os filhos pequenos com os irmãos para fazer as viagens a trabalho. Agora que eles cresceram e podem ir junto, o explorador aproveita para repassar coisas que aprendeu.

"Viajar mostra que não tem só um jeito de viver, de fazer as coisas. Colocar os filhos para caminhar na Chapada Diamantina, dormir na casa de uma pessoa nativa, saborear comida do fogão a lenha... Isso enriquece muito", conta.

A próxima viagem da família deverá ser para o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. "Caminha durante três dias, dorme em rede, numa semana de lua cheia. É para não esquecer nunca mais na vida", descreve Jota.

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Jair, o motorizado

Keiny Andrade/Folhapress
SAO PAULO - 31.07.2017 - REVISTA - Retratos do cineasta Jair Peres que é aficionado por rodas, além de recuperar carros antigos. Tem um vício por andar de moto. O retrato dele é com o traje de trabalho, comum, e também com o de moto. A foto será parte da matéria de Dia dos Pais da revista sãopaulo. Foto: KEINY ANDRADE/FOLHAPRESS
Jair Peres, 44

Jair Peres, 44, se lembra exatamente da sensação ao subir numa bicicleta pela primeira vez. "Fui pedalando, ganhando velocidade, cada vez mais longe de casa. Um negócio eletrizante."

Sete anos depois, veio a mobilete. E danou-se. Em Taquaritinga (SP), onde cresceu, as duas rodas eram convite para ir cada vez mais longe. "Um instrumento de libertação", define.

Hoje morador da Vila Madalena, o cineasta cheio de hobbies talvez tenha deixado a moto num lugar cativo por causa dessa história –a edição, aliás, ele conta que foi o primeiro de todos os passatempos, montando pequenos curtas de amigos com fitas VHS.

Do pai, herdou o gosto por comprar carros antigos (esquecidos em fundos de oficinas, com galinhas dentro) e recuperá-los garimpando peça por peça. "Ninguém tinha um carro como o dele e eu achava legal. Entendi que não precisava seguir um padrão."

Retornemos às motos, que serviram até de desculpa para levar a mulher, artista plástica, a Milwaukee, nos EUA. Lá, onde fica a fábrica da Harley-Davidson, há também um museu de arte com projeto de Santiago Calatrava, onde Jair a pediu em casamento num final de tarde.

Mas a paternidade freou o motoqueiro (que já pilotou uma estradeira até o Uruguai) –ele até escolheu um tanque pequeno para o veículo atual na tentativa de evitar longas distâncias.

O filho, Miguel, nunca andou de moto ou carro antigo. Tem apenas três aninhos. "Adoraria que ele tivesse esse 'vírus da ferrugem', mas sem pressão."

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Sandro, o veloz

Keiny Andrade/Folhapress
Sandro Augusto, 45
Sandro Augusto, 45

Para vencer uma prova de triatlo Iron Man, é preciso nadar 3,8 km, pedalar 180 km e correr 42,1 km em sequência. Na competição a qual foi no ano passado, Sandro Augusto, 45, recebeu um estímulo especial: suas filhas. "Assim como em outras vezes, elas cruzaram a linha de chegada comigo", comemora.

Morador da Vila Leopoldina, Sandro, que trabalha com vendas de rastreadores, treina para estes desafios quase todos os dias –de manhã, entre 6h e 8h, e mais uma hora no início da noite, alternando entre natação, corrida e bicicleta. Nos fins de semana, os treinos são mais fortes: "Faço 140, 150 km de pedal e corro no mínimo uns 20 km".

De sábado e domingo, Sandro também acha tempo para a família. Ele leva as filhas Isabela, 18, e Giulia, 11, para pedalar no parque Villa-Lobos. Se sai mais cedo do trabalho, também passeia com elas no fim da tarde.

"Sempre tentei levá-las para uma qualidade de vida mais saudável. Não consegui muito isso com a minha filha mais velha, mas a menor, além de ser atleta e praticar ginástica, consegue ter uma alimentação mais saudável e gosta mais do ar livre", comenta Sandro.

