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21/09/2010 - 16h04

O mundo maravilhoso das artes

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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

Comprei uma máquina fotográfica Canon do balacobaco. Ela tem uma definição que lembra HD, uma coisa assim meio hiper-realista, aquele estilo que antes era abominado e hoje todo mundo acha lindo. Também, né? Perto da cafonice do 3D qualquer outro atentado plástico é lucro.

Voltei a fotografar por causa da minha Canon nova. Anos como aluna do Cristiano Mascaro e da Maureen Bissilliat, na Enfoco, uma escola de fotografia sensacional que havia na rua Batatais nos anos 1970, deram-me farta experiência.

Agora, com esta câmera, que torna possível todo ajuste de luz e conserta qualquer errinho, tenho certeza de que posso virar um azougue.

E, o que for passar pelo crivo do meu olho e a máquina não consertar, a gente deixa para reparar no Photoshop do computador, não é mesmo? Sem problemas.

Porque hoje em dia é assim: até uma desalmada com senso estético limitado como esta datilógrafa que vos fala pode se tornar um J.R. Duran, um Bob Wolfenson ou um Cássio Vasconcellos.

Fui à feira de fotografias de que os três participaram no shopping Iguatemi, estava coalhada de gente. Fotografia é o novo pão quente do mundo das artes, todo mundo gosta e quer comprar.

E, agora que dei a volta ao mundo e acabei retornando para trás do visor, também quero usufruir.

Acho que vou me inspirar na trajetória de um conhecido meu. Ele é muito bem-sucedido na sua caracterização, preenche todos os requisitos ao se passar por artista plástico. Mora como artista, se veste como artista, fala como artista, tem maneirismos de artista, a maioria das pessoas com quem convive aprecia, faz ou consome arte, enfim, ele não pensa ou respira outra coisa.

Exceto pelo fato singelo de que não é artista coisa nenhuma. Trata-se de um embusteiro de primeira ordem, alguém que tenta se safar produzindo um trabalhinho que passe sem causar muito ti-ti-ti, uma espécie de arte (se é que pode chamar assim) "boazinha" que não incomoda ninguém e que ele costuma expor em mostras coletivas das quais participam outros artistas de verdade.

Já parei para examinar seu método: ele vai se misturando, sendo agradável com um e outro e puxando papo sobre arte. E vendendo suas porcarias para quem não sabe identificar a fraude.

A fórmula que ele usa é facinha, quem conhece pesca em dois segundos. Seus trabalhos sempre contêm alguma "citação" a Louise Bourgeois ou a outro nome importante e toda exposição que ele faz tem uma obra em vídeo e algumas fotos. Sabe, ele é bem contemporâneo, aposto que deve ter investido numa Canon igual à minha.

No máximo, pagando exclusivamente do próprio bolso ou, quem sabe, do bolso do pai dele, poderia ser um aluno vulgar da Faap ou da Escola Panamericana de Arte.

Mas nunca se vê ninguém desmascará-lo, chegar para ele no meio do vernissage e gritar: "Artista plástico, o escambau! Só se for pras suas negas! Quero meu dinheiro de volta!"

Ao menos, eu nunca vi. Muito ao contrário, ele é sempre superconvidado por outros tipos sensíveis que costumam frequentar o cenário das artes plásticas na cidade.

Da próxima vez que for encontrá-lo, levo minha câmera e faço pose de Annie Leibovitz. Será que engano?

 

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