Rota do Sol Nascente conecta pontos intocados ao agito do litoral cearense

Viagem pela Rota do Sol Nascente, no Ceará

O vento do Ceará e a velocidade dos carros parecem despentear as carnaúbas que acompanham os 130 quilômetros de asfalto entre Fortaleza e a famosa praia de Canoa Quebrada. Essas palmeiras, o rio Jaguaribe e algumas dunas no horizonte podem enganar o motorista: a CE-040, também conhecida como Rota do Sol Nascente, não é uma daquelas estradinhas que margeiam o litoral e mais parecem saídas de um sonho.

Na verdade, sobram caminhões e um canteiro de obras que há anos tenta duplicar a pista. A estrada, aliás, nem margeia a faixa de areia. De nenhum ponto é possível ver o mar. Mas não cruzá-la é o segundo erro.

Da rodovia é possível ir a algumas das principais praias do litoral cearense. Há opções para quem procura agito, como a adrenalina do Beach Park ou o fervo de Canoa Quebrada. E também pontos onde quem manda é a natureza –caso da escondida Canto Verde e das falésias coloridas de Morro Branco.

Cada um deles encontra-se a poucos minutos da estrada principal. Aí é só despejar cerveja no copo, pedir um peixe frito e descansar em frente às ondas e aos coqueiros. Pelo menos até que o álcool baixe e a viagem possa seguir até a próxima praia.

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PORTO DAS DUNAS
Lá de cima, surfistas parecem pontinhos no mar recheado de ondas, enquanto coqueiros se esforçam para ficarem firmes com o vento. É inevitável: a melhor vista da praia é do alto dos 41 metros de altura do escorregador Insano, a maior atração do Beach Park. O parque aquático (ingressos a R$ 220) não é apenas a principal atração do lugar e da cidade de Aquiraz, mas marca o início da viagem pela Rota do Sol Nascente.

BARRO PRETO
A apenas 20 km de Porto das Dunas mora o silêncio. Na praia de Barro Preto, os únicos acompanhantes dos turistas costumam ser o mar azul claro, as dunas amareladas e a areia branquinha -quase num tom prateado, por causa dos cristais nela misturados, que refletem o sol forte do litoral cearense. No fim da tarde, um ou outro morador da vila de pescadores surge para bater uma bola. Mas, ali, até o futebol é silencioso.

ÁGUAS BELAS
Assim que a maré baixa, todos saem da toca: são crianças, velhinhos, moradores e visitantes que aproveitam o terreno acidentado para mergulhar nas piscinas naturais que se formam durante a seca. O sol ajuda, pois aquece naturalmente a água e a deixa morna. Para não cozinhar, a saída mora ao lado. Basta mergulhar num rio de nome curioso: Mal Cozinhado, que faz curvas na areia e encontra mais adiante as ondas

MORRO BRANCO
Paredões alaranjados lembram paisagens distantes, como as do americano Grand Canyon ou até de Marte. Logo o mar, os pés de murici e os cajueiros trazem todos de volta -estamos no ponto alto da viagem, no Monumento Natural das Falésias. A atração, que parece um labirinto, estende-se por quilômetros, sempre beliscando o mar e com paredes feitas da areia colorida usada nas garrafinhas vendidas em feiras de artesanato.

BARRA NOVA
Barcos lagosteiros balançam suas gaiolas de ferro a cada movimento da maré, enquanto famílias assistem à cena devorando porções de iscas de peixes pegos no dia (R$ 20). Próxima a Águas Belas, a praia de Barra Nova ainda vive afastada da explosão de pousadas e do agito das barracas de praia, o que permite a quem visita suas areias dormir sob o céu estrelado ou praticar stand-up paddle em paz, no mar ou no rio Choró.

PRAIA DAS FONTES
Vizinho a Morro Branco, esse ponto do litoral de Beberibe é um oásis: das falésias brotam fontes de água doce que escorrem pelas paredes coloridas e ajudam a amenizar o calor (e a dar nome ao lugar). É lá que ficam os principais hotéis e resorts all inclusive da região, bem como a lagoa de Uruaú -hoje quase seca. Com a maré baixa, também é possível entrar na gruta da Mãe D'Água, esculpida nas rochas à beira-mar.

CANTO VERDE
Muitas vezes esquecida por quem cruza a rodovia rumo a Canoa Quebrada, a Prainha do Canto Verde vale a parada. Reserva extrativista desde 2009 e administrada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes), o lugar preserva o estilo das vilas de pescadores. À primeira luz da manhã, eles guiam seus barcos mar adentro. À tarde, atendem clientes nas agências de turismo comunitário. Ou descansam como se o próprio tempo não existisse.

PONTAL DE MACEIÓ
Um guaiuba frito, ligeiramente avermelhado e crocante, enfeita a mesa de quem busca sombra em um dos bares e restaurantes dessa praia de Fortim (R$ 40, para duas pessoas). De lá, caminhando na maré baixa na direção de Parajuru, logo chega-se à Praia das Agulhas. Sem energia elétrica, o local é procurado por mochileiros que desejam se isolar. Ou então por casais que buscam um cantinho.
entre as pedras.

CUMBE
Quando o bugue desliga o motor no alto da duna, é possível ver a foz do rio Jaguaribe, que corta o interior do Ceará. Ao lado estão o mangue, as lagoas e, finalmente, o mar. A apenas 20 minutos de Canoa Quebrada, última parada da CE-040, o Cumbe costuma ficar lotado aos domingos -principalmente de turistas e famílias de Fortaleza. Aproveite para provar os camarões criados em viveiros locais.

CANOA QUEBRADA
Quando a estrada chega a Aracati, todos os caminhos levam a Canoa Quebrada. O encerramento do roteiro é em uma praia badalada, cheia de hotéis e restaurantes, principalmente na rua Broadway. Mas são os entornos que encantam, acessados em passeios de bugue (a partir de R$ 120). Neles, é possível acelerar nas dunas, parar nas piscinas naturais e finalizar a viagem em uma tirolesa que deságua em lagoa de água doce (R$ 10).

Marcelo Pliger
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