Conheça os responsáveis por manter a rua Avanhandava atrativa e iluminada

"O pessoal brinca que antes eu não tinha esses cabelos brancos", conta José Roberto Florentino, 41. Mas experimente passar 14 anos cuidando de uma rua inteira de dia e de três filhos adolescentes de noite para ver se as marcas de idade não chegam. É essa a rotina dele desde 2003, quando começou a trabalhar na Avanhandava, ponto gastronômico no centro de São Paulo.

Mas, para encontrá-lo, não adianta procurar por José Roberto. Entre seus colegas, ele é o Zé da Manutenção. O apelido vem da função: é ele quem conserta as calçadas feitas de pedra, deixa os restaurantes prontos para os clientes e troca lâmpadas coloridas de estilo retrô da rua.

Nascido em Pernambuco, chegou a São Paulo ainda pequeno junto com a família, de ônibus. Estudou até a oitava série e, como precisava trabalhar, dedicou-se à construção civil. Na Avanhandava, desembarcou jovem, chamado por um arquiteto contratado para fazer o projeto da Pizzaria Famiglia Mancini. Com o prédio pronto, em 2004, não saiu mais da via.

Rafael Morse/Folhapress
José Roberto Florentino, 41, e Josenildo dos Santos, 48
José Roberto Florentino, 41, e Josenildo dos Santos, 48

E não foram só os cabelos que mudaram. A rua também se transformou, ficou mais moderna e aconchegante —em 2007, o asfalto foi retirado entre as ruas Martins Fontes e Martinho Prado, a passagem para os carros ficou mais alta, mais próxima da calçada, semelhante a um boulevard. O lugar ainda ganhou portal de entrada, com fontes e plantas. Tudo custeado pelo empresário Walter Mancini, dono de sete estabelecimento na via, que atraem turistas principalmente do interior do Estado.

Mas um visitante desavisado pode não ver o Zé da Manutenção. É que seu expediente começa bem antes de os restaurantes abrirem. Como a limpeza da coifa —peça que leva a fumaça para fora do prédio— é antes do café da manhã dos funcionários, às 7h, ele sai do Jardim Tremembé, na zona norte, onde mora com três filhos, antes das 5h e pega lotação e ônibus para chegar.

É no centro que encontra Josenildo dos Santos, 48, seu parceiro de trabalho. "O Mancini brinca que somos ouro e prata, estamos sempre juntos", conta o colega. Ele também veio de Pernambuco, em um Opala, antigo modelo da Chevrolet, com mais cinco pessoas. Entre idas e vindas do centro nos últimos dez anos, viu que gosta mesmo é da Avanhandava. Lá, a fonte se tornou seu xodó —foi ele quem pintou.

Zé prefere os pilares da entrada, de cerca de três metros, que ajudou a construir na revitalização. "Posso falar para todo mundo que fiz parte da história da rua. Daqui a 50 anos, meus filhos vão passar aqui, ver os pilares e ter maior orgulho", gaba-se.

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