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Residência para artistas estrangeiros no centro faz cinco anos
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FLÁVIA MANTOVANI
DE SÃO PAULO
Situado na agitada praça do Patriarca, no centro, o edifício Lutetia é pura arte. Primeiro, pela arquitetura: projetado nos anos 20 por Ramos de Azevedo, foi tombado e restaurado, preservando a fachada, o piso hidráulico, o elevador antigo. Depois, por abrigar um museu, o MAB-Centro. Por último, e o mais importante: ele serve de casa para artistas do mundo todo.
Maria do Carmo/Folhapress |
Edifício Lutetia, na praça do Patriarca, na região central, foi reformado pela Faap para hospedar artistas estrangeiros |
Funciona no prédio a residência artística mantida pela Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), que completa cinco anos no sábado com uma exposição sobre o projeto.
O Lutetia é equipado com lavanderia, ar-condicionado, salas de convivência com TV e internet, ateliê coletivo, porteiro, administradora, ascensorista, faxineiros. O barulho dos espetáculos populares da praça é amenizado por janelas antirruído. As sete salas comerciais que antes ocupavam cada um dos oito andares deram lugar a dez modernos lofts, dois por piso, de 69 m² e 79 m².
Além de móveis contemporâneos em madeira clara, com nichos para guardar pincéis e tintas, os apartamentos têm cozinha, pia especial para pintura e o mais valorizado pelos artistas: lugar de sobra para criar.
"Este é o lugar mais bacana onde já vivi. Ter meu estúdio no espaço onde durmo e poder pintar até as três da manhã é ótimo", diz a pintora americana Sarah O'Donoghue, 23, que morava em um apartamento "minúsculo" em Nova York. Ela chegou há duas semanas com o namorado, um DJ colombiano, e já virou fã de comida a quilo e dos sucos naturais.
A seleção para morar no Lutetia inclui a apresentação de um projeto artístico pessoal e outro de intercâmbio com alunos e professores da Faap. É possível ficar entre dois e seis meses, e os demais gastos são por conta do artista. A cada semestre, de 15 a 20 pessoas se inscrevem.
Há, ainda, parcerias instituicionais, como a que foi feita com uma escola de artes de Lisboa para a Bienal, que trará alunos e professores para morar aqui por dois meses.
Já passaram pelo Lutetia visitantes dos países mais diversos: Japão, Espanha, Líbano, Colômbia, Benin. Brasileiros de fora do Estado de São Paulo também são aceitos. Não há limite de idade, mas a maioria tem perto de 30 anos. Eles podem trazer companheiro(a), mas crianças e animais não são aceitos. As regras incluem não viajar sem avisar e devolver utensílios em bom estado.
Marcos Moraes, coordenador da residência, afirma que nunca soube de problemas de convivência. Nem de assaltos, apesar da região um pouco complicada à noite.
Estar no centro, aliás, faz parte do charme do projeto. "Não queremos só trazer o artista para cá. Queremos que ele interaja com a cidade", afirma Moraes.
O peruano Daniel Barclay, 37, um mês de Lutetia e seis de aulas de português, gosta da proximidade de tudo. "É uma forma de recuperar a área, trazendo arte para um lugar considerado perigoso." Seus quadros, uma releitura de ícones de SP, como o Masp, já ocupam todo o loft, e ele migrou para o ateliê coletivo.
Conterrâneo de Daniel, Oscar Kovach, 32, prefere o centro ao Morumbi, onde já morou. "Lá não tem ninguém na rua. Aqui tem mais informação visual, sonora, tudo perto." Seus passeios por São Paulo incluíram dois dias em cemitérios, admirando as esculturas dos túmulos.
Assim como outros residentes, ele mudou seu projeto a partir do contato com o centro: esculpiu um morador de rua usando pedras soltas do piso português da região e levou a obra até a praça na madrugada da última quarta (veja link para fotos da intervenção no fim da reportagem).
A residência também possibilita a integração entre os artistas. "Todos somos novos, então nos tornamos amigos", conta a austríaca Monika Nguyen, 27, que já viveu em Tóquio e em Nova York e costuma ir com os vizinhos a exposições. Ela tem três alunos da Faap como assistentes em sua pesquisa, na área de fotografia.
A americana Sarah diz que escolheu São Paulo pela "explosão" na arte de rua. "Nova York é ótima para arte em espaços tradicionais, mas aqui tem mais coisas que fogem do padrão." Ela só não gosta, compreensivelmente, de andar sozinha à noite nas redondezas.
Pretende viajar, mas, por enquanto, quer mesmo é ficar em casa. "Ter um espaço como esse para trabalhar é tão importante que, por mais que eu queira explorar o Brasil, também quero aproveitar para pintar."
Confira vídeo desta reportagem.
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