Aeroporto reduz tempo de viagem de SP para a paradisíaca Jericoacoara

Foi o tempo de correr os olhos pelos jornais, tomar um gole de água e tirar um cochilo. Pronto! A cinza São Paulo desapareceu de vez, dando lugar à profusão de cores quentes do ensolarado Ceará.

Em três horas e meia, a aeronave partiu de Congonhas, na zona sul paulistana, e pousou no pequenino município de Cruz, vizinho de Jijoca de Jericoacoara.

Seu aeroporto, inaugurado em junho, cheira a tinta fresca, embora suas paredes estejam cobertas de lindas fotos de cartão-postal que nos fazem antever as belas paisagens que nos esperam logo ali adiante. De lá até Jeri são apenas 30 minutos de carro —o ideal é usar um 4x4, que vai enfrentar os solavancos e avançar destemido sobre o chão de areia.

Antes, o paulistano tinha de voar até Fortaleza e encarar mais de 300 km de estrada para chegar à vila. Saindo da capital cearense de ônibus e depois pegando uma jardineira, a viagem por terra podia demorar até sete horas. Agora, além da economia de tempo, tornou-se possível conhecer esse pedaço do paraíso sem ter de mergulhar numa aventura sujeita a alguns (inevitáveis) perrengues.

Jericoacoara é, sem favor, uma das mais belas praias do país. A natureza se desenha aos poucos: ruas de areia fofa levam a locais paradisíacos, onde o mar não se cansa do trabalho infindável de esculpir as rochas. Dunas ora vão de encontro ao oceano, ora abraçam lagoas doces com redes coloridas armadas dentro da água.

Juntem-se ao espetáculo natural o jeito descontraído de seus moradores, o sol constante e uma culinária baseada em peixe e frutos do mar. Isso é Jeri!

A temporada que se avizinha marcará o primeiro verão com conexão direta pelos céus São Paulo-Jericoacora por meio de voos comerciais (Gol e Azul, este partindo de Campinas) e voos charter (CVC).

Pelos cálculos da Secretaria de Turismo do Estado do Ceará, deve ter um incremento de 7% no número de visitantes. Em média, ela recebe 600 mil por ano.

Gabriel Cabral/Folhapress
Com mar azul-esverdeado, Praia do Forte é opção certeira no litoral norte da Bahia (3)
Praia da Vitória na região de Jericoacoara

Isso quer dizer que mais gente vai apreciar o colorido das pipas de kitesurfe e das velas de windsurfe. Os ventos da região fazem dela um ponto de encontro dos praticantes desses esportes náuticos, que saem de todas as partes do mundo para curtir a natureza de Jericoacoara.

Com isso, a antiga vila de pescadores, que ainda conserva seu ar rústico, ganha ares de cidade grande, onde se ouvem as mais variadas línguas. Mesmo assim, todos se entendem e se irmanam nas experiências mais simples, como a de subir a duna do Pôr do Sol para assistir ao espetáculo do fim do dia, em que a montanha de areia vai ganhando novas tonalidades sob a incidência da luz.

A duna, que é a mais famosa da região, tem forma de meia-lua. Com cerca de meio século de existência, ela vem se movendo de 10 m a 20 m por ano, graças à ação do vento. Hoje, parece desafiar o oceano, seguindo em sua direção.

Quando o sol dá lugar a um céu pontilhado de estrelas, é chegada a hora da capoeira. Há quem se contente em assistir aos passos ao som do berimbau e há quem se aventure a participar do jogo.

UTI

A noite pede drinques —e isso é o que não falta por lá. A Passarela do Álcool, como o próprio nome revela, é uma ruazinha repleta de barracas de bebidas, em que rola música e um bocado de gente dançando. As "caipifrutas" são sempre um sucesso: cachaça com caju, manga, abacaxi, seriguela..., mas a unanimidade é a "UTI", uma mistureba que leva três tipos de cachaça, vodca, tequila, catuaba, licores e pimenta dedo-de-moça, além de suco de cajá (R$ 25).

