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Arquiteto americano esbanja otimismo na revitalização da Luz
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NATÁLIA ZONTA
DE SÃO PAULO
As notícias que chegavam a San Francisco, nos Estados Unidos, não eram animadoras. "Tudo o que li falava que a cracolândia era uma área bem pior do que é", diz o arquiteto americano Stephen Engblom, 43, que trabalha na revitalização da Luz. Nos últimos seis meses, o vice-presidente da Aecom, responsável pelos planos de Londres para os Jogos Olímpicos de 2012, fez incursões por São Paulo. Conheceu os museus da área, foi a bons restaurantes do centro e está convicto de que ali será, sim, a Nova Luz.
Em um escritório montado na rua Líbero Badaró, no centro, a Nova Luz é moldada. De lá, Engblom, encarregado do design urbanístico, coordena outros dois times, um em Londres e outro em San Francisco, onde mora. Mas é do QG no centro que o americano pode ver de perto as peculiaridades do bairro. Em suas idas e vindas, adaptou-se aos olhares lançados a ele. Afinal, não é comum ver um loiro de olhos azuis, com mais de 1,90 m e fala enrolada circulando pela cracolândia. Há três semanas, em uma visita à estação da Luz com a sãopaulo, observava as plataformas surpreso. "Me falavam que só pessoas pobres usavam o trem. Vejo que é diferente. É uma mistura que deve prevalecer", diz.
Patricia Araujo/Folhapress |
O arquiteto americano Stephen Engblom é um dos responsáveis pelo projeto de revitalização da Luz, em SP |
As preferências pessoais do americano dão pistas do redesenho da Luz. Nas suas andanças, esteve na Bela Vista e ficou encantando com os restaurantes e as mesas na calçada. Em Higienópolis e em Santa Cecília, ficou atento ao mix de moradores. "Os melhores bairros do mundo abrigam diferentes classes sociais. Isso é saudável e fundamental para o desenvolvimento", diz. Já o estilo das avenidas Brigadeiro Faria Lima e Luís Carlos Berrini não o seduziu. "O trânsito é absurdo, não há opções de transporte e as pessoas têm de se deslocar muito", aponta.
A Aecom e as outras empresas envolvidas no projeto (as construtoras Cia. City e Concremat e a Fundação Getúlio Vargas também formam o consórcio) evitam dar detalhes da revitalização. Por se tratar de uma concessão urbanística, prioritariamente os recursos serão privados.
Entre os desafios para atrair o mercado imobiliário estão o grave problema de viciados em crack que frequentam a região e a obrigatoriedade de mesclar moradia popular com prédios de classe média. A Luz tem áreas de interesse social, reservadas por lei à população carente, o que pode espantar algumas construtoras. "Acredito que as pessoas vão começar a ver que não faz sentido viver em bairros segregados", diz o americano. Especula-se que, entre reformas e novos prédios, a Luz terá uma área construída de cerca de 1 milhão de metros quadrados.
O grupo envolvido na revitalização foi contratado por R$ 12,46 milhões pela prefeitura. O pré-projeto com as propostas de intervenção na área de 2,25 milhões de metros quadrados será divulgado neste mês e ficará durante dois meses em consulta pública. "Atualmente, a Nova Luz é o que há de mais interessante no escritório. Sei que podemos fazer a diferença e tornar a região uma referência."
A confiança na transformação da cracolândia vem de observações simples. Para ele, há três fatores que definem o sucesso de um projeto desse tipo: infraestrutura, economia e demanda. "A Luz tem estações de metrô, museus e parques. O Brasil está em um período ótimo na economia e sei que muitas pessoas que vivem em áreas mais distantes buscam uma alternativa", afirma. Sobre o preconceito que alguns têm com o centro, ele apenas faz um cálculo."São Paulo tem milhões de habitantes. Não precisamos convencer todos a mudarem. Se 0,5% se interessar, já será um sucesso."
Desde que o consórcio assumiu o projeto, em maio, um time de 60 pessoas estuda a região. Um dos dados levantados foi inesperado. "Entrevistamos 450 famílias que moram lá e 67% delas se dizem satisfeitas. Imagine quando houver melhorias."
Lançamento
Quando os paulistanos conhecerem o pré-projeto, o consórcio quer também apresentar a região quem nunca pisou ali. No dia do lançamento será aberta uma mostra com imagens feitas por moradores da área e pessoas que circulam por lá. As fotos serão expostas em um prédio do grupo na rua General Couto de Magalhães e serão acompanhadas por depoimentos que remontam a história da área.
"A Luz tem um potencial imenso. Os prédios têm personalidade. Acredito que jovens casais, aposentados e as pessoas que já moravam no bairro vão se interessar ", diz Engblom. O projeto definitivo será entregue em abril de 2011. "Garanto que nos próximos 15 anos a região será um modelo e São Paulo lançará uma tendência que poderá ser reproduzida em outras partes do mundo", diz Engblom.
Construtoras do consórcio
AECOM
Entre outros trabalhos, fez o projeto olímpico de Londres 2012 e o plano diretor de Manchester, também na Inglaterra.
CIA. CITY
Projetou os bairros Anhangabaú, Alto da Lapa, Alto de Pinheiros e Pacaembu.
CONCREMAT
Fez o Igarapés de Manaus (AM) e o estudo sobre impactos ambientais do aeroporto Santos Dumont e do Arco Metropolitano, ambos no Rio
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