Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Acompanhe a sãopaulo no Twitter
18/10/2010 - 10h41

Sem pressa depois do filme "À Deriva", Laura Neiva estudou teatro antes de voltar à cena

Publicidade

KÁTIA LESSA
DE SÃO PAULO

As melhores amigas de Laura Neiva, 17, estão zangadas. Tabata e Gabriela Gomes Macedo, 17, vão ter que mudar o rumo das férias de fim do ano. "A ideia era passar uns meses em San Francisco, só nós três. Mas fui convidada para fazer teatro, então tive que cancelar", lamenta a atriz, no sofá da casa da empresária, enquanto devora um pacote de doces de padaria sabor limão.

A peça, "Ligações Perigosas", de Christopher Hampton --inspirada no clássico francês "Les Liaisons Dangereuses", escrito por Choderlos de Laclos-- virou filme dirigido por Stephen Frears e lançou a atriz Uma Thurman, na pele da jovem Cécile. É o mesmo papel que Laura assume na adaptação com Maria Fernanda Cândido que tem estreia prevista para o dia 23 na Faap.

DEBBY GRAM
"Nunca fiquei deslumbrada, porque minha mãe sempre diz que é importante manter os pés no chão", diz Laura Neiva
"Nunca fiquei deslumbrada, porque minha mãe sempre diz que é importante manter os pés no chão", diz Laura Neiva

De cabelos molhados e rosto limpo, a garota impressiona pela beleza fresca. Mas a jaqueta de couro preta e o tênis tipo All Star de cano alto fazem lembrar que quem está ali não é mais a menina de 14 anos que se descobriu atriz durante as filmagens de um longa.

Ao contrário do que acontece com boa parte dos jovens atores após o primeiro sucesso, Laura soube esperar. Sem pressa para se lançar em águas desconhecidas, aguardou que bons ventos lhe indicassem a melhor direção. Nesse meio tempo, fez aulas de teatro na escola Célia Helena, praticou inglês com professor particular e colocou aparelho nos dentes.

Descoberta no Orkut por dois produtores de elenco, a paulistana estreou no cinema como protagonista do filme "À Deriva", de Heitor Dhalia, 40, um dos mais festejados de 2009.
De uma hora para outra, mudou os planos das férias escolares de 2008 e passou o verão em Búzios, ao lado do ator francês Vincent Cassel, Cauã Reymond e Débora Bloch. Pouco tempo depois, circulou no tapete vermelho do Festival de Cannes e estampou capas de revistas francesas como a "Jalouse", na qual foi apontada como a nova diva do cinema brasileiro.

A carreira de atriz quase não aconteceu. Na sétima série, a garota apresentou uma peça no teatro da escola. E achou que havia descoberto sua verdadeira vocação. "Eu odiei. Quando a peça finalmente acabou, fiquei aliviada por nunca mais ter que fazer aquilo na vida, me senti muito exposta. Desde pequena
queria ser arquiteta", lembra.

O trauma do palco escolar, porém, não foi suficiente para fazê-la resistir ao convite recebido pelo Orkut. "Da primeira vez que li a mensagem eu disse 'não, obrigada'. Minha mãe dizia que não era para falar com estranhos na internet porque na época a polícia estava alertando sobre pedofilia", lembra. "Depois de três meses, a produtora voltou a insistir que eu fizesse o teste, e, com medo, dei o telefone da minha mãe."

Depois de checar as informações recebidas no telefonema, a mãe da atriz a levou para o tal teste. "Fomos por curiosidade. Descobri que era a O2 [de Fernando Meirelles], a produtora de 'Cidade de Deus', então achei que o trabalho era sério", lembra a decoradora Micheli Mattar, 33.

A produção de elenco do filme estava atrasada. Depois de meses de busca, Heitor Dhalia ainda não estava satisfeito com as opções que tinha para o papel de Filipa, uma garota que vive as primeiras experiências da adolescência enquanto vivencia a separação dos pais.

Foi paixão à primeira vista. "Quando vi a Laura, senti que era a minha protagonista. Era uma garota de 14 anos, linda, entre uma criança e uma quase Lolita, que ainda não descobriu seu charme", lembra Dhalia.

Coautora do roteiro, Vera Egito ficou impressionada com a jovem atriz. "É impossível não olhar para ela na tela. Impossível não acompanhar seus movimentos, suas expressões. É um carisma raro. São poucas as atrizes que têm esse poder".

