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23/01/2011 - 09h57

Dez problemas atormentam toda a cidade de São Paulo

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NATÁLIA ZONTA
OCIMARA BALMANT
DE SÃO PAULO

Da multiplicação das cracolândias à falta de estacionamento, veja questões que afetam o dia a dia do paulistano:

1 CADÊ OS CORREDORES?
A expansão das linhas de metrô não vai resolver o problema do transporte público. Segundo especialistas, para que o paulistano deixe o carro em casa, é preciso investir mais em corredores de ônibus: tanto na construção de novas faixas exclusivas como em melhorias nos dez corredores atuais, o que inclui faixas para ultrapassagem. Marcos Bicalho, da ANTP (Associação Nacional de Transporte Público), sugere que a CET trabalhe com corredores operacionais: faixas comuns que, em horário de pico, seriam usadas apenas pelos ônibus. "Facilita, porque é possível criar à medida que for preciso." Em nota, a SPTrans afirmou que está previsto um investimento de R$ 92 milhões na requalificação de sete corredores e outros R$ 60 milhões na implantação de novos eixos.

2 FAVELA DE QUATRO ANDARES
A cena é comum. A família cresce e as construções das favelas vão ganhando mais andares, sem um alicerce adequado. Em locais como Heliópolis e Paraisópolis, por exemplo, há algumas com até quatro pavimentos. "Isso acontece porque a favela tem índice demográfico maior do que o do restante da cidade e, além disso, tem um espaço pequeno e delimitado", diz o arquiteto Ruben Otero, professor da Escola da Cidade. Ele explica que o risco é grande quando a favela está em área íngreme ou às margens de córregos. "O problema nem é tanto a construção, mas as condições do subsolo, que são comprometidas."

3 NO ESCURO
Apesar de precisar melhorar na inclusão de deficientes, a cidade avançou: calçadas ganharam guias rebaixadas, boa parte dos elevadores tem acesso a cadeirantes, o ensino de libras cresceu. Os cegos, no entanto, continuam com dificuldades. Faltam semáforos sonoros para pedestres, sinalização em braile e aviso em áudio nos pontos de ônibus. No rol de obstáculos, eles ainda esbarram com bueiros abertos e com mesas e cadeiras nas calçadas. Dos 2.287 cruzamentos com semáforos de pedestres em SP, apenas quatro são adaptados para cegos --apitam durante o tempo em que a passagem está permitida. Nos elevadores, o som também é importante. "É preciso dizer 'porta abrindo, porta fechando, primeiro andar'. Se não, o cego fica passeando sem saber onde descer", diz Suzete Rugno Arruda, da Fundação Dorina Nowill.

4 MAIS GENTILEZA, POR FAVOR
Cada paulistano pode fazer a sua parte para melhorar o convívio na cidade:
não usar o caixa preferencial no mercado
não ouvir música alta no ônibus e no metrô
deixar a calçada em boas condições
ficar à direita na escada rolante
não queimar a faixa do estacionamento
no ônibus, se sente perto da janela, para que outro sente-se ao lado
compartilhar a mesa no fast food
obedecer a cadeira numerada nos estádios
respeitar a ciclovia do parque: não andar de skate nem de patins na área

5 ONDE ESTÃO AS CRECHES?
Dados de dezembro de 2010 mostram que cerca de 100 mil crianças não têm vaga. "A expansão da rede segue um ritmo muito inferior ao necessário", diz Salomão Ximenes, coordenador do Creche para Todos. Para ele, a falta de planejamento faz com que o município estabeleça convênios com instituições privadas, em vez de construir prédios próprios. "As áreas onde há mais crianças são as que têm menor oferta de equipamentos privados que poderiam ser conveniados." A Secretaria Municipal de Educação informa que, desde 2005, o número de crianças matriculadas cresceu de 59 mil para mais de 130 mil.

6 BURAQUEIRA
Pelas ruas da cidade está um problema bem familiar aos motoristas: os buracos. Segundo a secretaria das Subprefeituras, estima-se que surjam mil buracos por dia em São Paulo. Os motivos que causam o relevo irregular são muitos. Entre eles, a má qualidade da mistura feita para cobrir as ruas e a falta de fiscalização do trabalho de concessionárias, que regularmente abrem buracos para manutenção do esgoto, canos de gás, entre outros. "Seria preciso seguir as normas na hora de fechar o buraco para que não houvesse irregularidades no solo", diz a coordenadora do laboratório de tecnologia do pavimento da Poli, Liedi Bernucci. A empresa que não conserta a área danificada pode ser multada em R$ 2.000.

