| Rodrigo Damati | ||
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Neste Brasil de tantas cores e sabores, dividido por distâncias continentais, nem o arroz com feijão é capaz de unificar o país como o churrasco. Da minha infância no Paraná em que almoço de domingo se resumia a carvão e carne, acreditei por muito tempo que era uma preferência da região Sul. Até perceber que colocar uma carninha para assar, em todas as suas variações, pode ser considerada manifestação cultural das mais brasileiras.
Da laje à varanda gourmet, passando pelo espetinho de gato às boutiques de carne, nosso churrasquinho de todo fim de semana tem vários sotaques, mas fala uma língua bastante democrática em sua essência.
Há poucas coisas mais sedutoras do que o convite para acender o fogo. Sem antecedência e qualquer preparação, em poucos minutos, o mutirão se forma, o banquete se arma. Era para ser só uma picanha. E, de repente, tem linguicinha, coração, vinagrete, pão com alho, farofa de bacon. Posso levar um arroz. Tem cerveja suficiente? Tem, mas vai faltar.
De todas as saudades que sentia quando passei duas temporadas fora do Brasil, a maior delas era uma carne bem assada, na companhia de amigos. Tem em outros lugares do mundo? Tem, mas não é churrasco. Salsicha e hambúrgueres na grelha não contam. Carne de canguru também não, ainda que seja muito saborosa. Churrasco grego, vietnamita, chinês, turco? Sim, tem, mas não insista, não tem nada a ver como o nosso "churras".
O que conta aqui nem é tanto o sabor ou os cortes, ainda que a gente saiba como ninguém as manhas de prepará-los da maneira mais suculenta. O que transforma a combinação de carnes, sal grosso e bafo quente num evento é o calor das pessoas em volta de uma comida tão simples, mas tão agregadora.
No Brasil, a gente chega e vai ficando. E coloca mais carne para assar e mais gelo na caipirinha e mais cerveja no gelo. E encomenda mais bebida e pede para o vizinho trazer mais carne e chama mais um amigo e vamos ficando. O almoço emenda com o jantar. Churrasco não é só refeição, é celebração.