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12/07/2010 - 11h10

O romance em versos de Pushkin

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MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

A literatura russa é um fenômeno editorial, com a ampla repercussão de obras de Gógol, Dostoiévski, Tolstói e Tchekov em traduções feitas do original. Faltava a versão da obra-prima de seu fundador: "Eugênio Oneguin", de Alexandr Pushkin (1794-1837).

Já havia livros de Pushkin por aqui: a coletânea de contos "A Dama de Espadas" (Editora 34), as peças de "Pequenas Tragédias" e o drama histórico "Boris Godunov" (ed. Globo).

Nenhum deles oferece as dificuldades de "Eugênio Oneguin", caso único, entre os clássicos da literatura moderna, de um romance escrito em versos. A matéria-prima de Pushkin, entretanto, nada tem que ver com os épicos da Antiguidade. Trata-se de um enredo de desencontro amoroso com elementos do romantismo literário.

Oneguin é um "dandy", um nobre galante calcado na figura do poeta inglês Byron, que alterna momentos de dissipação com o "spleen", o tédio de quem viveu a intensidade a ponto de perceber seu vazio. Ele conhece o poeta Vladimir Lenski e as irmãs Olga (prometida de Lenski) e Tatiana Lárin, que se apaixona por Oneguin e escreve uma declaração que ele rejeita.

Durante um baile, Oneguin corteja Olga e é desafiado a um duelo por Lenski, que morre no confronto. Não há vilania em Oneguin, apenas uma altivez aristocrática cuja frivolidade ele percebe no momento em que reencontra Tatiana já casada e madura, uma "majestosa legisladora de salões", tão fiel ao marido quanto ao amor juvenil a que renuncia.

A singularidade do livro está na forma: estrofes compostas por sonetos sem divisão de quartetos e tercetos --com os 14 versos formando microcapítulos cadenciados por rimas seguidas com notável rigor pelo tradutor Dário Moreira de Castro Alves.

Detalhe fundamental: não é só a primeira versão da obra de Pushkin no Brasil. É a primeira tradução para língua portuguesa. Deve ser saudada como acontecimento histórico.

LIVRO
"EUGÊNIO ONEGUIN" **
AUTOR: Alexandr Pushkin
TRADUÇÃO: Dário Moreira de Castro Alves
EDITORA: Record
(288 págs., R$ 47,90)

CONEXÃO

DISCO
"EUGEN ONEGIN"
Na interpretação da Staatskapelle Dresden, sob a batuta de James Levine, a ópera de Tchaikovsky permite ouvir como o texto de Pushkin soa na língua original.
Autor: Pyotr Ilyich Tchaikovsky
Distribuição:
Deutsche Grammophon
(R$ 145,60, CD duplo)

DVD
"PAIXÃO PROIBIDA"
Essa adaptação (cujo título em inglês, "Onegin", não esconde sua fonte pushkiniana) tem Liv Tyler e Ralph Fiennes, irmão da diretora, como protagonistas.
Direção: Martha Fiennes
Distribuição: Escala (R$ 19,90)

PARA LER NO VAZIO EXISTENCIAL PÓS-COPA

1.Monólogo de uma personagem que se retrata de sua soberba nas ruas de Amsterdã (na Holanda), deveria ser leitura obrigatória para os evangélicos de Dunga.
"A QUEDA" **
Albert Camus
(Record, 1997, R$ 32,90)

2. Nada melhor do que a Bíblia existencialista para nos preparar contra as contingências desse mundo sem a Providência dos deuses com chuteiras.
"O SER E O NADA" **
Jean-Paul Sartre
(Vozes, 2005, R$ 109,70)

3. A trupe grotesca de Arlt, zanzando pelos arrabaldes de Buenos Aires, estaria mais completa com o "pibe" Maradona.
"OS SETE LOUCOS E OS LANÇA-CHAMAS" **
Roberto Arlt
(Iluminuras, 2000, R$ 71)

4. No conto que dá título ao livro da Nobel sul-africana, um professor escuta, atônito, o locutor de rádio apresentar o compositor alemão como descendente de negros. Reparação pós-apartheid ou profecia?
"BEETHOVEN ERA 1/16 NEGRO" *
Nadine Gordimer
(Companhia das Letras, 2009, R$ 43,50)

5. Escritor do único país sul-americano nas finais da Copa, o uruguaio Galeano exorcizou quase todos os demônios do imperialismo: só esqueceu da Fifa e seus avatares terceiro-mundistas.
"AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA" **
Eduardo Galeano
(Paz e Terra, 2007, R$ 50,50)

FILMES

"O MARIDO DA CABELEIREIRA" **
Patrice Leconte (Lume, R$ 39,90)
Nessa pequena obra-prima, um menino se apaixona pela cabeleireira do bairro; maduro, o personagem de Jean Rochefort revive a paixão com outra cabeleireira (Anna Galiena), muito mais sensual. O salão é um cenário para devaneios, reminiscências e coreografias ao som de uma música árabe cuja irônica e exagerada sensualidade transforma a entrega amorosa num ato gratuito, em que a adoração advém do prazer de adorar.

"AS LOUCAS AVENTURAS DE RABBI JACOB" **
Gérard Oury (Versátil, R$ 37,50)
O impagável comediante Louis de Funès vive um francês xenófobo e antissemita que, após demitir o chofer judeu à beira de uma estrada, torna-se refém de um terrorista árabe e é obrigado a se passar por rabino durante uma festa da comunidade hassídica de Paris. Pastelão genial, que anteviu nos longínquos anos 1970 o antídoto para os fundamentalismos e as intolerâncias atuais: a sátira.

LIVRO

"RESSURREIÇÃO" **
Leon Tolstoi (Cosac Naify, 432 págs., R$ 79)
Último grande romance do autor de "Guerra e Paz", "Ressurreição" foi escrito após a crise religiosa que levou Tolstói a abraçar uma forma primitiva de cristianismo. Seu protagonista é um nobre que seduz uma criada, levando-a à prostituição. Anos depois, ele a reencontra quando participa do julgamento em que ela é acusada de assassinato. A reparação do erro servirá de moldura para pregações morais, mas também para uma anatomia da sociedade russa que ultrapassa qualquer credo.

DISCO

"JOSEPH HAYDN SONATAS" *
Nicolau de Figueiredo
(Passacaille, R$ 110 em lojas importadoras)
Compositores como Haydn, Mozart e o Beethoven da primeira fase transformaram o piano em instrumento por excelência do classicismo e em suporte da forma sonata. Este disco do cravista brasileiro Nicolau de Figueiredo (premiado por suas interpretações de Haendel e Scarlatti) traz as sonatas escritas por Haydn especificamente para o cravo, com sonoridades que tornam menos acentuadas suas rupturas estruturais em relação ao barroco.

 

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