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Luciane Uchôa com Gustavo no Google Campus |
Quando teve suas duas filhas mais novas, Li Saito ouviu vários "nãos" de sua chefe.
Como a então analista de comércio exterior saía de casa às 6h45 e ficava na rua até 19h, pediu para fazer home office em alguns dias da semana. Sem sucesso. Foi quando a mãe de Sofia, 6, e das gêmeas Elisa e Giovana, 2, abandonou o mundo corporativo para abrir a própria empresa, a Desenvolver Brincando. Hoje, aos 31 anos, ela oferece consultoria sobre desenvolvimento infantil.
Sua rotina de trabalho acontece no escritório compartilhado do Google Campus, no Paraíso. Cercada de startups, sentia-se um peixe fora d'água. "Me achava pequena perto de tanta gente fazendo coisas tecnológicas, tinha até vergonha de levar minhas filhas lá."
Com o tempo, a empreendedora ganhou confiança. Participou de um programa de aceleração de negócios e passou a ter mais contato com outras mães na mesma situação. Levar as crianças se tornou mais fácil. Em março, um espaço infantil foi inaugurado no local, batizado de Family Lounge. Hoje, a Desenvolver Brincando acumula receita de R$ 50 mil desde que foi lançada, em setembro de 2017.
Conciliar maternidade e trabalho é uma equação difícil. Segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2016, 83,8% das crianças de até quatro anos têm como responsável principal uma mulher. "Mães muitas vezes precisam fingir que não têm filhos no período de trabalho", diz a professora e especialista em empreendedorismo Alice Salvo Sosnowski.
Estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de 2017 mostra que quase metade das mulheres abandonam os empregos após terem filhos. Entre as empreendedoras, 75% tomaram a decisão de empreender depois da maternidade, diz pesquisa da Rede Mulher Empreendedora de 2017.
É aí que os escritórios compartilhados (ou coworkings) surgem como alternativa, por propiciarem flexibilidade. Além do Google Campus, há espaços como a Casa de Viver, na Vila Mariana. Ali, o primeiro andar recebe as crianças, com cuidadoras, brinquedos e cozinha. No segundo, funciona o coworking –onde os filhos não têm acesso. Outro lugar é a B2Mamy Space. A empresa conta ainda com um programa de aceleração de negócios voltado para mães empreendedoras.
A Ancev (Associação Nacional de Coworking e Escritórios Virtuais) estima que, em 2017, existiam no Brasil cerca de mil escritórios compartilhados –28% deles em São Paulo. Do total de usuários, 40% são mulheres. Mas apenas 2% possuem espaços adaptados para crianças.
Luciane Uchôa, 38, é uma das frequentadoras do Google Campus. Mãe de Manuela, 9, Enrico, 2, e Gustavo, de quatro meses, ela largou o emprego de produtora-executiva de reality shows para criar a empresa Minha Mãe Mandou, uma vitrine virtual de produtos infantojuvenis que reverte parte dos lucros a causas sociais.
"Algumas pessoas até conhecem o choro do Gustavo", diz. Segundo a empresária, a convivência é pacífica, mas ela toma cuidado para que as crianças não atrapalhem. "Sei que mães são minoria", diz.
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FIQUE ESPERTO
Family Lounge (Google Campus)
Onde: r. Coronel Oscar Porto, 70, Paraíso; seg. a sex., 9h às 19h
Babás: não oferece
Preço: gratuito (é necessário ser um membro cadastrado do Google Campus)
campus.co/sao-paulo
Casa de Viver
Onde: r. Dr. Thirso Martins, 280, Vila Mariana; seg. a sex., 8h30 às 17h30
Preço: R$ 25 (hora), R$ 672 mensais (quatro horas, duas vezes por semana) e R$ 1.920 por mês (pacote completo)
Babás: Sim, incluído no preço
casadeviver.com.br
B2Mamy Space
Onde: r. Berta, 300, Vila Mariana; seg. a sex., 9h às 18h
Preço: de R$ 50 (diária) a R$ 600 mensais (pacote completo)
Babás: empresa contrata a startup Click Babá e divide custos
b2mamy.com.br
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