Copa do Mundo agita paulistanos com viagem marcada para a Rússia

Ano de Copa do Mundo é assim: todo mundo tira do baú as camisetas da seleção e traça planos para ver os jogos. Mas enquanto a gente revira as gavetas, a cabeça destes seis paulistanos já está na Rússia. Viajar para ver a Copa tem pitadas de alegria, de farra, de turismo, de suspense e de aventura.

Você só consegue programar a viagem até certo ponto –e não sabe como ela vai terminar. Claro que a aposta é ver o Brasil jogar até a final e, melhor, conquistar o nosso sonhado hexacampeonato. A aventura tem também uma boa dose de esperança para torcedores de diferentes times que, nesta hora, reúnem-se em torno de uma única paixão: a seleção do Tite.

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ROGÉRIO MIRANDA, 50
A primeira e última viagem de um carro

Gabriel Cabral/Folhapress
Rogério Miranda, 50
Rogério Miranda, 50

A Copa da Rússia vai começar na Inglaterra para o fotógrafo Rogério Miranda, 50. Ele combinou com um grupo de amigos londrinos -a turma com quem jogava futebol aos domingos nos dois anos e meio que morou lá- de percorrer de carro os 3.156 km de distância entre Londres e São Petersburgo.

A ideia era participar do rali da Mongólia, em que aventureiros viajam 15.000 km entre a capital britânica e a Sibéria, em carros pequenos e sem apoio logístico. Eles farão a sua própria versão da prova, num carro velho de fabricação britânica, adornado com a bandeira do Brasil. "Para não sermos confundidos com hooligans", explica.

Serão seis dias viajando. A primeira etapa é dirigir de Londres até Maastricht, na Holanda; de lá, até Potsdam, na Alemanha; depois até Gdansk, na Polônia; então até Kaunas, na Lituânia; até Tallinn, na Estônia, e por fim até São Petersburgo.

O grupo original tinha três pessoas, agora já há cinco interessados, e os amigos estão buscando um sexto elemento para viajar em dois carros, igualmente "baleados". "Vai ser divertido", diz ele, que já tem entradas para cinco jogos de seleções diferentes: França, Alemanha, Portugal, Brasil e Argentina. As partidas vão acontecer em São Petersburgo, Moscou e Sochi, cidade litorânea a 1.600 km de Moscou. "No fim de tudo, largamos o carro lá e voltamos de avião."

Esta será a segunda Copa para Rogério, que esteve na Alemanha (2006). Da do Brasil ele não participou, porque estava exatamente morando em Londres.
O são-paulino implica com o favoritismo eterno da seleção brasileira, mas dessa vez sente firmeza na condução do Tite. "Ele põe os jogadores com o pé no chão."

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ALBERTO DOUEK, 36
Tradição que passa de pai para os filhos

Gabriel Cabral/Folhapress
Alberto Douek, 36, e os filhos
Alberto Douek, 36, e os filhos

Ver a Copa do Mundo ao vivo é tradição familiar na casa de Alberto Douek, 36. A paixão pelo Palmeiras também é hereditária. "Meu pai veio do Egito com quatro anos, no fim da década de 1950. Levou a vida inteira os filhos aos jogos do Palmeiras."

Em 1990, quando os dois meninos ainda eram pequenos para viajar para um campeonato mundial,
o pai foi sozinho para a Itália.

Em 1994, levou Alberto, o mais velho, para os Estados Unidos. Em 1998, foram os três para a França. Depois viram juntos o campenato mundial na Alemanha, em 2006, no Brasil, em 2014, e agora na Rússia, em 2018.

"Minha relação com o futebol é intensa", diz ele, que tenta ver todos os jogos do Palmeiras e às vezes até viaja quando o time joga fora de São Paulo. "Agora comecei a levar meu filho de seis anos ao estádio."

