Legado de Rino Levi para a cidade vai muito além das obras celebradas na última semana

O Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo) anunciou na última semana o tombamento de sete obras do arquiteto ítalo-brasileiro Rino Levi (1901-1965), cinco delas em São Paulo.

Fim de um processo que se arrasta há 15 anos, a decisão vem preservar o edifício Garagem, na rua Riachuelo -primeiro estacionamento vertical da cidade-, a sede do antigo Banco Sul Americano do Brasil (hoje Itaú), na avenida Paulista, uma casa na avenida Nove de Julho, o conjunto formado pelo Cine Ipiranga e Hotel Excelsior, no centro, e a sede do Instituto Sedes Sapientiae, na Consolação, com suas grelhas quadradas de concreto pré-moldado, pilares, lajes e passarelas. A partir de agora, qualquer modificação na fachada e nos elementos internos dos edifícios terá que passar pela aprovação do órgão estadual.

Mas a boa notícia faz lembrar de dezenas de edifícios do arquiteto espalhados pela cidade, muitos deles descaracterizados, malcuidados, esquecidos ou mesmo demolidos ao logo da história (veja lista abaixo). Responsável pelo pedido do tombamento, o arquiteto e professor da FAU-USP Lúcio Gomes Machado apontou o mau estado de preservação do Hospital A.C. Camargo (Hospital do Câncer), na Liberdade, ou do edifício Concórdia, no centro, ambos descaracterizados. O antigo Laboratório Paulista de Biologia, na Vila Guilherme, virou campus da Uniban e ganhou um "anexo" em vidro azulado. "Melhor nem ver", ironiza o arquiteto.

Antigo amigo de Rino, o advogado Modesto Carvalhosa mencionou-o Plavinil-Elclor, atual sede do Ibope na alameda Santos, que no fim dos anos 90, teve sua fachada modificada, com a retirada dos brises cerâmicos que caracterizavam o edifício original. "Esse edifício era o manifesto tropicalista dele, sua grande solução para o problema da ventilação e do calor. A modificação foi um crime contra o patrimônio cultural", diz Carvalhosa.

Segundo a presidente do Condephaat, Rovena Negreiros, o processo de tombamento do Plavinil-Elcor foi arquivado "por apresentar descaracterização do projeto original".
Atualmente, o edifício é objeto de um concurso privado. Os cerca de 200 arquitetos e engenheiros inscritos tem até 28 de janeiro para "propor soluções que equacionem a busca por eficiência energética na operação do prédio e o resgate histórico do projeto criado por um dos ícones da arquitetura brasileira". A proposta vencedora receberá R$ 50 mil. Nada garante, porém, que será executada. Entusiasta do crescimento urbano planejado, Levi foi um dos mais ativos integrantes da moderna arquitetura paulista. Participou da formação e construção do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Sua amizade com Burle Marx rendeu parcerias memoráveis entre arquitetura e paisagismo.

Os excluídos...
Alguns projetos de rino pela cidade, sem tombamento, em diferentes graus de conservação

Edifício Paulo de Tarso Montenegro - Al. Santos, 2.101 (atual sede do Ibope)
Edifício Guarani - r. Florêncio de Abreu nº 47
Edifício Concórdia - r. Paula Sousa, 355
Banco Paulista do Comércio - r. Boa Vista, 304
Edifício Trussardi - av. São João, 1.032. Previa lojas no andar térreo e três apartamentos por andar
Cinema UFA-Palácio - av. São João, 407 e 419. A partir de 1939, virou o Art-Palácio. Hoje, exibe apenas filmes eróticos
Edifício Porchat - Na esquina da São João com a rua Apa, fica hoje bem em cima do Minhocão
Hospital A.C.Camargo - r. Prof. Antônio Prudente, 211, Liberdade

Algumas das obras demolidas ou destruídas

• Casa Ferrabino, de 1931
• Edifício Columbus, de 1932, na r. Brigadeiro Luis Antonio. Foi demolido entre 1970 e 1971
• Residência Rino Levi, de 1944, na rua Bélgica com a rua Suécia, no Jardim Europa
• Teatro Cultura Artística: pegou fogo em agosto de 2008. Segundo o Condephaat, a decisão não foi de reconstrução nem de restauro do projeto original, desfigurado pelo incêndio. O órgão tombou a entrada principal remanescente. Um novo projeto do teatro, de autoria de Paulo Bruna já foi aprovado