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20/08/2010 - 19h10

Quem tem medo de Paula Lavigne?

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ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO

A estante repleta de livros ocupa uma parede inteira do amplo apartamento na Vieira Souto, zona sul do Rio. O endereço, que era do casal Caetano Veloso e Paula Lavigne, hoje é a casa dela e dos filhos, Zeca, 18, e Tom, 13. "Os livros são todos do Caetano. Não li nenhum", ela avisa. Quando perguntam qual o último que leu, dispara: "Contratos, meu filho".

Fernando Young/-
Com franqueza e bom humor, Paula Lavigne recebeu Serafina para duas rodadas de conversa
Paula Lavigne recebeu Serafina para duas rodadas de conversa que mostram as várias Paulas que nela habitam

Quem fala é a Paula Lavigne empresária. Um entre tantos cartões de visita com os quais ela se apresenta aos 41 anos. "Na minha vida, tudo muda muito rápido. Não sei mais quem eu sou. Não tenho essa estabilidade toda", diz.

Nem no divã encontrou respostas. "Não tenho paciência para ficar falando de mim. Quando vejo, já tô mentindo na análise."

Com franqueza e bom humor, ela recebeu Serafina para duas rodadas de conversa. Ao final, um retrato das várias Paulas que convivem sob a mesma pele.

EX-MULHER

Quando permite ser olhada para além da personagem poderosa e temida que criou para si, Paula se mostra ainda fragilizada pela separação, em 2005, depois de 21 anos de casamento. "Espero que a dor passe. É como perder um braço, uma perna. Sinto falta da presença dele. A gente se fala o dia todo, mas é diferente."

Profissionalmente, não houve divórcio. "Caetano é sócio em quase tudo da minha vida."

Difícil é lidar com a repercussão. "Ele é indiscreto, fala e bota nas músicas o que sente." Como fez na canção "Odeio". "Não sei se foi toda para mim, mas a parte que me cabe não foi legal. Quando ouvi pela primeira vez, fiquei mal."

PRODUTORA

Às voltas com o lançamento do filme "O Bem Amado", de Guel Arraes, ela está no comando. "A maioria das pessoas que faz cinema quer ser artista. Paula não. Ela gosta do negócio e tem vocação para isso, organiza o set, corre atrás de tudo", diz o diretor. A dupla fez três filmes. "Brigamos e fazemos as pazes o tempo todo. Uma vantagem é a Paula não ter superego, ela vai narrando tudo o que está pensando."

É quando baixa o espírito do avô materno, o general Mafra. "Nasci para mandar."

A dona da Natasha Filmes acumula sucessos comerciais, entre os quais "Lisbela e o Prisioneiro", que teve 3,5 milhões de espectadores. "Ter sido mulher de Caetano e ser a empresária dele abre portas", reconhece. "O negócio é mantê-las abertas."

EMPRESÁRIA

Ao final das filmagens de "O Bem Amado", para o qual captou R$ 8 milhões pela lei de incentivo, aproveitou cenário, figurino e técnicos para realizar um segundo longa. "Fiquei deprimida ao imaginar toda aquela produção jogada fora."

Procurou o diretor Mauro Lima (de "Meu Nome Não É Jonnhy") e fizeram um mutirão. "O elenco topou participar de graça para receber depois", conta Paula. Uma turma de peso: Rodrigo Santoro, Selton Mello, Cauã Reymond. Investiu R$ 700 mil do próprio bolso em "Reis e Ratos", ainda sem data para ser lançado.

BARRAQUEIRA

Aos dez anos, ela já armava a barraca, literalmente, em frente à casa onde morava, na Urca. "Vendia tudo que o povo lá de casa não queria mais", conta. "Meu pai acabava de ler a 'Veja', eu já revendia a revista no próprio domingo. Tinha essa noção de me virar."

Barraco mesmo foi ter derrubado o portão da garagem do flat para onde Caetano havia se mudado durante a separação. Tinha ido fazer a mala dele, quando o porteiro disse que ela não tinha autorização para entrar. "Acelerei. É o meu lado maluco, arrogante. Não acho bacana ter derrubado o portão."

Os filhos apelidaram o BMW blindado de Paula de "caveirão", como são chamados os veículos da PM usados para invadir favelas dominadas pelo tráfico.

DIVERTIDA

Quando andava sem saco para as sessões de análise, resolveu aparecer com uma amiga a tiracolo, para, digamos, uma espécie de "ménage" psicanalística. "Fala, aí", instruiu, ao trocar de lugar no divã, para espanto do psicanalista e da convidada.

Diverte-se também quando responde sobre Paula Burlamaqui. "Nós somos as sapatas mais fiéis do mundo", diz, sobre a amizade que foi apontada como "affair" na época da novela Explode Coração" (1995). "É puro preconceito por ela ser bonita e ter sido capa da 'Playboy'."

SARADA

O corpo malhado rendeu vários convites para posar nua para a "Playboy". Todos recusados. "Estou até deprimida, faz dois anos que não me chamam."

Chegou a engordar 28 kg na gravidez. "Quando tive meu primeiro filho, Caetano apontou para minha barriga e disse: 'Isso aí não tem mais jeito'." Desmentiu o prognóstico com muita malhação e cirurgia plástica. Depois da segunda gestação, apelou para a lipoaspiração e para o silicone. "Fui para o boxe, consertar a lanternagem. Troquei o que precisava."

OBSESSIVA

Paula não esconde as próprias neuroses. "Sempre fui pilhada, obcecada, querendo organizar as coisas." Na adolescência, era quase um compêndio ambulante de psiquiatria. "Já fui disrítmica, DDA [portadora de transtorno de deficit de atenção), hiperativa. Cada hora tem uma moda, e eu me encaixo em todas", diz. "Agora, sou bipolar."

E reconhece: "Se não tivesse encontrado o Caetano, talvez eu estivesse em um hospício. Ele salvou a minha vida, pois valorizou o que tenho de legal." Por e-mail, o ex-marido ressalta as qualidades de "Paulinha". "Ela é inteligente e estimulante. Vejo traços disso em nossos filhos e gosto", diz Caetano. "Ela é também muito engraçada e cúmplice. Mas é fechada para quem não está mesmo perto dela. Tinha horas que pensava que só eu a conhecia."

MÃE

Paula se sente à vontade como mãe de meninos. Conta orgulhosa que Zeca vai fazer vestibular para produção musical. "Ele já ganha o dinheirinho dele como DJ." Tom é louco por futebol. Jogou nos times de base do Flamengo e do Fluminense. "Ele não gosta de música, mas joga bem. É atacante."

O fato de os filhos começarem a se desgarrar a incomoda. "Essa fase é tristíssima. Eles já não querem muito saber de mim. Mas, por outro lado, dá um certo orgulho de ver que suas crianças já são independentes."
Existe ainda a "Mãe Paula". "Ela não produz só o Caetano", diz Paula Burlamaqui. "Ela chega e vai logo organizando a vida de todos os amigos. A minha melhorou muito por causa dela."

DESPACHADA

Não fez cerimônia com o presidente Hugo Chávez, quando Caetano teve um caminhão roubado na Venezuela há uns quatro anos. "Você não manda nesse negócio aí como diz que manda", relata Paula sobre a conversa com o "comandante" pelo telefone. Os equipamentos nunca foram achados, mas o recado foi dado. "Eu não me levo a sério", diz. "Não tenho essa vaidade." Um episódio que é a síntese de todas as Paulas.

 

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