A Copa na Rússia vai resgatar o triunvirato dos Douek. É que atualmente os irmãos Alberto e Daniel vão aos jogos do Palmeiras juntos, na arquibancada, enquanto o sr. Isacco prefere a numerada. "Não consigo ver jogo de futebol sentado. Fico muito nervoso", diz Alberto.

A família programou a viagem como das outras vezes, para ver a parte decisiva do campeonato, considerando que a seleção será a primeira do grupo.
"Vamos seguir o Brasil nas quartas de final, semifinal e final. A gente sempre acredita."

Claro que a intenção é ver o time de Tite campeão, mas Alberto conta que assistir a uma Copa é mais do que isso. "Em 2006, chegamos para as quartas de final, e o Brasil perdeu da França. A gente continuou na Alemanha e viu os outros jogos. Foi muito legal também."

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BRUNO CIRINO, 31
Tão longe, mas sem gastar tanto

Gabriel Cabral/Folhapress
Bruno Cirino, 31
Bruno Cirino, 31

O são-paulino Bruno Cirino, 31, provou o clima que envolve uma Copa na África do Sul, em 2010.
"Tive a oportunidade de viajar para um lugar que não planejava visitar e de conhecer o país num momento interessante, de festa. Descobri a África do Sul por conta do futebol. Foi uma experiência inesquecível."

Em 2014, para garantir que não perderia a festa brasileira, trabalhou como voluntário nas sete partidas disputadas na arena Corinthians. Agora, está de passagem comprada para a Europa, de onde dará um jeito de chegar até a Rússia, com ingressos garantidos para os três primeiros jogos do Brasil. Para fazer uma viagem gastando pouco, está de olho nos aplicativos e vai se hospedar em hostel. "Comer em restaurantes só uma vez ou outra, para ter noção dos sabores do país."

Esse esquema permite que combine sua realidade com a vontade de conhecer o mundo. Bruno já esteve na Rússia, no início de 2016. Desta vez, planeja ficar os 35 dias que durarem a Copa.

Enquanto muitos torcedores lamentam a ausência da Itália e da Holanda no campeonato, Bruno considera uma pena os EUA terem ficado de fora.
"Eles são um país muito grande, onde o futebol está crescendo de forma absurda. A eliminação penalizou o esporte. Foi uma tristeza para o futebol."

A aposta de Bruno para a final é Brasil e Bélgica. "Acho que vai dar uma zebra europeia."

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CAMILA ALÓ, 39
Torcedora vai aproveitar jogos para fazer turismo

Gabriel Cabral/Folhapress
Camila Aló, 39
Camila Aló, 39

Se é jogo do Santos, muito provavelmente você vai encontrar a professora Camila Aló, 39, na arquibancada. "Meu pai é santista, meus irmãos também. Todos os títulos do Santos eu vi no estádio."

E se é Copa do Mundo, procura direito que ela vai estar lá também. Camila acompanhou o campeonato mundial nos Estados Unidos em 1994 -quando o Brasil foi tetra, lembra-, na Alemanha em 2006, na África do Sul em 2010, no Brasil em 2014, e agora está de malas prontas para desembarcar na Rússia a tempo de ver, oxalá, a seleção disputar as oitavas de final, as quartas, a semifinal e a final. "Vou seguir o Brasil como se fosse o primeiro do grupo, como sempre é."

Camila faz parte da Torcida Canarinho, que começou na Copa da Alemanha e nos campeonatos mundiais se une com outros movimentos de torcedores para fazer barulho. Adora a parte da festa. "Você encontra gente do mundo inteiro, com o mesmo objetivo e a mesma paixão." Mas aproveita também para fazer turismo. "Pesquiso muito antes de ir e não dispenso conhecer o lugar."

Esta será a sua primeira vez na Rússia. No fim do campenato, ela pretende viajar mais uma semana pelo Leste Europeu, visitando países onde ainda não esteve. Talvez Romenia e Hungria.

Neste ano, pela primeira vez, Camila convenceu uma amiga a ir também. "Finalmente não vou ser a única mulher na viagem."

