Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Acompanhe a sãopaulo no Twitter
08/12/2010 - 16h33

Fotografar obras da Bienal é mania entre os visitantes da mostra

Publicidade

GUSTAVO FIORATTI
DE SÃO PAULO

A 29ª edição da Bienal de São Paulo não vai acabar no próximo domingo, dia 12 de dezembro, como planejado. O maior evento de artes plásticas da cidade deve, a bem da verdade, cruzar indefinidamente décadas em cartões de memória e arquivos digitais, graças ao trabalho em mutirão de um público que, com suas câmeras sempre a postos, faz questão de registrar tudo o que vê pela frente.

A febre de levar para casa imagens de quadros, projeções, esculturas e instalações cria uma nova postura dentro do prédio de Oscar Niemeyer, onde acontece a mostra. A mão sempre em riste, mirando detalhes, tornou-se regra. A pedido da sãopaulo, visitantes flagrados com um aparelho foram intimados a enviar seus retratos para uma coleção ímpar.

Nada que interfira na santa paz da arte contemporânea. Desde 2004, diante de um primeiro surto de cliques, a fundação Bienal libera o registro de peças que integram a mostra. Na ocasião, os seguranças ainda suaram o terno para conter os visitantes. O problema era impedir 900 mil pessoas (o total em cinco meses) de usar também o celular. Relaxar, de repente, pareceu inevitável.

Hoje, a liberdade é total. "Não vejo nenhum problema", diz o curador da mostra, Moacir dos Anjos. "Isso é um sintoma que não diz respeito apenas à Bienal de São Paulo. As pessoas fotografam absolutamente tudo atualmente. Elas têm essa compulsão de ver tudo através da lente de uma câmera", analisa.

Para o curador, a foto serve, nesse caso, como uma espécie de confirmação do que foi visto. Também passa aquele famoso atestado do "eu estive lá". "Isso é um fenômeno mundial que tem a ver com a ideia de transformar exposições em espetáculos."

Os motivos para esse tentáculo humano-tecnológico que abastece computadores e a própria internet podem ganhar feições variadas. A arquiteta Luciana Monte-Mor, 35, por exemplo, utiliza fotos para pesquisas pessoais. Ela revê as imagens em casa enquanto levanta o histórico dos autores das obras que lhe interessaram.

Já o músico João Paulo Prazeres, 26, assume suas fotografias como uma espécie de memória paralela, ou ainda como remissões do passado. "É como colecionar pontos de vista, os meus pontos de vista", sintetiza.

Há uma frase similar a essa no livro "Sobre Fotografia" (Companhia das Letras, 224 págs.), espécie de bíblia do assunto, lançado pela escritora americana Susan Sontag nos anos 1970. Ao comentar o filme "Tempo de Guerra", de Jean-Luc Godard, sobre dois camponeses que retornam da guerra com uma mala cheia de fotografias, ela diz: "Colecionar fotos é colecionar o mundo".

Habituado com as reproduções de suas obras na internet, o artista Ernesto Neto (que tem uma instalação no terceiro andar da Bienal) defende o uso da máquina. "É uma forma de expressão muito forte na sociedade contemporânea." A interpretação de Neto passa pelo conceito de um mundo "superficial e superbrincalhão".

Mas o artista chama a atenção para distorções de significados. Em sua opinião, a fotografia de uma obra não se vale dos caminhos oferecidos pela obra em si. "A foto interfere no que a obra comunica, porque é um recorte pessoal do que se viu", argumenta.

Esse é um dos motivos que levam a Pinacoteca de São Paulo a não permitir fotos em algumas exposições, como na de Andy Warhol, realizada no início do ano. A proibição, que protege os direitos autorais do artista e evita eventuais cópias, nesse caso foi exigida pelo Museu Andy Warhol, de Pittsburgh, que emprestou parte de sua coleção à exposição.

Mas o acervo da Pinacoteca, assim como outras mostras ali exibidas, pode, sim, ser fotografado. As restrições recaem apenas sobre o uso de flash. "A luz pode deteriorar algumas obras, especialmente os trabalhos em papel", diz Moacir. Na Bienal, portanto, flash é proibido.

dúvidas

Postar a foto de uma obra em site sem autorização fere direitos autorais?
A lei permite a reprodução, desde que "não prejudique a exploração da obra nem cause prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores".

Por que não é permitido fotografar com flash?
Luz intensa pode deteriorar obras produzidas em alguns suportes, principalmente em papel.

Fontes: Moacir dos Anjos, curador da Bienal, e Marcos Bitelli, advogado de direitos autorais

SERVIÇO
29ª Bienal de São Paulo Pq. Ibirapuera, portão 3. Seg. a qua., 9h às 19h. Qui. e sex., 9h às 22h. Sab. e dom., 9h às 22h. Até 12/12. Entrada gratuita. Tel. 5576-7600.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página