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16/01/2011 - 11h01

Conheça os integrantes de uma das maiores companhias de dança de SP

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GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO

Jeferson Coppola/Folhapress
Bailarina Fernanda Bueno sobe as escadas para entrar no palco do auditório do Ibirapuera, na zona sul
Bailarina Fernanda Bueno sobe as escadas para entrar no palco do auditório do Ibirapuera, na zona sul

O sacrifício do corpo em nome da dança

"Plié, segunda, flex, ponta. Envelopper, développer. (....) Meia-ponta. Solta bem a virilha, tá? Sobe mais a perna do que o tronco. (...) Fora, fora, fora. Plié. Dentro, dentro, dentro."

Com música sincopada ao fundo, 33 bailarinos começam mais um dia de trabalho. As aulas dos professores Milton Kennedy e Liliane Benevento revisitam os fundamentos do balé clássico para bailarinos especializados em dança contemporânea.

O Balé da Cidade é um dos chamados corpos estáveis do Teatro Municipal (junto com a Orquestra Sinfônica Municipal e a Escola Municipal de Bailado, entre outros). Administrada pela prefeitura, a companhia fundada em 1968 ensaiava o espetáculo "Giselle".

Todo dia sempre igual e todo dia diferente. Aulas, almoço, ensaio dos espetáculos do repertório e aprendizado de novas coreografias.No lugar de tutus rosados, frufrus ou sapatilhas de ponta, eles treinam no dia a dia vestindo calças largas, camisetas soltas e meias nos pés.

Na sede do grupo, na Bela Vista, os bailarinos chegam pontualmente às 9h, para ali ficarem até as 15h40. Depois, são "livres". Fazem faculdade, vão ao bar, namoram...

Até segundo aviso, eles se relacionam muito bem. Fazem piadas entre um alongamento e outro. Dividem os vestiários e os sofrimentos de trabalhar arduamente o corpo por sete horas. Na hora do almoço, esquentam num microondas seus tupperwares: macarrão com frango, lentilha, açaí, salada. Quem não teve tempo de cozinhar pede um PF. O corpo escultural vem do trabalho constante, e não de um regime especial.

A estrutura dos movimentos de cada cena do espetáculo vai sendo criada, revista, modificada repensada. "Giselle" está em gestação.

O santo remédio

"Mirtax é indicado no tratamento dos espasmos musculares associados com dor aguda", diz a bula. Os comprimidos do relaxante muscular fazem parte do cotidiano dos bailarinos.

Com lesões musculares frequentes, eles têm duas fisioterapeutas à disposição.

Érika Ishimaru operou um joelho e sobrecarregou a outra perna nos ensaios. Sem saber se ia poder dançar, passava as aulas sentada, massageando a perna. "Estou tentando qualquer coisa. Galinha preta, macumba..." Funcionou. Na estreia, estava a postos.

Orgulho e preconceito

Nos anos 1980, a gestão Jânio Quadros (1985-1988) proibiu o Teatro Municipal de contratar homossexuais. Ainda hoje, encarar olhares tortos faz parte da rotina dos meninos do balé

"Danço há 12 anos. Meu pai nunca me assistiu", David Caldas

"Meu pai disse: 'Meu filho, faça o que você quiser. Contanto que você faça bem feito, ninguém vai poder falar um pio", Tutto Gomes

"Meus amigos de escola achavam muito estranho. Riam de mim, mas com o tempo incorporaram. Até hoje meu apelido nessa turma é Balé. 'Liga pro Balé', 'Vamos lá na casa do Balé...'", Victor Hugo Vila Nova

Ensaios em busca da perfeição

Na sede da companhia, os bailarinos ensaiam os movimentos da coreografia, mas, quando chegam ao Auditório Ibirapuera, local da apresentação, precisam se acostumar com o espaço do palco verdadeiro. Descobrir por onde entra, por onde sai, ter uma noção do todo. O processo é acompanhado pelo diretor do espetáculo, Luiz Fernando Bongiovanni, de microfone na mão, fazendo acertos e marcações no chão.

Num segundo momento, começam os ensaios com a orquestra, que toca um pouquinho mais devagar do que a gravação com que ensaiaram exaustivamente.
"Giselle" é um espetáculo dos mais clássicos. Dançado pela primeira vez em Paris, em 1840, foi montado por companhias ao redor do mundo, com sua protagonista graciosa e lírica. Na releitura contemporânea do Balé da Cidade, Bongiovanni colocou três bailarinas para dançar simultaneamente o papel, como se fossem três facetas de uma mesma personalidade.

Em pleno ensaio geral, chega a notícia de que os ingressos estão esgotados. O grupo comemora com pulinhos, gritos. A noite vai ser boa. Saindo do Ibirapuera, aproveitam que estão perto de Moema e vão comemorar o aniversário da bailarina Roberta Botta num bar da alameda Jauaperi.

O que acontece numa noite de estreia

Sexta-feira, 17h. Com estreia marcada para as 21h, as meninas ainda reclamam do sapato. Chamam a figurinista, gritam. Segundo elas, com a meia-calça, ele fica escapando do pé. "Desse jeito não dá para dançar." Correm para lá e para cá para tentar resolver o problema. Improvisam elásticos para segurar, conversam com a a diretora.

Quando a noite cai, a adrenalina aumenta nos camarins. Maquiadores cuidam do look das solistas. O resto dos bailarinos vai tirando as nécessaires da mochila e se maquiando por conta própria. Uma ajuda a outra a fechar um zíper, a prender um alfinete. Quando o relógio marca 20h45, voam doses cavalares de desodorante e a saudação clássica de todo artista: "Merda! Merda! Merda!"

Enquanto isso, a diretora da companhia, Lara Pinheiro, recebe os convidados e os cumprimentos no saguão de entrada. Na plateia, o secretário municipal da Cultura de SP, Carlos Augusto Calil, e seu colega recém-empossado no Rio, Emílio Kalil, acomodam-se na frente.

"Ser bailarina é difícil. Não pode engravidar. Não pode machucar... Mas não existe nada melhor do que, com a cortina fechada, ficar escutando o burburinho da plateia", diz Thaís França.

Onde Vê-los

Março
Primeiras apresentações da temporada 2011 nos dias 4, 5 e 6: "Terra Papagallis", no Centro Cultural São Paulo (tel. 3397-4002)

Dias 15, 16 e 17: "Giselle", no Auditório Ibirapuera (3629-1075)

Abril
A companhia participa das comemorações do centenário do Teatro Municipal com um espetáculo inédito criado pelo coreógrafo grego Andonis Foniadakis

Outubro
Parte para turnê europeia, passando por Alemanha, Holanda, Luxemburgo e Espanha

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