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18/10/2010 - 09h58

Caixa com sete DVDs reúne série completa de Tintim, personagem criado por Hergé

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MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

Se as histórias em quadrinhos costumam ser um fiasco no cinema, Tintim, o imberbe repórter criado pelo belga Hergé, teve sorte --ao menos nos desenhos animados.

Longas-metragens como "O Mistério do Tosão de Ouro" (1961) ou "Tintim e as Laranjas Azuis" (1964) são pastelões prejudicados pela precária maquiagem dos atores.

Mas a caixa reunindo a série completa de "As Aventuras de Tintin" (com a grafia francesa do nome do herói) faz justiça ao "realismo" da personagem. Um realismo que diz respeito mais à representação naturalista dos países em que são ambientadas suas peripécias do que à visão "ideológica" de Hergé.

Como é notório, o desenhista belga foi mestre na arte de apresentar uma versão eurocêntrica de países latino-americanos (republiquetas governadas por coronéis bigodudos, de óculos escuros e charuto nos lábios), de fazer caricaturas do "país dos sovietes" (palco de um de seus álbuns) e dos "nativos" das colônias africanas ("Tintim no Congo").

Embora Hugo Chávez e os arquivos comunistas possam amenizar essas distorções, acusações de antissemitismo e ligações com o nazismo cancelam qualquer empatia com o criador de Tintim. Mas não com a criatura.

A sedução de Tintim está em representar um heroísmo plausível: qualquer garoto magrelo pode vencer as adversidades e os vilões pela sagacidade; sua inteligência e os imbróglios nos quais se mete são comparáveis à dos detetives do romance "noir", com a diferença de que ele não tem a ambiguidade moral de um Sam Spade, de um Philip Marlowe.

E a estética supostamente naturalista de Hergé corresponde, na verdade, a uma idealização: é como se as cidades pelas quais Tintim, seu cão Milu e o atrapalhado capitão Haddock transitam estivessem a salvo da sujeira visual das metrópoles modernas (mais um traço conservador de Hergé) e do exotismo turístico (que ele substitui por uma anacrônica "cor local").

Enquanto Spielberg não lança sua versão de "O Segredo do Unicórnio" (prevista para 2011), os desenhos animados de Tintim são uma forma de viver dentro da ilusão desse mundo organizado.

conexões
AS AVENTURAS DE TINTIN - SÉRIE COMPLETA
DIREÇÃO: Stéphane Bernasconi
DISTRIBUIÇÃO: Log On (R$ 119,90; sete DVDs)
AVALIAÇÃO: Bom

LIVROS
O CETRO DE OTTOKAR
Tintim desvenda um complô político em que se confrontam a monarquia da Sildávia e a república comunista da Bordúria, países fictícios que reproduzem os eternos conflitos dos Bálcãs.
AUTOR: Hergé
TRADUÇÃO: Eduardo Brandão
EDITORA: Companhia das Letras (2006, 64 págs., R$ 37)
AVALIAÇÃO: Ótimo

O SEGREDO DO LICORNE
A busca pelo mapa do tesouro de Rackham, o Terrível, tem um flashback antológico, com o capitão Haddock na pele de um antepassado que enfrenta piratas a bordo de um galeão.
AUTOR: Hergé
TRADUÇÃO: Eduardo Brandão
EDITORA: Companhia das Letras (2006, 64 págs., R$ 38)
AVALIAÇÃO: Ótimo

FILME
ROBIN HOOD
Ridley Scott (Universal; só locação)
A refilmagem da lenda de Robin Hood guarda semelhanças com "Gladiador", com o mesmo astro (Russell Crowe): estão lá a violência estetizada pela fotografia e um código de ética que a justifica. O roteiro traz uma novidade: um preâmbulo político "shakespeareano", em que o herói se faz passar pelo marido de Lady Marian antes de virar o ladrão que rouba dos ricos e dá aos pobres.
AVALIAÇÃO: Bom

DISCO
HIGHWAY RIDER
Brad Mehldau (Nonesuch; R$ 88, CD duplo)
O novo disco do pianista de jazz norte-americano, que se apresentou em São Paulo há duas semanas, é uma espécie de suíte -eclética na forma, porém homogênea no tom, ora épico, ora melancólico. As composições próprias se alternam em solos, trios e arranjos orquestrais, com dissonâncias exploradas de modo virtuosístico pelo pianista e pelo sax tenor de Joshua Redman.
AVALIAÇÃO: Bom

LIVRO
A NOIVA DO CONDUTOR
Noel Rosa (Terceiro Nome, 56 págs., R$ 44)
Ilustrado por Laura Gorski, o livro traz o texto de uma das três operetas radiofônicas escritas por Noel Rosa: um burguês avaro descobre que o pretendente da filha, supostamente um advogado, não passa de um condutor de bonde. Com final surpreendente, essa comédia de erros do subúrbio carioca intercala deliciosamente diálogos e sambas.
AVALIAÇÃO: Ótimo

 

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