Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Acompanhe a sãopaulo no Twitter
24/09/2010 - 17h53

Bailarino Mikhail Baryshnikov traz suas sapatilhas para o Brasil

Publicidade

ANA FRANSCISCA PONZIO
DE NOVA YORK

O termômetro caminha para 40 graus em Manhattan. É manhã de uma quinta-feira, e Mikhail Baryshnikov, lenda viva da dança, chega ao centro cultural que leva seu nome: o Baryshnikov Arts Center, ou simplesmente BAC.

Tira o chapéu de palha que o protege do sol e entra discretamente no quinto andar, sede da administração. Fundado em 2005, o BAC, diferentemente do que se imagina, não é uma companhia de dança, mas um espaço que Baryshnikov dirige e oferece, por meio de bolsas, com todo suporte de produção necessário, para a massa de bailarinos, atores e músicos sem um estúdio para chamar de seu. O centro também dispõe de auxílio e residência, quando necessários --uma espécie de bolsa-artista.

RomanLeo
Aos 62 anos, Baryshnikov, que se exilou da União Soviética, tem um corpo tão esguio quanto o que exibia na juventude
Aos 62 anos, Baryshnikov, que se exilou da União Soviética em 64, tem corpo tão esguio quanto o que exibia na juventude

O bailarino, que dirigiu durante uma década o American Ballet Theater (uma das cinco melhores companhias de dança do mundo), explica: "Nos Estados Unidos, tudo é baseado no negócio, no lucro. Mas o que fazemos aqui não é business. Quero que os artistas trabalhem em liberdade".

O BAC ocupa quatro andares de um edifício no outrora degradado bairro de Hell's Kitchen (que, por significar "Cozinha do Inferno", inspirou o título do "reality show" gastronômico de Gordon Ramsey). O teatro do centro, Jerome Robbins, recém-inaugurado no terceiro andar do prédio, completa a estrutura, cuja programação inclui o grupo residente Wooster Group, companhia que aflorou nos anos 1980, com uma mistura de teatro, dança e loucuras audiovisuais.

Comandado pela diretora de teatro Elizabeth LeCompte, o Wooster marcou o imaginário de Baryshnikov logo que ele chegou aos Estados Unidos, há quase 35 anos. "Meu inglês era limitado, mas o trabalho me fascinou porque ia além do texto falado. Passei a acompanhar tudo o que o Wooster fazia", conta. Hoje, o ecletismo aprendido com o grupo se faz sentir na diversidade artística que habita o BAC.

Aos 62 anos, o bailarino prodígio, cuja fama começou a se espalhar pelo mundo quando, em 1974, ele se exilou da União Soviética, tem um corpo tão esguio quanto o que exibia na juventude. Continua fazendo sucesso no palco. Embora já tenha bebido nas mais diversas fontes e interpretado coreografias de autores modernos e contemporâneos, ele afirma que hoje já não busca obras que representem novidade. "Danço profissionalmente desde os 18 anos, mas ainda tenho um naco de tempo. Vivo talvez minhas últimas chances de dizer algo no palco", afirma, sem estabelecer quando pretende parar.

EM CARTAZ

O novo espetáculo de Baryshnikov --a ser apresentado no Brasil em outubro--reúne obras de dois jovens coreógrafos: o norte-americano Benjamin Millepied e o russo Alexei Ratmansky. O programa já passou, neste ano, por parte da Europa, por Israel e pelos Estados Unidos.

A partir do dia 19, quando estreia em São Paulo, no Teatro Alfa, Baryshnikov dançará em Porto Alegre, no Rio de Janeiro, em Brasília e em Manaus. Ele não reclama da rotina intensa. Diz que o período de suas férias de verão, quando costuma ficar com a família na casa de praia em Punta Cana, na República Dominicana, é suficiente para recarregar as energias.

Fora da época de férias, ele trabalha e treina com disciplina. Para manter-se em forma, isola-se em um dos estúdios do BAC, onde se exercita durante três ou quatro horas por dia, ministrando uma aula para si mesmo. Em sua rotina, também despende boa parte do tempo assistindo a vídeos ("muitos!") enviados por coreógrafos interessados em trabalhar no centro cultural. Ele também é espectador assíduo dos espetáculos em cartaz em Nova York, seja no Lincoln Center, seja nos teatros experimentais. "É difícil afirmar se a nova geração está revelando alguma coisa.

Os novos coreógrafos gostam de buscar conceitos em suas criações e misturam muitos recursos. Às vezes, fazem coisas realmente boas, mas, quando erram, é terrível", diz, rindo. "Porém o importante é tentar. Artistas têm de experimentar."

O bailarino não interfere nas criações produzidas no BAC. Naquela quinta-feira, acompanhou com o filho Peter, de 21 anos, o ensaio aberto da Big Dance Theater, um dos grupos residentes do centro. Assistiu com atenção, aplaudiu ao final, mas não emitiu opiniões. Annie-B Parsons, diretora da companhia, diz que a discrição lhe é comum: "Ele nos deixa trabalhar com total liberdade. Temos conforto, segurança, estímulo, intercâmbio de alta qualidade. O BAC está mudando o padrão do trabalho artístico em Nova York".

Segundo o ex-bailarino Stanford Makishi, diretor-executivo do BAC, a melhor palavra para definir Baryshnikov é "integridade": "Se o Misha (apelido do bailarino) percebe talento em um artista desconhecido, investe. Ele tem uma curiosidade artística inesgotável. Além do mais, não descarta assumir riscos". Já Baryshnikov resume de forma mais simples: quer criar perspectivas para as próximas gerações. "Hoje, meu papel é facilitar, abrir portas. Não sou um líder, sou apenas um porteiro."

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página