7 QUE BARULHO!
Os ruídos de carros ou baladas parecem vencer qualquer barreira. A poluição sonora, embora invisível, afeta diretamente o paulistano. "Além do impacto na audição, o barulho pode causar perda do sono e estresse", diz o otoneurologista da Unifesp Mário Sérgio Munhoz. Segundo ele, é possível suportar por até oito horas ruídos com 85 decibéis, o equivalente a um liquidificador ligado. "Uma avenida chega a 110 decibéis. Uma pessoa só deveria ficar exposta a isso por cinco minutos." As reclamações de ruído ainda são muitas, mas caíram. Em 2009, o Psiu recebeu 33.046 chamadas. Em 2010, foram 29.046, o que gerou R$ 21 milhões em multas.

8 MULTIPLICAÇÃO DO CRACK
Quando surgiu, era na região da Luz. Hoje, as cracolândias se proliferam. Há "noias" próximos à Ceagesp e na avenida Roberto Marinho (zona sul). A estrada das Lágrimas, no Ipiranga, e o túnel sob a praça Roosevelt também são focos. "É preciso uma política para lidar com o tráfico do crack. Compra-se uma pedra por R$ 2", afirma Ronaldo Laranjeira, psiquiatra da Unifesp. Ele diz que o atendimento também é deficitário. "Quase um terço dos usuários morre nos primeiros cinco anos. Não é para prender o viciado, mas ele precisa receber assistência." A Secretaria Municipal de Saúde informa que, além do Serviço de Atenção Integral ao Dependente, com 80 leitos para internação, há 21 Centros de Atenção Psicossocial só para viciados --sem internação.

9 EMBAIXO D'ÁGUA
Corredores importantes como a marginal Pinheiros e as avenidas 23 de Maio e Aricanduva alagam em todos os temporais. Apesar disso, pouco é feito. Desde 1999, eles aparecem constantemente na lista do CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências), que registra os pontos de alagamento da cidade. Segundo a prefeitura, esses locais recebem serviços de limpeza no sistema de drenagem rotineiramente e, em alguns casos, há projetos em desenvolvimento para melhorar o escoamento das águas.

10 UMA VAGUINHA
Além dos congestionamentos, o paulistano também sofre na hora de parar o carro. Estacionamentos lotados são cada vez mais comuns. Pelas ruas, o espaço é disputado. "Tem de haver equilíbrio entre circulação e parada. O ideal é combinar estacionamento e transporte público", diz Maria da Penha Nobre, do Instituto de Engenharia. Segundo a CET, para criar um rodízio nas vagas, o sistema Zona Azul vem sendo ampliado. Em 2010 foram implantadas 749 vagas, totalizando 35.485.

COM A PALAVRA, OS PAULISTANOS

"A cracolândia é uma ferida aberta, uma epidemia, é o nosso Complexo do Alemão sem as armas. Um problema de segurança e saúde pública ao mesmo tempo. Uma vergonha para a cidade."
Heitor Dhalia, cineasta

"No ano passado, a rua Grécia [Jardim Europa], onde fica meu consultório, alagou. Eu perdi tudo --móveis, tapetes etc.--, mas pude reconstruir. Fico pensando nas pessoas que não puderam. A cidade, para ser boa, tem que ser justa com todos."
Eleonora Rosset, psicanalista

"O transporte coletivo, a preocupação com o meio ambiente e os cuidados com o processo de urbanização e ocupação desordenada são pontos que atualmente requerem mais atenção."
Abram Szajman, presidente da Fecomercio

"São Paulo é uma cidade cosmopolita e o transporte deficitário limita as trocas que a capital poderia permitir. A cidade funciona por causa de seus moradores e, às vezes, a despeito do poder público"
José Guilherme Magnani, professor de antropologia urbana na USP

"Me chama a atenção o abandono de imóveis públicos e privados no centro da cidade. Ao mesmo tempo, nas regiões próximas ao centro, todo dia uma nova torre começa a ser construída, estrangulando a vida cotidiana do bairro."
Mara Salles, chef do Tordesilhas

"Em São Paulo, a distribuição do acesso aos lugares e às terras urbanas ainda não está a serviço de um projeto justo e democrático. Os lugares e as terras da cidade atendem mais às agendas econômicas que visam unicamente ao lucro financeiro."
Kazuo Nakano, urbanista

"Muitos dos problemas que a cidade enfrenta seriam evitados se cumpríssemos a metade do 'mínimo' que podemos fazer: não jogar lixo nas ruas, reciclar, não pichar os muros..."
André Almada, proprietário da casa noturna The Week

"O maior problema de São Paulo é sazonal. No momento, são as inundações. Durante o inverno, a qualidade do ar. Ambos são causadores de muitas mortes."
Carlos Bocuhy, presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental)

"Precisamos de um tratamento antienchentes. Sabemos que elas voltam todos os anos, cada vez mais fortes, destruidoras e por período maior. E São Paulo, apesar de todo o desenvolvimento, PIB, riquezas, não escapa dessa estatística aterrorizante."
Rosângela Lyra, empresária

COLABOROU NATALIA ENGLER

 

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