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26/12/2010 - 16h07

Lula, o instituto

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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

Bairro nobre de São Paulo. Em meio a um parque com árvores que um dia foram catalogadas por Burle Marx, repousa fulgurante o edifício-escultura mais comentado dos últimos tempos.

Levou tempo para sair do papel, quase dois mandatos presidenciais (em medida usada no Distrito Federal), e muita água rolou pelo buraco do Ademar para chegarmos ao dia de hoje.

Comenta-se que Frank Gehry e Santiago Calatrava teriam batido boca durante a concorrência para decidir pelo arquiteto que realizaria a obra. Mas, no fim das contas, a disputa acabou ficando mesmo entre Ruy Ohtake e Oscar Niemeyer, que, embora não sejam os únicos dois arquitetos tapuias, acabam assinando 100% das obras arquitetônicas de alguma importância que são licitadas no país.

Bem, mas, finalmente, cá estamos reunidos na inauguração do Instituto Luiz Inácio Lula da Silva, uma justa homenagem ao melhor e mais sexy presidente de todos os tempos -Bill Clinton, Silvio Berlusconi e FHC que me perdoem, mas não tem para mais ninguém.

A presidente Dilma, recém-reeleita para seu segundo mandato, a despeito de acusações de ter triplicado cargos públicos federais, acaba de fazer um discurso agradecendo a Lula por ter nascido e implorando que ele volte ao Planalto.

Consigo atravessar a multidão e a passarela sobre o espelho d'água da entrada principal. Quando me dou conta, estou adentrando a primeira sala da fundação dedicada ao nosso imaculado presidente.

Nunca na história deste país viu-se uma construção tão linda e tamanho primor organizacional. Ao meu redor estão reunidas, em ordem alfabética e divididas por Estado da União, todas as camisas de futebol, as bolas, os troféus, as flâmulas e as faixas de times que Lula ganhou de presente em seus dois primeiros mandatos.

Assim que me recupero do êxtase e da variedade futebolísticos, tomo a direção da estátua de Lula talhada no mais transparente mármore de carrara, que ocupa o vão central do edifício.

Não posso deixar de admirar a harmonia das proporções. Surpreendo-me apreciando uma parte em especial da anatomia presidencial: que orelhinhas mais bonitinhas!

Não é que a Luiza Brunet está coberta de razão? Além de superar em sabedoria o rei Salomão, de ter mais fibra do que Lord Nelson, de ter acabado com a pobreza e a violência em nosso país e de ter encontrado a cura do câncer, Lula também vem a ser uma espécie de George Clooney hirsuto. Só não vê quem santa Luzia desdenhou.

Pelo que me informa o guia impresso que eu trouxe de casa, a próxima sala a ser visitada deveria ser a biblioteca, mas não consigo localizá-la. Será esta portinha minúscula que eu vejo aqui? Ah, então não vale a pena, melhor seguir direto para a sala dos clipes e dos "post-its". Em vez de livros, o maior brasileiro de todos os tempos coleciona clipes e "post-its", sabia não?

A sala seguinte é minimalista ao máximo, toda em branco, enxuta e muda da cabeça aos pés, sem qualquer objeto ou demarcação. Não vejo nenhuma placa, mas algo me diz que deve ser o espaço dedicado à primeira-dama Marisa Letícia.

Passo pela grandiosa galeria de fotos presidenciais em que Lula está perfilado a ditadores africanos, déspotas do Oriente Médio, populistas latino-americanos e terroristas italianos e vou ter finalmente na sala principal do instituto.

É lá que eu vivo a mais indescritível experiência sensorial da vida, uma coisa assim "son et lumiére", patrocinada pelos bancos Itaú, Santander, Bradesco e HSBC, além, é claro, de Petrobras e Caixa Econômica, e dirigida pela Tizuka Yamazaki. Chama-se "Lula, a Intuição" e diz que, no ano que vem, o show viaja para Las Vegas e se apresenta no Cirque du Soleil. Bom começar a se sacudir desde já, não é mesmo, Les Invalides e Biblioteca Kennedy?

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