Hematologista do Albert Einstein lidera banda que toca Beatles e tem até fã-clube

Bruno Santos/Folhapress
Nelson Hamerschlak, coordenador de hematologia e transplante de medula do Hospital Albert Einstein
Nelson Hamerschlak, coordenador de hematologia e transplante de medula do Hospital Albert Einstein

Imagine uma emergência daquelas de filme. O passageiro passa mal durante a viagem de avião e a tripulação faz um apelo: "Tem algum médico a bordo?"

Agora imagine cena parecida, com menos gravidade, mas talvez a mesma urgência. Em um encontro musical do hospital Albert Einstein, alguém pergunta ao microfone: "Tem algum baixista na plateia?"

Assim, assumindo de improviso o lugar do músico que faltara, Nelson Hamerschlak, 63, mostrou os dotes que acabaram lhe rendendo convite para entrar na Skeletons –"mistura de esqueleto e tons"–, banda que toca Beatles. Isso faz 30 anos.

A Skeletons completa 50 anos em 2018.

A formação atual: no baixo elétrico, Nelson (coordenador de hematologia e transplante de medula do Einstein); na guitarra solo, Carlinhos (Carlos Roberto Jorge, hematologista do Hospital das Clínicas); na guitarra base, Zé (José Roberto de Paula, oftalmologista). O baterista, Kiko Carbone, é paciente dos três.

A banda se apresenta no bar Dois Irmãos, no Campo Belo, zona sul paulistana, a cada dois meses. A casa lota. "Meus pacientes gostam de me ver tocar. É uma maneira de nos aproximar, de ver que médico e paciente estão do mesmo lado."

Na playlist, um pouco de Jovem Guarda, Creedence Clearwater, Rolling Stones, mas principalmente Beatles, é claro. "Eles são 80% do repertório." A banda tem até fã-clube: uma turma que os acompanha desde que tocavam toda quinta no Bar da Virada, no Alto de Pinheiros, zona oeste.

Bruno Santos/Folhapress
Nelson Hamerschlak, coordenador de hematologia e transplante de medula do Albert Einstein
Nelson Hamerschlak, coordenador de hematologia e transplante de medula do Albert Einstein

O arranjo durou dez anos até que o bar fechou. "Fomos trocando de bar. É o ambiente onde gostamos de tocar, tem uma magia", analisa Nelson, que recusa convites para shows em casas de espetáculo e festas.

O pai do médico reformava pianos. "Ele não era músico, mas tinha sensibilidade musical." Sua irmã mais velha estudava piano; a do meio, já falecida, tocava violão.

Nelson começou a tomar aulas de violão. Ainda menino, com nove ou dez anos, formou a primeira banda, com os colegas do Colégio Batista Brasileiro, em Perdizes, zona oeste da capital. O nome era Bat Boys, homenagem ao super-herói Batman, e ele empunhava uma das guitarras.

Na época da Escola Paulista de Medicina, teve outra banda, da qual não se lembra o nome, e fazia parte da escola de samba Unidos de Vila Clementino, tocando surdão. "O famoso treme terra", brinca. "A música sempre foi meu hobby. Tenho a impressão de que a medicina tem ligação meio humanista com as artes. Há médicos que pintam, que escrevem poesias e livros e que tocam. Conheço muitos que buscam na arte uma válvula de escape."

Na casa de Nelson, a paixão pelos Beatles passou de pai para filho –e chegou até os netos. O mais velho, Marcio, 38, que mora em NY e trabalha no banco JP Morgan, é apaixonado por musicais. O mais novo, Eduardo, 36, é baterista e tem uma produtora de pós-produção de som para cinema e televisão. O neto americano, Cooper, 5, aprendeu as músicas dos Beatles no desenho "Beat Bugs", da Netflix. A pequena Olivia, 2, ficou fã depois de ver o espetáculo "Beatles para Crianças".

No fim de semana do feriado de 12 de outubro, Nelson e a mulher, Aninha, perderam o show de Paul McCartney em São Paulo. Quem viu foi Eduardo –eles ficaram cuidando de Olivia. "Teria adorado ir. Mas ficar de avô foi bom também."

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