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22/09/2010 - 17h14

Lançamento do volume "Dias Felizes" completa trilogia de Beckett

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MANUEL DA COSTA PINTO
DE SÃO PAULO

O irlandês Samuel Beckett (1906-1989) é o criador de mundos enclausurados na eternidade do presente, de personagens encerradas em rituais monomaníacos, girando em falso com gestos desconectados das palavras.

Um título como "Dias Felizes" só poderia ser irônico. Nessa peça concluída em 1961, que completa a trilogia de obras-primas teatrais iniciada com "Esperando Godot" (1953) e "Fim de Partida" (1957), uma mulher de meia-idade passa o primeiro ato enterrada até a cintura e, o segundo, até o pescoço.

Winnie gesticula, manuseia uma sombrinha e os objetos guardados em sua sacola, fala pelos cotovelos (em monólogo ou com o marido Willie, que mal aparece em cena), recita versos e entoa mantras sobre os "prazeres fugazes" que lhe são permitidos degustar (ou lembrar) na árida colina em que está sepultada viva.

Cada dia que nasce é uma ocasião para que Winnie repita -"Mais um dia celestial"-, agarrando-se a esperanças que se tornam risíveis quando, apenas com a cabeça tagarela para fora da terra, ela já não pode nem mesmo alcançar os utensílios que fazem da rotina um refúgio para a precariedade de sua condição.

As obras de Beckett têm um sentido alegórico e "Dias Felizes" é uma espécie de reflexão sobre a imobilidade do tempo, a danação de uma vida sem porvir, na qual a felicidade se conjuga no pretérito e qualquer esperança é uma autoilusão.

Mas se o resultado final da alegoria beckettiana é trágica, sua apresentação é tragicômica. Como ele mesmo diz, numa das cartas reproduzidas ao final do volume, "espero que a peça atue sobre os nervos da plateia, não sobre seu intelecto".

E, graças às rubricas (aquelas instruções dramatúrgicas entre os diálogos de uma peça), "Dias Felizes" pode ser lido como um romance satírico (e sadomasoquista) que atinge o nervo de nossas quimeras.

DIAS FELIZES **
AUTOR: Samuel Beckett
TRADUÇÃO: Fábio de Souza Andrade
EDITORA: Cosac Naify 
(136 págs., R$ 56)

Conexões

LIVROS

ESPERANDO GODOT **
Debaixo de uma árvore, os maltrapilhos Vladimir e Estragon esperam um certo senhor Godot, nome que embute referência a um deus ("god") que nunca comparece ao encontro.
AUTOR: Samuel Beckett
TRADUÇÃO: Fábio de Souza Andrade
EDITORA: Cosac Naify 
(2010, 244 págs., R$ 66)

FIM DE PARTIDA **
O paralítico cego Hamm e seu ajudante 
coxo Clov andam em círculos num abrigo, como mutilados de guerra da existência.
AUTOR: Samuel Beckett
TRADUÇÃO: Fábio de Souza Andrade
EDITORA: Cosac Naify (2010, 160 págs., R$ 56)

DISCO

CARL NIELSEN: COMPLETE PIANO WORKS **
Christina Bjorkoe, piano (CPO; R$ 82,10, duplo)
Carl Nielsen (1865-1931) é considerado o maior compositor da Dinamarca. Embora sua produção seja sinfônica, essa integral de sua obra para piano tem preciosidades, como a "Chacona Op. 32" (que passa de uma cadência barroca para intervalos impressionistas) e as "Três Peças para Piano Op. 59" (com colisões de tempo e ritmo), além de miniaturas didáticas que, como o "Microcosmo" de Bartók, escondem pequenas iluminações.

FILME

PARIS VIVE À NOITE *
Martin Ritt (Versátil; R$ 37,50)
Numa Paris em preto e branco, Sidney Poitier e Paul Newman tocam jazz em "caves" com atmosfera existencialista e caem na tentação de sair da vida alternativa quando se encantam com duas turistas. A trama não vai muito além dessa errância musical e amorosa; o que vale são a trilha de Duke Ellington e a participação de Louis Armstrong, que irrompe em cena desafiando-os com seus improvisos.

 

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