Dois pais e duas mães

DEBBY GRAM
De cabelos molhados e rosto limpo, a atriz Laura Neiva impressiona pela beleza fresca
De cabelos molhados e rosto limpo, a atriz Laura Neiva (foto acima) impressiona pela beleza fresca de menina

A escolha de Laura como protagonista foi comemorada sem exageros. "Estava feliz, parecia uma opção mais animada para as minhas férias, mas nunca fiquei deslumbrada, porque minha mãe sempre diz que é importante manter os pés no chão. É o que ela mais fala", explica.

E foi com os tais pés no chão que Micheli conseguiu criar Laura, de quem engravidou aos 15 anos. "Eu e o pai biológico dela nunca ficamos juntos. Éramos crianças e ela morou em Minas Gerais com os avós até os cinco anos."

Hoje, Laura e a mãe são tão próximas que fizeram até uma tatuagem em comum, o símbolo do infinito. "Foi um pouco confuso na infância, mas hoje está tudo bem. Eu chamava minha avó de mãe e chamo meu pai de criação de pai porque ele me educou desde pequena. Não tenho contato com o meu pai biológico, perdemos o link", diz.

Para o corretor Dario Mattar, 37, é como se ela fosse mesmo sua filha. "Quando soube da existência da criança, eu tinha 20 anos e, claro, achei que poderia ser um problema. Mas com o tempo, aquele probleminha passou a ocupar um espaço no meu coração e entrou de vez na minha vida. Nunca tive filhos de sangue, mas creio que o que sinto por ela seja amor de pai."

Na infância, Laura mudou de escola diversas vezes e repetiu a quinta série. "Eu trocava tanto de classe que não conseguia ter amigos. Só passei a criar um vínculo mais forte com pessoas da escola depois de frequentar a Waldorf, onde estudo hoje."

Por lá, os amigos ficaram orgulhosos. Tabata, uma das amigas mais próximas, conta que as meninas das séries mais novas pediram autógrafos, e a classe se organizou para conferir a pré-estreia do filme da colega de turma.

"Na minha escola todo mundo é familiarizado com arte. Quando voltei da temporada de gravação eles me perguntaram coisas técnicas como o tipo de lente que o diretor usava. Ninguém me tratou de modo diferente", diz.

No dia 23, Laura estará nos palcos do teatro Faap. As melhores amigas pretendem relevar a mudança nos planos de férias. "Iremos à peça ver a Laura. Ela vai guardar o dinheiro desse trabalho para fazermos uma viagem ainda mais legal no ano que vem", comemora Tabata.

"Sonho muito alto, mas não penso nisso e prefiro não falar. Meu maior medo na vida é me decepcionar"
Laura Neiva, atriz

"Nunca fiquei deslumbrada, porque minha mãe sempre diz que é importante manter os pés no chão"
Laura Neiva, atriz

"Foi lindo ver a Laura crescer durante as filmagens. Ela amadureceu junto com a Filipa. Quando acabou o filme não era mais criança"
Vincent Cassel, ator

"Se a Laura investir no inglês tem tudo para dar certo lá fora. Ela tem 'star quality', uma luz natural, que ninguém conquista só com trabalho"
Heitor Dhalia, diretor

"Laura é muito atenta, disciplinada, escuta o diretor. Não vi o filme que a deixou famosa, mas agora fiquei curiosa para conferir"
Maria Fernanda Cândido, atriz

"Acho que a Natalie Portman, em 'The Professional' tem muito a ver com ela. Super menina e super forte como atriz"
Vera Egito, diretora

Melhores momentos

1. "À Deriva"
Laura Neiva, na pele da protagonista Filipa, grava com Gregório Duvivier em Búzios (Rio de Janeiro)

2. Cannes
No tapete vermelho, ao lado de Heitor Dhalia, Vincent Cassel e Debora Bloch

3 e 4. Infância
Nascida quando a mãe tinha 15 anos, a menina foi criada até os cinco anos pelos avós maternos em Minas Gerais. Filha única, "deu muito trabalho", segundo a mãe, mudou de escola várias vezes e repetiu a quinta série

Tipo exportação

O lançamento de "À Deriva" nos EUA chamou a atenção de agentes internacionais. Laura recebeu seis convites para testes em produções americanas e chegou a gravar um clipe da banda Calle 13, dirigido por Diego Luna. Fez testes para "Piratas do Caribe 4" e o "Homem Aranha 3D". Nos próximos meses, ela assina com a WME, uma das mais respeitadas agências de entretenimento do mundo.

"Laura tem grande potencial para fazer sucesso em Hollywood. Tem um poder de transcender o estigma da latina. Ganha força na tela, me lembra Penélope Cruz", diz Brandon Liebman, um dos agentes da empresa.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página