"Quando elas vieram, diminuí um pouco o ritmo. Depois que a Giulia nasceu, em 2006, fiquei três anos sem competir em provas longas. Só fiz triatlos menores", lembra. Para ele, uma prova "menor" soma cerca de 50 km.

Sandro disputa de três a quatro eventos por ano. Seu próximo triatlo será em Ubatuba, no fim do agosto. Ele largará às 7h de um domingo para vencer 114 quilômetros. As últimas passadas dessa jornada serão em boa companhia.

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Rodrigo, o guardião das plantas

Keiny Andrade/Folhapress
Rodrigo Zaramella, 41
Rodrigo Zaramella, 41

Dono das lojas de sapatos Dom Shoes, Rodrigo Zaramella, 41, tem um orgulho: ensinar a filha Manuela, 6, a importância das coisas simples da vida, como andar sem calçados, para sentir o solo e interagir com a natureza.

Depois de anos trabalhando em shoppings, ele criou do zero uma rede com 11 lojas de calçados masculinos. "Quando a Manuela nasceu, recebi uma energia de 220 volts que me deu mais pique para bater minha meta, de abrir dez lojas em dez anos", conta ele, num café ao lado de sua primeira unidade, no shopping Anália Franco, na zona leste.

Rodrigo passou a vida na região. Ele cresceu em uma casa na Penha, cercado dos animais que pertenciam ao seu avô. "Lá tinha de tudo: cão, gato, passarinho, macaco...", lembra.

Aos 27, ele se mudou para um apartamento no Tatuapé e não achou justo manter um bicho num espaço pequeno. No entanto, queria manter o contato com a natureza. A saída foi retomar um hábito de infância: plantar.

Hoje, sua coleção verde tem mais de 20 vasos, regados e cuidados com ajuda da pequena Manuela. "Nos fins de semana, separo mais tempo para cuidar das plantas. Coloco cascas de frutas na terra, faço um adubo natural", ensina Rodrigo, empolgado.

Uma das espécies que mais o orgulha, uma iúca, foi achada no lixo do prédio. "Vi aquela planta num saco. Não resisti e levei pra casa. Botei num vaso e hoje ela já está com dois metros de altura", diz ele. "Temos que ter respeito por todos os seres vivos. Em casa, não deixo matar nem uma formiga."

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Wilson, o planejador

Keiny Andrade/Folhapress
Wilson Feldberg Filho, 45
Wilson Feldberg Filho, 45

Quem vê o engenheiro Wilson Feldberg Filho, 45, encamisado em seu escritório em Moema (bairro que adotou para ser sua "pequena cidade") ou com o capacete na obra talvez não imagine o volume da música no seu carro –e o que tocam as caixas de som. Provavelmente, o grupo de heavy metal Iron Maiden.

A banda preferida de Wilson já o fez cruzar o oceano até Donington Park, na Inglaterra, em 2016, terra natal dos integrantes. Também já esteve em Buenos Aires, Rio, Curitiba e Porto Alegre por eles. "Acaba sendo uma balada para mim e para a minha mulher."

Mas o último show em que esteve foi da jovem cantora pop Ariana Grande, no mês passado, no Allianz Parque, zona oeste da cidade.

É claro que foi apenas para acompanhar as filhas, Beatriz e Carolina. "Ir a um show é sempre legal, até quando a música não é a melhor."

Sua relação com o mundo musical é antiga. Em casa, todos eram incentivados a, além da escola, estudar um instrumento e praticar um esporte. Os seus eram guitarra e surfe (que pratica até hoje no Guarujá, sozinho na água, bem cedinho. Quase uma terapia).

Engenheiro, filho de engenheiro, marido de engenheira, Wilson vai organizando a vida em planilhas –dela saiu até a melhor hora de ter as filhas, hoje com dez e oito anos. "A gente é assim, exato."

Planejando bem, garante a existência de um "tripé": ter sempre tempo para família, para o trabalho e para ele mesmo.

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