Os próprios vendedores anunciam o impacto da bebida que justifica o seu apelido: uma dose dela seria suficiente para deixar qualquer mortal com a cabeça na Lua e mais que isso pode mandar o pobre para o hospital.

Afinal, é bom reservar um pouco de lucidez para varar a madrugada no forró da Dona Amélia, programa das noites de quartas e sábados. Na área do salão, não existe teto. Nativos e forasteiros dialogam na linguagem da sanfona ou se deixam levar pelo aconchego de arrastar o pé a noite toda agarradinhos.

Na manhã seguinte, o mar estará lá sob o sol à espera dos esportistas e dos banhistas. Em Jeri, a alegria não tem descanso: tanto a despedida quanto a chegada do astro rei são motivo de festa.

Quem passou a noite na areia ainda pode correr até a pousada para pegar o café da manhã e seguir rumo à praia da Malhada, à direita da vila. Tranquila, é perfeita para banhos e caminhadas ou simplesmente para se jogar na canga.

Na maré baixa, é dali que segue a trilha até a principal vitrine de Jericoacoara: a Pedra Furada, curiosíssima formação esculpida pelas águas salgadas. Provavelmente, a maré vai estar cheia na hora de voltar para a vila, o que inviabilizará o retorno pela areia. O jeito é subir até o alto do Serrote, morro onde há um farol e de onde é possível pegar carona de charrete (R$ 15). Quem tiver pique pode seguir o passeio a pé. São mais ou menos 5 km, apreciando os jegues livres a pastar.

As lagoas de água doce compõem um capítulo à parte. "Pode apostar: é quase uma outra viagem", promete —e cumpre— Regis Lima, 43 anos, 12 deles como guia, ao referir-se às lagoas Azul e do Paraíso. Ambas exibem areia branquinha, água esverdeada e transparente.

A estrutura da lagoa Azul é pé na areia, enquanto a do Paraíso abriga o Alchymist Beach Club, megaestrutura montada na beira da lagoa, nos mesmos moldes das praias descoladas europeias.

A lembrança daqueles lugares que parecem pintados pela mão da natureza não abandona a memória de seus visitantes. No voo de volta a São Paulo, decerto,
elas continuarão a rondar a sua mente.

Difícil dispersá-las!

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DICA DE VIAGEM

Gabriel/Folhapress
Com mar azul-esverdeado, Praia do Forte é opção certeira no litoral norte da Bahia (3)
Barraca do Didi na praia da Tatajuba em Camocim

O nome dele é Edevandir de Souza Monteiro. Aprendeu a cozinhar com a mãe, dona Antônia, hoje com 69 anos, quando tinha dez anos de idade. Segundo de uma prole de dez filhos, o menino adorava preparar peixe cozido e grolado, como é chamada no Ceará a goma de tapioca com coco ralado, misturada na frigideira até virar uma farofa, para ser comida com peixe assado.

Há cerca de 20 anos, o ex-pescador Didi, 48, ganhou fama como o "Rei do Grelhado". Na sua barraca, lagostas ("abaixo de 13 cm são lagostins", explica) são grelhadas na churrasqueira, mergulhadas em cebola e alho ralados e manteiga de garrafa.

Peixe ou camarão, R$ 40. Lagosta, R$ 50 por pessoa, com água refrescando os pés e um visual de revirar os olhos

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QUEM LEVA

CVC
cvc.com.br; tel. 3003-9282.
A partir de R$ 2.098.
Inclui 7 noites em apto. duplo, café da manhã, aéreo direto e traslados

MEB Viagens
mebviagens.com.br; tel. 3283-6300.
A partir de R$ 2.568.
Inclui 7 noites em apto. duplo, café da manhã e aéreo

Submarino Viagens
submarinoviagens.com.br; tel. 3003-2989
A partir de R$ 1.888.
Inclui 4 noites em apto. duplo, café e aéreo

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