Novo Orfeu, na República, seduz com cozinha que flerta com o Brasil, mas falta apuro do gosto

De ares modernos, em estilo industrial (cimento queimado, pé-direito alto, estruturas de ferro aparentes), o novo Orfeu, do grupo Chez, ocupa um ponto na galeria do edifício Vila Normanda, no centro de São Paulo. Em um trecho no qual não circula carro, nas cercanias do Copan, eis um recuo tático que garante respiro ao afogadilho da avenida Ipiranga.

A proposta de seu cardápio também é simpática: traz traços da cozinha brasileira, com elementos como a tapioca, o feijão-fradinho, o milho. A entrega, porém, desaponta. No balanço, falta força aos sabores —vez ou outra, chegam a ficar apagados, sem o realce que lhes é digno.

É o caso do nhoque de vatapá com molho de moqueca e camarão fresco (R$ 46), que chega belíssimo à mesa, colorido e fumegante, embora sem exalar perfume. Parte de uma boa ideia, mas o vatapá resulta ultradenso, pesado e levemente adocicado —não nos leva aos sabores do clássico nem sinal do dendê. O molho no qual vem embalado é leve, para equilibrar, mas, de tão suave, perde o potencial —falta-lhe sal e picância (a pimenta à parte salva).

Preparada lentamente ao calor de uma grelha de carvão, a costela de boi compensa a monotonia do adalu que a acompanha (feijão-preto, fradinho, milho, aipim, azeite de dendê, R$ 58). De novo, parte de uma boa sacada ao homenagear o feijão, elemento vinculado à mesa de brasileiros de todo canto, mas deve não só em tempero como também falta acertar os tempos corretos de cocção de cada grão.

Um peixe (meca) alto e úmido vai empanado (meio rançoso) à mesa na companhia de quiabo (de textura elástica, borrachenta), inhame ralado (e não farofa, como anunciado no cardápio) e um caprichado vinagrete. O tartare de banana-ouro e o camarão (seco e defumado na casa, que devia emprestar sabor ao inhame) quase não aparecem (R$ 37).

Ganham em força e sabor a moelada (envolta em um molho rico e intenso, com gordura de pato, redução de vinho e um belo rôti, R$ 24) e o arroz Brasil, que remete a um belo mexidão ao combinar paio, carne-seca, cebola, tomate e queijo coalho. Molhadinho, em bom ponto e couve fresca e crocante por cima —faz-me lembrar dos canteiros mineiros, dos quais eram colhidas.

Sai-se bem, ainda, o bolinho de siri —embora haja certo excesso de gordura, fácil de concertar, tem bastante carne combinada a uma base de béchamel. A fritura se sai melhor na sobremesa: o bolinho de estudante vem sequinho, pronto para ser mergulhado num cremoso doce de leite.

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Orfeu
Onde: av. Ipiranga, 318, Bloco A Loja 3, República; tel. 3151-4682
Quando: de ter. a sex., 12h à 0h; sáb., das 12h30 à 0h; dom., das 12h30 às 18h
Avaliação: regular

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