Ex-metroviário, mágico compartilha 50 anos de truques com paulistanos

Rodrigo Capote/Folhapress
Mágico Geraldin, 72, tem 52 anos dedicados às artes mágicas

Mágico não morre de fome, garante Geraldo Coelho, mais conhecido como Mágico Geraldin. "Se você estiver ferrado, com fome, vai num restaurante e fala: 'Deixa eu fazer umas mágicas pros teus clientes e você me dá um prato de comida'. Não há um que vai negar. Hoje tem muito mágico que trabalha em restaurante, ganha o cachê e o jantar depois, fora a caixinha que muita gente acaba dando."

Aos 72 anos, 52 deles dedicados às artes mágicas, Geraldin é um dos mais conhecidos e respeitados mágicos do país. Mas nem sempre foi assim. Durante quase quatro décadas ele fez o que boa parte dos artistas fazem: manteve um emprego formal para sustentar sua arte.

Já trabalhou como torneiro mecânico na Companhia Siderúrgica Paulista, foi funcionário da Fiat e supervisor de manutenção no Metrô de São Paulo. Isso tudo nos dias e horários comerciais, é claro. Aos fins de semana, ele dava seu show.

Foi o trabalho o que o fez migrar de Santos para São Paulo, em 1975. Na época, ele acabava de retornar do Congresso Italo-Franco-Suíço de mágicos. Esteve na Itália por conta de seu trabalho na Fiat e aproveitou para se infiltrar nas sociedades mágicas do país.

"Eles eram muito especializados por lá e cheguei fazendo cigarro, carta, dedal, moeda... tudo. Aí me emprestaram os materiais e me chamaram pra participar do congresso, mas nem imaginava o que ia acontecer."

Geraldin voltou com os prêmios de melhor manipulador e melhor micromagia. Foram seus dois cartões de visitas para os mágicos da capital paulista.

"Já tinha relação com o pessoal daqui. Desde 1964 vinha pra cá fazer cursos, estudar com o Pavlovich, um eslavo especialista em manipulação. A adaptação à cidade foi fácil."

O trabalho no Metrô o fez fincar raízes na em São Paulo. Ele não tinha preferências por bairros, mas deu sorte: "Foi um acaso ter parado na zona sul. Estava procurando um lugar pra morar e encontrei uma casa bem tranquila, e o melhor era que conseguia pagar."

Foi também na zona sul, no Jardim Prudência, que estabeleceu a sede de sua empresa, a Art Magia. A região, antes tranquila, foi ganhando grandes prédios e imponentes avenidas, verticalizando-se à medida que trocava o verde dos descampados pelo cinza do asfalto. Mas nada disso preocupa Geraldo, afinal ele vive e trabalha num lugar estratégico: "O que me agrada aqui é que estou na boca da Imigrantes, como tenho família em Santos, fica fácil ir pra lá".

Rotineiramente, como num passe de mágica, Geraldo desaparece e então ressurge na beira da praia, ao lado dos seus.

Sequer a aposentadoria, em 1998, o fez cogitar deixar São Paulo. "Aí é que tive tempo pra viajar mais e fazer mais shows. Pude me dedicar exclusivamente à mágica." Mas não apenas à sua mágica: ele também é vice-presidente da Associação de Mágicos de São Paulo (AMSP), que, na carência de uma sede, faz suas reuniões quinzenais na Funarte, em Campos Elíseos, na região central.

"A gente faz palestras e aulas pra ensinar técnicas mais elaboradas. Os mágicos mais antigos ajudam os mais novos."

Entre os mais novos, mas já com dez anos de estrada, está Leo Pedroso, 28, mágico que Geraldin aponta como um grande talento da nova geração. "A gente se conheceu há uns cinco anos, num evento chamado Mercado Mágico. Trocamos muitas ideias, especialmente na AMSP. Ele trabalha bastante com o humor e é um exímio manipulador, aprecio muito o show dele."

A manipulação, segundo Geraldo, é a menina dos olhos de todo mágico. "É como um malabarismo, mas tudo o que o malabarista faz na sua frente, o mágico faz escondido. É tudo feito puramente com a habilidade manual."

Já devidamente traquejado na mágica diária de fazer os boletos desaparecerem ao encantar o público com a habilidade de suas mãos, ele agora está reformando a sede da sua empresa e vislumbra bons ventos para quem deseja aventurar-se nesse mercado. "Hoje, o cara tem tudo na mão. Tudo o que não tínhamos: videoaula, conferências, congressos, associação... fora o YouTube. É só querer."

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