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Educação do ouvido
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MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo
"A Vida dos Grandes Compositores" é uma instransigente defesa da invenção musical
Os frequentadores das salas de concerto são hoje atraídos mais pelos intérpretes do que pelas obras executadas. Regentes estelares, orquestras e virtuoses internacionais transformaram as audições em eventos sociais indiferentes ao repertório.
Haveria justiça estética nessa atitude (afinal, a música só se realiza na performance, como já salientou o ensaísta Edward Said) se o público não fosse atraído para os recitais de Maria João Pires ou Itzhak Perlman pelas mesmas razões que ovaciona Paul McCartney e Maria Bethânia. Convenhamos, a execução apenas correta de um quarteto de Béla Bartók deveria ser mais gratificante do que a interpretação perfeita de uma rapsódia húngara de Liszt --sobretudo para quem não sabe detectar nuances técnicas.
"A Vida dos Grandes Compositores", de Harold C. Schonberg, funciona como correção de rota, se é que é possível reverter esse estágio avançado de "regressão da audição", associada ao culto da celebridade.
O título é enganoso. Crítico do "New York Times", Schonberg (1915-2003) não traça biografias dos compositores, mas procura identificar o significado de suas obras na maneira como reagem ao mundo e à tradição.
Se o evolucionismo estético é o aspecto criticável desse trabalho de grande erudição, ele explica algumas opções que causam estranheza. Num livro que começa com Monteverdi, a ausência de Vivaldi chama a atenção, e só muito à frente, no ácido capítulo sobre os minimalistas (Philip Glass, Steve Reich), compreendemos a supressão do "padre vermelho".
Ao abordar as células repetidas à exaustão por Reich, Harold aproxima o minimalismo ao concerto grosso de Vivaldi, com seus "padrões melódicos puramente sequenciais e previsíveis".
Harold prefere o choque emocional que ressoa após o abrupto silêncio final de "A Arte da Fuga" de Bach, o "senso dramático de conflito e resolução" de Beethoven, o cromatismo selvagem e rigoroso por trás das pesquisas etnomusicais de Bartók --escolhas intransigentes de um crítico que ensina o que vale ser ouvido, para além dos fetiches de coluna social.
LIVRO
A VIDA DOS GRANDES COMPOSITORES **
AUTOR: Harold C. Schonberg
TRADUÇÃO: Wagner Souza
EDITORA: Novo Século
(744 págs., R$ 99,90)
conexões
LIVROS
O RESTO E RUÍDO **
O crítico analisa o significado estético-social da música erudita no século 20, em contraste com formas populares como o jazz e o rock.
AUTOR: Alex Ross
EDITORA: Companhia das Letras (2009, 688 págs., R$ 68)
O LIVRO DE OURO DA HISTÓRIA DA MÚSICA **
Reedição de "Uma Nova História da Música", em que o austríaco que viveu no Brasil analisa os principais movimentos da música ocidental.
AUTOR: Otto Maria Carpeaux
EDITORA: Ediouro (2001, 240 págs., R$ 59,90)
LIVRO
USINA *
José Lins do Rego (José Olympio, 400 págs., R$ 39)
O paraibano José Lins do Rego representa a vertente mais política do regionalismo: embora impregnados pelas lendas dos engenhos nordestinos, seus romances sempre derivam para uma visão pessimista e crítica. Em "Usina", que integra o "ciclo da cana-de-açúcar", o protagonista de "O Moleque Ricardo" reencontra, no espaço idílico da infância, as aberrações de uma dinâmica social arcaica.
FILME
REDS *
Warren Beatty (Paramount, R$ 29,90)
Baseada no livro "Os Dez Dias que Abalaram o Mundo", do jornalista e militante comunista John Reed, a megaprodução dirigida e estrelada por Warren Beatty reconstitui a Revolução Russa de 1917. Com soberba fotografia e participações de Jack Nicholson e Diane Keaton, equilibra a monumentalidade histórica e o drama pessoal de Reed, único norte-americano sepultado no Kremlin.
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