Aos 91, funcionário mais antigo do grupo Fasano diz que não consegue ficar parado em casa

Ático Alves de Souza, 91, morador do Bairro do Macedo, em Guarulhos

"Aqui é o lugar onde gosto de estar, ouvir e contar histórias, que me ajudam a entender um pouquinho dessa cidade tão grande. Acho que daqui eu tento compreender o mundo. É a minha vida", explica seu Ático, funcionário mais antigo do Grupo Fasano, no qual ele trabalha há 27 anos.

"Minha paixão é trabalhar. Às vezes, penso: será que não chegou a hora de parar? Chegou não. Comecei aos oito anos na roça. Não consigo ficar parado em casa", diz ele. Na cidade que vem sendo apresentada a ele desde os anos 1940, arranjou o primeiro emprego como "rala-pescoço" –servente de pedreiro– na Lapa, zona oeste da capital. Logo, tornou-se garçom do antigo Ca'd'Oro. 

Foi um pulinho para virar maître. Diz, sorrindo: "Servi de reis a plebeus". Nesta vida, sabe bem, nem tudo é trabalho. Seu Ático guarda um segredinho que gosta de compartilhar bem baixinho, quase ao pé do ouvido, na tentativa de explicar sua longevidade: "É o amor de uma mulher", sorri, com certo constrangimento, ao referir-se à dona Dolores, a mulher com quem é casado há 60 anos. 

"Ela nunca me disse uma palavra feia. Nem eu disse a ela", afirma o baiano. Teve três filhos, que lhe deram cinco netos e três bisnetos. "Se contar, ninguém acredita: nunca brigamos." Acha que a mãe, Francisca, que morreu em 1982 aos 92 anos, também ajudou. "Mais que tudo", diz ele, "é não ficar parado".

Semianalfabeto –estudou por 45 dias em sua terra natal, Monte Santo, aprendeu a memorizar as palavras no painel dos ônibus. Da avenida Faria Lima, perto do restaurante Parigi, onde trabalha, segue para o Tucuruvi. De lá, para Guarulhos, numa viagem de duas horas. Não reclama. "Para onde precisar ir, eu vou, me viro, pergunto e chego!"

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