'Sou uma nova mulher', diz nonagenária que ainda estuda e planeja uma exposição de arte

Fany Corrêa Cavalcanti, 93, moradora de Anália Franco, na zona leste

Os três filhos costumam brincar e dizer que ela "é terrível". O adjetivo foi a tradução que eles fizeram das palavras do pai deles, morto há 18 anos, que costumava disparar: "Fany, você tem coragem de mamar em
onça parida".

Para uma mulher que nos anos 1940 peitou o marido e abriu sua própria loja e, depois de ver a cria formada, pediu licença e foi estudar, formou-se em educação artística e virou professora, a onça não passava de um gatinho. Serelepe, Fany não para. Dias desses, voltou às aulas de inglês. "Do you like coffee?", pergunta.

Anda bolando sua própria exposição de aquarelas. "Quero fazer algo que expresse o meu interior." A prioridade é aprender.

Namoro está fora do radar. O último deles rolou três anos atrás. Antes de engatar qualquer proposta, fez questão de certificar-se de que o candidato, de dentes impecáveis, não tinha mau hálito. Mas a relação não foi adiante. "Me sufocava." Mais: "Ele ganhava menos que eu". "Será que posso falar isso?", pergunta. "Ultimamente ando me policiando, porque a língua é um veneno", ensina, com a experiência de quem sempre disse o que lhe deu na telha. "Eu era como uma criança sem educação."

Mudar de personalidade está fora de cogitação. "Sempre fui muito espontânea. Ainda mais hoje, que sou um nova mulher."

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