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24/12/2010 - 12h00

Era uma vez um gato xadrez

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VIVIAN WHITEMAN
DE SÃO PAULO

Christopher Bailey é um mestre do xadrez. Com seu estilo discreto e paciente, assumiu a direção criativa da Burberry em 2001, época em que os negócios da grife passavam por um momento difícil. Com muita paciência e uma série de jogadas estratégicas, Bailey virou o jogo.

Divulgação
Christopher Bailey, diretor criativo da grife Burberry desde 2001, quando a marca passava por uma má fase
Christopher Bailey, diretor criativo da grife Burberry desde 2001, quando a marca passava por uma má fase

"Quando assumi, a Burberry era um diamante empoeirado, trancado numa gaveta. Digamos que eu tirei toda a poeira e, de repente, as pessoas se lembraram de que estavam diante de um grande tesouro inglês", disse o estilista, entre pausas pensativas do outro lado do telefone.

Bailey, 39, não só fez a Burberry voltar a ser apreciada por jovens e fashionistas famosos (da apresentadora Alexa Chung à atriz Sarah Jessica Parker) como livrou a marca do anti-marketing dos chavs -"gangues" de jovens ingleses que se vestiam dos pés à cabeça com falsificações do xadrez clássico da grife. A ideia foi simples: tirar os bonés estampados das lojas e criar coleções com tecidos cada vez mais sofisticados, nas quais o padrão quadriculado aparecia apenas em pontos estratégicos.

Neste ano, Bailey avançou com suas peças na direção das novas tecnologias. Transmissões ao vivo de desfiles, páginas no Twitter e no Facebook, aplicativo de e-commerce para iPad e, para finalizar, um projeto on-line totalmente dedicado à peça mais clássica do repertório da grife: o trench coat. "As pessoas podem postar fotos delas com seus trenchs Burberry, criando uma comunidade que tem a marca como elemento de ligação", analisa, mostrando seu lado "homem de negócios".

Quando está descansando em sua casa, em Londres, no entanto, Bailey não é muito fã do mundo virtual. Prefere cozinhar alguma coisa ou abrir um livro. Estrategista que é, juntou as duas paixões em uma quando descobriu a obra do chef-escritor Nigel Slater. "Estou lendo 'Toast', que é um romance muito delicado sobre a relação de um menino com a comida. No fundo, comida é amor, certo?", filosofa.

A conversa sobre comida cai, de alguma forma, na feijoada que o cozinheiro-celebridade Jamie Oliver certa vez preparou em um de seus programas, e Bailey fica muito surpreso ao saber que o moço, um de seus melhores amigos, é super conhecido no Brasil. "Eu não tinha ideia de que Jamie era assim tão famoso! Vou ligar pra ele e dar os parabéns. Acho que eu não tenho tantos fãs assim no Brasil..."

Pura modéstia. A Burberry acaba de reabrir sua loja, reformada e ampliada, no shopping Iguatemi, em São Paulo. Além disso, a grife terá um novo ponto de vendas no badalado shopping JK, também na capital paulistana, que deve ser inaugurado em 2011. Em setembro do próximo ano, o próprio Bailey virá ao Brasil para a inauguração da loja.

Nas araras do Iguatemi, estarão as jaquetas e trenchs decorados com tachas e metais que Bailey apresentou na última London Fashion Week, em setembro. Segundo o estilista, a ideia dos adornos veio do próprio arquivo da grife. "Thomas Burberry [fundador da marca] era um sujeito esportista e adorava motocicletas. Ele fez muitas peças nesse estilo, coisas que nunca havíamos reeditado. Então, resolvi usar essa referência, adicionando um pouquinho de espírito punk."

Aliás, o calmo, educado e tímido Bailey já foi punk. E um pouco dark-gótico. Também aderiu aos cabelos desgrenhados, make pesado e golas enormes do movimento "new romantic". "Sabe, eu era relativamente bonito e popular na escola, estava sempre na moda", diz, soltando um risinho britânico. Em seu playlist de favoritos, estão The Kinks, Rolling Stones e
Bob Dylan. Mas é a cantora Joni Mitchell quem parte seu coração. "Às vezes é tão intenso que fica difícil ouvir certas canções."

Bailey gosta tanto de música que criou um projeto chamado Burberry Acoustic, no qual seleciona novas bandas para sessões e shows especiais. "Eu mesmo vou aos bares, faço a seleção. Você já ouviu Ramona e One Night Only? Eles são incríveis, e é um prazer promover gente talentosa", conta Bailey.

Apesar de frequentar pequenos clubes com música ao vivo, Bailey não é baladeiro. Diz que trabalha demais e que às vezes sonha em chegar logo em casa para deitar em sua cama confortável, longe da agitação das festas e da frieza dos hotéis. É um moço de família, que curte mesmo é brincar com os dois sobrinhos, filhos de sua única irmã. "Só preciso me conter para não vesti-los de Burberry dos pés à cabeça. Mas eles ficam tão fofos!", derrete-se o tio babão.

Ao contrário do patriarca Thomas Burberry, Bailey não é o que se pode chamar de esportista nato. Mas se arrisca com a raquete de tênis e tem uma amiga e "treinadora" das mais experientes, a top-tenista Serena Williams. "Você não tem ideia de como ela é doce e divertida. Sempre que posso vou vê-la em Wimbledon, e ela vai aos meus desfiles. Não é marketing, é amizade mesmo."

A essa altura, o leitor de coração mais mole já devem ter se rendido ao charme desse inglesinho de West Yorkshire. Nesse caso, melhor preparar os lenços.
Assumidamente gay, Bailey viveu uma história de amor tão bonita quanto trágica com o belga Geert Cloet. Os dois se conheceram quando Cloet trabalhava para a Prada, e Bailey, para a Gucci.

Cloet foi diagnosticado com um tumor cerebral aos 34 anos, em 2004, e morreu em julho de 2005. Arrasado, Bailey se concentrou no trabalho e criou um fundo de pesquisa para ajudar pessoas com o mesmo problema. A carta que ele escreveu para o lançamento do fundo é um soco no peito. "Eu penso em Geert a cada momento e lamento profundamente que ele não esteja ao meu lado para aproveitar a vida que compartilhávamos e que sonhamos juntos, mas ele continua me dando forças. Geert será sempre a luz que me guia."

Mas o jogo da vida dá voltas, e Bailey acaba de iniciar um novo movimento em direção a finais mais felizes. "Quando você acha que nada mais vai dar certo, que o seu coração está petrificado e que o futuro só reserva o tédio, o amor acontece. Estou namorando uma pessoa, e só posso dizer que, depois de um sofrimento insuportável, estou feliz de novo." É, Christopher Bailey, xeque-mate.

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