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Comportas, alarmes e carro militar são armas contra alagamentos
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GIBA BERGAMIN JR.
DE SÃO PAULO
A sirene toca no fim da tarde e todos saem apressados assim que a tempestade começa. Minutos depois, 50 pessoas estão enfileiradas para entrar no caminhão militar com as inscrições "US Army". A operação parece mesmo de guerra, mas, no lugar de armas em punho ou rostos pintados de preto, eles vestem capas plásticas e empunham apenas seus guarda-chuvas após a jornada de trabalho na Vila Leopoldina (zona oeste da capital paulista). Para sair dali transpassando a água da enchente, só mesmo num veículo anfíbio.
Newton Santos/Hype/Folhapress | ||
Caminhão que foi usado pelo Exército americano em 1969 resgata funcionários de empresa em São Paulo |
É assim a rotina dos "soldados" da Dimep, empresa de sistemas de controle de acesso que, na iminência de uma chuva forte, aciona uma operação de emergência para evitar que seus funcionários percam seus carros na inundação ou fiquem presos no trabalho até o dia seguinte, como já aconteceu no passado.
As estratégias são parecidas em outras empresas da avenida Mofarrej, que cruza o bairro e alaga mesmo quando os temporais atingem regiões mais distantes. Naquele pedaço, além de prédios residenciais, muitos deles de alto padrão, estão uma agência de publicidade, um estúdio fotográfico e emissoras de TV. Em meio aos pontos de alagamento, são comuns anúncios de novos empreendimentos residenciais, mas também placas de "aluga-se" onde antes funcionavam fábricas.
Todas as companhias já foram vítimas da água imunda que verte dos bueiros assim que o nível do rio Pinheiros sobe. O resultado são as cheias que atingem também a Ceagesp, estragando frutas e verduras e causando prejuízos.
A quem está naquela área resta evitar que a água chegue dentro dos imóveis. Para isso, a maioria das empresas conta com sistemas de comportas e de bombeamento.
Há dez anos na avenida Mofarrej, a Dimep não só fez as obras antienchente como investiu R$ 50 mil no carro de guerra, usado pelo Exército americano em 1969 e que agora leva e traz funcionários até a estação do trem, a cerca de um quilômetro dali. Além do mecânico da empresa, o vice-presidente, Dimas de Melo Pimenta III, 34 anos, dirige o caminhão. "Há dois ou três anos, os funcionários dormiram aqui por causa da enchente. Fizemos as reformas e tivemos a ideia de ter um veículo para transportá-los em dia de alagamento. Aí compramos o caminhão de um colecionador", conta Pimenta, que comanda 700 empregados.
O empresário atendia à reportagem na tarde do último dia 14 (sexta-feira) quando uma chuva forte atingiu a capital. Em poucos minutos, a equipe da sãopaulo estava ilhada dentro da firma.
O jeito foi sair a bordo do caminhão, que pode ultrapassar pontos onde a água atinge até 1 m de altura. O clima ali é de alerta constante. O visitante que chega, antes mesmo de se apresentar, já é avisado pela recepcionista: "Não deixe o carro na rua. Vai alagar".
Embarcações e barreiras
Perto dali, comportas duplas e 14 bombas hidráulicas fazem parte do aparato da agência de publicidade Neogama/BBH, também na avenida Mofarrej, para evitar alagamentos que isolam os funcionários, como o que ocorreu em 2005. Hoje, há até estoque de alimentos para o caso de o drama se repetir. O próximo passo é a compra de um bote, que deve ser providenciado em breve, segundo a agência. No último dia 11, após a água da enchente baixar, os funcionários acharam um peixe numa poça na entrada da empresa.
No condomínio ao lado, onde ficam a TV Brasil e o estúdio do fotógrafo Bob Wolfenson, barreiras de ferro e uma rampa barram a enxurrada, e um alarme é acionado em caso de chuva forte.
As medidas ajudaram. O cenógrafo Aécio do Amaral, 40, comprou um bote para chegar ao estúdio de Bob em 2009, quando equipamentos fotográficos foram atingidos pela água. "Depois das reformas, não encheu mais", comemora. O bote, antes "ancorado" ali, foi parar numa casa de praia. Mas o remo ainda está lá, guardado como recordação.
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