Ginásio do clube Paulistano, projetado por Paulo Mendes da Rocha, será restaurado

Localizado em uma área com um dos metros quadrados mais caros do país, o clube Paulistano, no Jardim Paulista, zona oeste de São Paulo, dará início a uma reforma com a qual promete se redimir de um pecado urbanístico do passado.

Seu ginásio esportivo, ícone da arquitetura brasileira, projetado em 1958 por Paulo Mendes da Rocha e desfigurado ao longo do tempo, será restaurado.

O maior arquiteto vivo do Brasil, hoje com 89 anos, tinha 29 e era recém-formado no Mackenzie quando se inscreveu em um concurso aberto pelo clube para escolher o projeto de seu ginásio. Em parceria com o colega João Eduardo De Gennaro (1928-2013), criou algo surpreendente.

A quadra poliesportiva está inserida em um anel de concreto com 35 metros de diâmetro que, sustentado por seis pilares presos à sua marquise, parece flutuar sobre uma plataforma retangular. A cobertura metálica, com uma claraboia translúcida ao centro, é presa de maneira tão sutil que a sensação é a de que paira sobre o círculo, sem se apoiar.

A base, também de concreto, mede 75 m x 60 m, totalmente livres e de onde se pode ver o entorno do bairro. Em um paradoxo à ideia de um clube fechado, conecta-se visualmente à rua, como uma praça elevada.
Batizado de Antônio Prado Júnior, o ginásio ficou pronto em 1961. Naquele ano recebeu o principal prêmio da 6ª Bienal Internacional de São Paulo.

Mendes da Rocha foi então convidado a trabalhar com Vilanova Artigas, que liderou a chamada escola paulista de arquitetura, marcada pelos prédios monumentais, o uso de concreto aparente e a austeridade dos acabamentos. "Com o ginásio, minha vida pública, enquanto arquiteto, estava inaugurada", disse à sãopaulo.

Premiado em 2006 com o Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura, viu sua primeira grande obra ser gradualmente descaracterizada. Diante da necessidade de mais espaço, o clube fechou a marquise, criando salas no que antes era um vão-livre, e construiu quadras na plataforma. Perdeu-se a visão do anel flutuante e a conexão com o entorno dada a partir da praça elevada.

Para a restauração, será preciso remanejar uma série de espaços, em uma ampla reforma aprovada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo, o Conpresp. O Paulistano pleiteou à prefeitura uma alteração na lei de zoneamento de clubes a fim de facilitar o remanejamento das atividades hoje abrigadas nas áreas alteradas do ginásio.

Quer subir a altura de seu prédio central, dos 20 m hoje permitidos para 28 m, e construindo um novo andar. Em razão da complexidade da tramitação de autorizações e da transferência das atividades com o clube em funcionamento, a obra, com gasto estimado em R$ 15 milhões, deve terminar em 2020.

Mendes da Rocha participou de quatro reuniões com o clube para discutir os detalhes do restauro, que resgatará as formas originais e contemplará novas questões, como a acessibilidade. Indicou para coordenar a recuperação Eduardo Colonelli, 66, que foi seu estagiário nos anos 1970 e, desde então, parceiro em projetos como a reforma da Pinacoteca do Estado e a capela da oficina Brennand, no Recife (PE).

Diretor de patrimônio do clube há dois anos, Gil Ferrari Bacos, 58, afirma que as alterações no ginásio ocorreram antes de seu processo de tombamento, de 2004. São, portanto, regulares do ponto de vista legal.

Mas os próprios sócios pleitearam o restauro. "Isso valoriza não apenas o clube, como o bairro e a cidade."

Bacos conta que pessoas do mundo todo procuram o clube pedindo para visitar o ginásio, o que não costuma ser autorizado em razão das alterações no prédio. Após o restauro, diz, visitações abertas ao público poderão ser consideradas.

Paulo Mendes da Rocha, que não é sócio e conseguiu concretar uma comunicação entre o clube fechado para seus 25 mil associados e o mundo externo, agradece.

ÍCONE DA ARQUITETURA
Ginásio Antônio Prado Júnior
Local: Clube Paulistano, São Paulo
Arquitetos: Paulo Mendes da Rocha e João Eduardo De Gennaro
Ano: 1958 (projeto) e 1961 (construção)
Prêmio: Vencedor da 6ª Bienal Internacional de São Paulo, de 1961
Características: Anel de concreto com marquise, sustentado por seis pilares sobre plataforma que se comunica visualmente com o entorno do clube e com a rua

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