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04/11/2010 - 19h28

Hotel de luxo para terceira idade é boa opção para idosos independentes

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KÁTIA LESSA
DE SÃO PAULO

"Ligaram para o meu filho para dizer que recebi um homem no quarto. Era apenas um amigo de 90 anos, e educadamente ofereci um café. Quisera eu ainda ter essa energia", revela Adelina Carvalhaes, 71, enquanto pinta as unhas de vermelho no espaço de beleza do Solar Ville Garaude, um hotel exclusivamente dedicado ao público da terceira idade.

O episódio aconteceu quando Adelina morava na casa de repouso da Liga das Senhoras Católicas. Indignada com a falta de privacidade, escolheu mudar para o hotel. O filho, Nelson Carvalhaes, 46, geriatra, concordou com o pedido depois de conversar com a médica do local.

"Apesar de não ser uma pessoa totalmente dependente, minha mãe não consegue mais autogerenciar algumas de suas atividades. A opção pelo hotel foi uma iniciativa dela, que tem uma personalidade forte e se sentia um pouco limitada. Ela fuma, e na casa de repouso o controle era muito maior", conta Nelson.

Ao meio-dia, o restaurante do Ville Garaude, localizado em Alphaville, fica movimentado. Uma senhora de cabelos muito brancos e babador transparente sobre o colar de pérolas legítimas cantarola o bolero que toca no rádio, enquanto recusa a ajuda de sua acompanhante para cortar os morangos de uma das cinco opções de sobremesa. "A nutricionista deixou colocar creme de leite", comemora.

Minutos antes, a turma estava na piscina. "Aqui não é asilo. É um hotel cinco-estrelas cheio de atividades, o clima é alegre. O hóspede é cuidado, não vigiado", explica Sarita Fischel, 78, enquanto alonga os braços na aula de hidroginástica. "A maior parte das pessoas confunde esse espaço com casas de repouso. Existe tanto preconceito que meus filhos não queriam que eu viesse", completa.

Dono do empreendimento pioneiro em São Paulo, que conta apenas com dois concorrentes na cidade, o advogado Pedro Garaude, 67, diz que jamais havia trabalhado no ramo da hotelaria.

"Minha filha é geriatra, nunca me conformei com o clima triste dos asilos. Achei desafiador criar um espaço no qual os idosos fossem felizes", relata o empresário de um mercado milionário, que nos Estados Unidos, é chamado de "assisted living".

Montado há 12 anos, o hotel não tem quartos vagos. Um cliente que não requer cuidados especiais desembolsa no mínimo R$ 5.318, por uma suíte de 30 m². Mas apesar do sucesso, Pedro, que mora no local com a esposa, não comemora o lucro. "Se eu aplicasse o dinheiro que invisto aqui na Bolsa, certamente teria um retorno maior, mas ainda não encontrei uma aplicação que me desse tanta satisfação."

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CINEMA E KARAOKÊ

No Solar, as atividades não param. Há feijoadas comemorativas, bingo, torneios de tranca, aulas de artesanato, jogos de memória, ginástica, e até cinema privativo. "O karaokê é disputadíssimo. Esse tipo de espaço é mais parecido com um spa do que com uma casa de repouso. Os idosos são mais ativos porque o número de atividades oferecidas é maior", explica Thais Pontual, 25, professora de educação física do Solar Ville Garaude.

Longe do verde de Alphaville, um prédio em plena travessa da avenida Paulista abriga 90 moradores da terceira idade. Exclusivamente voltado ao público com mais de 60 anos, o Residencial Santa Catarina também hospeda pacientes idosos que desejam passar temporadas pós-operatórias.

Curiosamente, apenas 24 moradores são homens. Do total de hóspedes, a metade é totalmente independente e 40% sofre de limitações causadas por doenças como Parkinson e Alzheimer.

Na terça-feira passada, o local estava praticamente vazio. Lúcida e animada, a moradora mais velha do hotel explica: "Hoje teve passeio para Aparecida do Norte, mas eu já conheço", conta Celina Pires Martins, 101.

Professora aposentada e ex-bailarina, Celina desembolsa por volta de R$ 9.000 mensais para viver no local. Hóspede há cinco anos, ela se diz aliviada de não ter que cuidar mais do antigo apartamento no bairro Jardim Paulista.

"Só a minha sala de jantar era quatro vezes maior do que o apartamento no qual moro hoje, que tem 42 m². Aqui tenho serviço de quarto, mas faço questão de arrumar a cama do meu jeito", completa. Questionada sobre as casas de repouso, ela responde: "Conheci alguns locais de alto nível, mas prefiro o hotel. Tenho apenas 101 anos, ainda não estou em ponto de repousar. Se passar por aqui, pode bater no meu quarto".

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"Aqui não é asilo. É um hotel cinco estrelas cheio de atividades, o clima é alegre"
Sarita Fischel, 78

"Minha sala de jantar era quatro vezes maior do que o quarto do hotel, que tem 42 m²"
Celina Pires Martins, 101

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VIDA BOA

Atividades oferecidas pelos hotéis:

- quatro refeições diárias
- serviço de quarto
- roupas de cama e banho
- academia
- sauna
- sala de jogos
- biblioteca
- cinema
- piscina aquecida
- dormitórios adaptados com barras de segurança e botão de emergência
- serviço de enfermagem para primeiro atendimento e administração de medicamentos
- nutricionista
- convênios com empresas de acompanhantes
- espaço para cultos religiosos
- salão de beleza

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CASA DE REPOUSO X HOTEL

Saiba quais são as vantagens apontadas pelos hóspedes idosos:

- privacidade
- autonomia
- conforto
- mordomia
- maior qualidade das atividades recreativas
- ambiente menos triste

 

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