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12/12/2010 - 18h57

Tombamento vai mudar a cara do complexo psiquiátrico Juquery

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NATÁLIA ZONTA
DE SÃO PAULO

Muitos dos prédios amarelados já estão vazios e, entre as construções ocupadas, perambulam os últimos 236 pacientes internados no Complexo Hospitalar do Juquery, em Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo. O conjunto arquitetônico, em parte projetado por Ramos de Azevedo, guarda parcela importante dos estudos de psiquiatria no Brasil. Agora, o Condephaat, órgão de preservação do patrimônio estadual, reconheceu seu valor histórico e tombou as 34 estruturas originais e os jardins do espaço, dando fim a um processo de quase 25 anos.

O tombamento dá esperanças à diretoria do hospital, que espera recuperar os edifícios históricos e dar novo uso a eles. Os pavilhões projetados por Ramos de Azevedo estão quase totalmente desocupados. Em um deles há um pequeno pronto-socorro, e outro é ocupado por uma cozinha.

Daigo Oliveira/Folhapress
O complexo psiquiátrico Juquery, em Franco da Rocha, SP, que foi tombado em um processo que durou quase 25 anos
O complexo psiquiátrico Juquery, em Franco da Rocha, SP, que foi tombado em um processo que durou quase 25 anos

Uma das propostas é que escolas técnicas ocupem o espaço. "A ideia é fazer um memorial em dois pavilhões e firmar parcerias com o setor da educação para restaurar e ficar com os demais", diz Pier Paolo Pizolato, diretor técnico de projetos e acervo. Para isso, o hospital planeja recorrer ao BNDES ou à Lei Rouanet.

Em 2005, um dos prédios mais pomposos do complexo, onde funcionava a biblioteca, pegou fogo e livros e documentos foram perdidos. No entanto, pelo menos 8.000 obras produzidas por pacientes na década de 1940 e muitos prontuários continuam ali. "Queremos mostrar isso ao público. Ainda temos peças históricas de estudo de anatomia da década de 1930, que estão em fase de catalogação", afirma Pizolato.

Por meio de parcerias, o hospital tenta preservar esse acervo. "Quando alguém nos pede itens emprestados, em contrapartida, pedimos que eles sejam restaurados. Foi o que ocorreu quando parte das obras foi exposta no Palácio do Horto", diz. O prédio em ruínas, no entanto, deve ficar como está para revelar ao público essa parte da história do complexo.

Novo uso
Atualmente, o Complexo Hospitalar do Juquery funciona como um hospital de clínicas, mas ainda carrega o estigma de manicômio. Os 236 internados na psiquiatria estão lá porque não têm contato nenhum com familiares. As casas térreas onde ficam ainda conservam as grades nas janelas e parece que pararam no tempo. Os jardins, podados de tempos em tempos, têm grama alta e um ar de abandono.

Segundo a diretoria do complexo, a média de tempo de internação dos pacientes remanescentes é de 35 anos e quase todos são idosos. Quando um deles recebe alta ou morre, o leito é fechado definitivamente.

No início do ano, o espaço ganhou o Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental, que funciona onde era o pavilhão de tuberculosos. O prédio de 1933 foi restaurado para ganhar nova função, com um perfil de atendimento diferente, sem internações longas, para pacientes agudos.

Atrás dele já está erguido o novo Hospital Estadual de Franco da Rocha, que deve ser inaugurado ainda neste ano para substituir o hospital de clínicas. Assim que for aberto, todas as antigas construções serão desocupadas.

"O Juquery é muito grande, o que prejudica o atendimento. Para ir de um prédio para outro é preciso andar 400 metros. Hoje a medicina pede uma arquitetura vertical, onde problemas são resolvidos em andares diferentes", diz Pizolato.

História
Fundado em 1898, o Juquery ganhou fama no trato de doenças psiquiátricas. "No início, o hospital trouxe a São Paulo a psiquiatria e era um importante centro de estudos, muito respeitado pelos médicos", diz a psiquiatra da Faculdade de Medicina da USP Lygia Maria de França Pereira, que fez mestrado e doutorado sobre o hospital.

Com o tempo, a superlotação se tornou um dos problemas crônicos do hospício. Entre as décadas de 1960 e 1980, 18 mil pessoas estavam internadas ali e o local foi chamado até de "depósito de gente". A desativação efetiva começou apenas em 2005. No último mês, 12 pacientes deixaram a instituição.

Para Lygia Maria, a conservação do espaço e de seu acervo é essencial. "Os prontuários feitos a partir de 1909 são riquíssimos, com discussões filosóficas e detalhamento dos sintomas", conta.

Principais fases do hospital

1898-1923
Com Franco da Rocha na diretoria do complexo, são construídos prédios, instaladas oficinas e colônias agrícolas

1923-1937
Pacheco e Silva assume a direção e começam as terapias biológicas. O médico ficou conhecido por dar impulso às pesquisas científicas

1938-1945
Com a Era Vargas, começa um processo de "limpeza" das cidades. Com isso, o número de internações aumenta

1950-1960
O número de pacientes chega a 18 mil. Sem produzir pesquisas científicas relevantes, perde o prestígio. A partir desse período entra em decadência e só começa a ser desativado em 2005

Curiosidades

Complexo guarda registros da história da psiquiatria no país

Apenas em 1909 os pacientes do hospital ganharam prontuários individuais. Anteriormente, o estado de saúde de todos que entravam ali era registrado em um único livro

O Juquery era autossuficiente. Franco da Rocha, primeiro diretor, pregava a laborterapia, quando o trabalho é utilizado no tratamento, e cada paciente tinha uma função. Ele cortavam a grama, plantavam e faziam a manutenção dos prédios

Os edifícios já desativados da Fundação Casa (antiga Febem) de Franco da Rocha ficam dentro do terreno do complexo hospitalar

Cenas do filme "Bicho de Sete Cabeças" (2001) foram filmadas no local. Um dos prédios usados foi o da biblioteca

Até hoje, pacientes produzem obras de arte. Semanalmente, eles são levados ao MAM (Museu de Arte Moderna) para fazer oficinas

 

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