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Obrigados a fazer caminhos mais longos, pedestres ignoram as pontes
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OCIMARA BALMANT
DE SÃO PAULO
13h da última quarta-feira. No pico do horário de almoço, o vaivém de pedestres entre os shoppings Morumbi e Market Place era intenso. Centenas de pessoas se arriscavam entre os carros na avenida Chucri Zaidan, na zona sul de São Paulo.
Enquanto isso, a passarela que une os dois centros comerciais, exatamente em cima do corre-corre, continuava vazia. "Acho que o povo tem preguiça de subir a escada", diz Pâmela da Silva Rezende, 27, que há três anos trabalha no ponto de táxi que fica sob a passarela. "Quase todo dia vejo carro brecando em cima de alguém. Hoje mesmo, um senhor quase foi atropelado."
Fernando Donasci/Folhapress |
Passarela que faz a interligação de um shopping para outro no Morumbi; maioria não utiliza, atravessando pela Chucri Zaidan |
A reportagem da sãopaulo contabilizou o movimento das 13h às 13h05. Nesse tempo, enquanto 12 pedestres atravessaram pela passarela, outros 115 preferiram passar por entre os veículos, inclusive uma grávida. "Olha o tamanho do meu salto. Imagine subir e descer 70 degraus", disse a publicitária Nathália Cruz, 32.
Há quatro anos ela trabalha na região e desistiu da passarela logo no início. "Tem até elevador, mas só para idosos e deficientes. Apesar do medo de escorregar na rua, eu arrisco. Virou passarela de enfeite."
Ignorar a passarela é uma reação natural, segundo Eduardo Daros, presidente da Abraspe (Associação Brasileira de Pedestres). "É a lei do menor esforço. Se a travessia pela passarela for muito mais lenta e não houver nenhuma barreira que impeça que a pessoa atravesse pela rua, não tem jeito. Quem vai querer andar mais?", completa.
Só no ano passado, 700 pedestres morreram em São Paulo, o correspondente a cerca de sete pessoas a cada 100 mil moradores. É três vezes o percentual da Europa, que registra de duas a três mortes de pedestres a cada 100 mil habitantes. "No caso das passarelas, é descuido do pedestre não usá-la. Mas isso, no fim, é resultado de uma política que prioriza o veículo. É para não atrapalhar a fluidez do carro que a pessoa é retirada da rua e obrigada a subir escadas e esticar o caminho", pondera Daros.
PRA MIM, NÃO SERVE!
Na avenida Auro Soares, que passa bem ao lado do terminal Barra Funda, na zona oeste, a passarela é bastante movimentada, mas só para quem segue para o metrô. Os que precisam chegar aos pontos de ônibus ignoram o acesso e não se intimidam em pular a barreira de ferro instalada no canteiro central. "Eu sei que é perigoso, mas, se estou com pressa, acabo pulando", diz Felipe Cruz, 29, que estuda no Senai e faz o trajeto há três anos. "Vejo o meu ônibus parado no ponto e saio correndo. Se for pela passarela, perco a condução e preciso ficar 20 minutos esperando."
Quem ignora a passarela caminha cerca de 30 passos para cruzar a avenida. Os que optam pela segurança da rampa fazem um trajeto sete vezes mais longo: são necessários 220 passos para chegar ao ponto de ônibus. Por isso, todos os dias, nos horário de início e fim das aulas das universidades da região, é comum o empurra-empurra para aproveitar os poucos segundos sem que um carro aponte no caminho.
Em frente ao shopping Eldorado, é o congestionamento que ajuda o pedestre a burlar a passarela. Quanto mais parado o trânsito, mais gente atravessa entre os carros. Basta ver o letreiro do ônibus no ponto para desistir da passarela, que tem elevador e escada rolante.
*
UMA PONTE NO CAMINHO
As pessoas NÃO gostam de passarela porque:
- aumenta o caminho (é preciso andar mais)
- pode ficar longe do exato ponto da rua que se pretende atravessar
- exige esforço, como subir escada ou rampa
Para ATRAIR, a passarela deve ter:
- telas para evitar risco de queda
- corrimão para ajudar idosos
- superfície não escorregadia
- iluminação, se houver uso noturno
- visibilidade para a pista (minimiza risco de assalto)
- acessibilidade (rampas ou elevadores)
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