Na bagagem vai o seu xodó, a camiseta azul de 94. Ela costumava ter uma echarpe da sorte, presente de um holandês no jogo Brasil e Holanda, na Copa de 1994. "O Branco fez aquele gol de falta, o Brasil marcou 3 a 2 e avançou. Pensei que ia levá-la sempre comigo, mas na eliminação do Brasil para a Holanda na África, eu a arremessei longe. Acabou a sorte dela."

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GUILHERME TABACOF, 35
Cultura & energia

Gabriel Cabral/Folhapress
Guilherme Tabacof, 35
Guilherme Tabacof, 35

Guilherme Tabacof, 35, o Guiga, vai estar de férias na Europa bem na época da Copa. Convenceu o padrasto, que mora em Portugal, a ver ao menos duas partidas do Brasil na primeira fase do campeonato. "Não conheço a Rússia. Esta é mais uma razão.
Se estiver lá e me empolgar, posso ir ficando."

Guiga morou fora muitos anos -com a família na Bélgica, depois sozinho na Inglaterra, onde fez faculdade de administração e francês. Em 2014, acompanhou amigos ingleses que vieram assistir à Copa no Brasil. Foi aí que o corintiano ficou maravilhado com o clima da Copa do Mundo. "Não é um ambiente dividido, como no estádio. Misturar as culturas é muito divertido. A energia é muito boa."

O padrasto, meio-italiano-meio-belga, está "puto" porque a Itália não se classificou. Guiga acha que talvez seu lado belga tenha alguma chance de festejar. "Eles têm um time bom, mas na Copa a camisa pesa muito, e a Bélgica nunca ganhou."

No fundo de um baú em Portugal está sua coleção de camisetas de times, com mais de 20 exemplares. É de lá que vai tirar o uniforme para a Rússia, uma camisa do Ronaldo da Copa de 98 que usou em 2002. "Fiz mandinga com essa camisa e ela dá sorte."

Sorte é sempre bom: Guiga confia também no time de Tite. "Ele é um baita técnico. O Brasil sempre tem chance, mas tenho medo da Alemanha. Eles são um perigo, têm um drive vencedor que assusta."

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CASSIO ALVES, 32
Contagiado pelo clima da festa

Gabriel Cabral/Folhapress
Cassio Alves, 32
Cassio Alves, 32

"São-paulino, meu. Evidentemente", responde Cassio Alves, 32, à pergunta óbvia. "Vou a todos os jogos do São Paulo." Ele faz mais: escreve crônicas sobre o seu time no site Por Baixo das Pernas e defende o tricolor no programa Voz da Arquibancada, mesa redonda exibida no YouTube.

São-paulino "de maternidade", segue a paixão que começou com o avô pernambucano, que veio para São Paulo na década de 1930 e simpatizou com o time porque a camisa era parecida com a do Santa Cruz de Recife. Hoje, tem 95 anos e continua são-paulino.

Na Copa do Mundo do Brasil, em 2014, Cassio teve sua primeira experiência em campeonatos mundiais. "Estava muito difícil conseguir ingresso, não rolou nenhum para jogos do Brasil. Mas aquele clima contagiante de Copa nunca mais saiu de mim." Ali mesmo ele
decidiu que iria para a Rússia "com toda certeza".

Já tem ingressos para os três primeiros jogos do Brasil, contra a Suíça (dia 17 de junho em Rostov), Costa Rica (dia 22 em São Petersburgo) e Sérvia (dia 27 em Moscou). Já tem as passagens internas para a primeira fase do campeonato. Já sabe que vai com uma turma de 20 amigos. Não sabe muito mais do que isso.

"A diretora da empresa me disse que posso ficar fora no máximo 20 dias, mas se o Brasil passar para a semi-final, como vou conseguir voltar?"

Coordenador de marketing dos eventos do grupo Náutica, que organiza feiras de barcos, Cassio discorda de que o futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes. "Para mim, é muito importante dentre as mais importantes. Não é simplesmente torcer por um time. É um estilo de vida."

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