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30/01/2011 - 09h52

Paulistanos invadem Punta neste verão

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ADRIANA KÜCHLER
DE PUNTA DEL ESTE

Martín Pittaluga, dono de um dos restaurantes mais badalados da badalada Punta del Este, o La Huella, pede para os funcionários descreverem o cliente paulistano: "Amável, mas ansioso", diz um garçom. "Difícil, porém um bom cliente", disfarça a gerente.

Cheio de dedos, o pessoal do La Huella, na praia hippie chic de José Ignacio, está aprendendo a lidar com a clientela impaciente de São Paulo, que invadiu o local neste verão. "Eles são exigentes com o horário, só que reservam mesa para oito e chegam aqui em 18 pessoas. Primeiro, ficávamos nervosos. Agora, nos acostumamos e nos organizamos quando eles vêm."

O esforço não é em vão, garante Martín. Os paulistanos gastam muito mais que os argentinos (habitués tradicionais do balneário, que estão perdendo espaço para o pessoal de São Paulo) e os nativos uruguaios.

Galeria Experiência/Folhapress
Cabo Polônio, no Uruguai: farol, lobos-marinhos e refúgio da badalação
Cabo Polônio, no Uruguai: farol e lobos-marinhos

Até os flanelinhas -raros em Punta, mas presentes ali- abrem "una sonrisa" para o novo invasor, conta Fernando Hatano, o sushiman gaúcho do local. "Dizem que os paulistanos dão 1.000 pesos [R$ 84] de gorjeta enquanto o resto dá 100 [R$ 8,4]."

Não há dados sobre a quantidade de paulistanos em Punta. Mas é notória a presença deles por todos os cantos, dos restaurantes às baladas, da areia aos hotéis sofisticados. Na primeira semana do ano, 60% dos hóspedes em hotéis eram do Brasil contra 20% da Argentina. Nos restaurantes, é fácil achar uruguaios arranhando o português, e várias lojas aceitam reais.

Além da já batida fama de balneário luxuoso e dos cassinos, outros motivos têm arrastado uma legião de paulistanos não só para se hospedar, mas para comprar propriedades por ali: segurança, sol (sem chuva!), a proximidade de SP e um novo hotel Fasano, que se instalou por lá há um mês.

Outro dono de restô, desta vez o moderninho Sipan, de comida peruana, ficou tão entusiasmado com a presença dos clientes paulistanos em praias uruguaias que decidiu abrir uma filial em São Paulo. "O argentino é o pior cliente. Vê o cardápio e reclama. Esquece que está em Punta. O paulistano olha o menu, sabe que é caro e pede mesmo assim", diz Jose Mendivil, que oferece um pisco sour, drinque peruano, a 500 pesos (R$ 42).

Campos do Jordão praiana
O mar é gelado em Punta, mas ninguém parece se incomodar. Existe inclusive uma comunidade de brasileiros, instalada no campo, na parte "Toscana" do balneário, que nem faz tanta questão de ir à praia. Um pequeno grupo (com grandes propriedades) que agora se reúne em torno do novo Fasano Las Piedras.

O hotel e seu terreno de 500 hectares (cerca de 700 campos de futebol) ficam numa fazenda a apenas 9 km da Barra, uma das praias mais agitadas. Idealizado pelo arquiteto Isay Weinfeld, tem 32 bangalôs que se misturam às pedras da paisagem. As diárias vão de US$ 850 a US$ 1.300 (R$ 1.418 a R$ 2.168). Além dos chalés, o empreendimento terá casas à venda, campos de golfe e de polo.

Rogério Fasano, que não havia voltado a SP desde a inauguração do hotel, convida a reportagem para passear de barco pelo rio Maldonado, que passa pela propriedade e chega ao mar. Enquanto pede o protetor solar emprestado, fala sobre as razões de ter escolhido a região como o primeiro tentáculo do grupo fora do Brasil. "Não dá pra ir ao litoral norte. Tá cheio de favela, não tem segurança. Nunca ouvi falar de assalto em Punta. Aqui, deixo o carro aberto com o relógio dentro. E dou carona direto."

Rogério acredita que o hotel pode atrair ainda mais paulistanos, "como atraiu para o Rio". "Punta fica vazia no inverno, mas aqui no hotel é campo. É como ficar em Campos do Jordão."

Imigração de gente bacana
A relações-públicas de São Paulo Sonia Gonçalves, que também tem casa por lá, é uma espécie de RP na região. Indica os restaurantes e lugares "top", como dizem os uruguaios, e leva a revista para conhecer a estância de Mario Cohen, presidente do Instituto Auditório Ibirapuera e um dos primeiros brasileiros a se instalar ali.

Ex-diretor da Globo, Mario diz que a imagem de Punta que chegava a SP o deixava triste. "Era a do cassino Conrad, do pessoal que joga, do Amaury Jr.. Agora, esse perfil mudou", conta. "Tem uma nova imigração de gente bacana."

Mario dedica quase todo o seu tempo à produção de azeites. O próprio Fasano é um dos seus clientes. Exporta também para o Rio e deve começar a vender seus vidros em SP em breve.
Ele trabalha para que a fazenda vire também um ponto turístico. Oferece um tour guiado pela produção com direito a degustação.

Um dos principais incentivadores da imigração para Punta, Mario conta que seus amigos paulistanos tinham tendência a confundir uruguaios e argentinos. "Uruguaios são mais educados, discretos. Além disso, eles veem os brasileiros com simpatia, como uma chance de diminuir a dependência dos argentinos."

Galeria Experiência/Folhapress
Casa Pueblo, um dos pontos turísticos de Punta del Este
Casa Pueblo, um dos pontos turísticos de Punta del Este

Outro brasileiro que fincou os pés na península foi Oskar Metsavaht, com uma filial da "hypada" Osklen. A sãopaulo encontrou dois paulistanos cuidando da loja praieira.

Edson Martinelle e Felipe Burckauser seguem uma rotina punteira, com tudo rolando mais tarde que no Brasil: trabalham e ficam na praia até as 21h para ver o pôr do sol.

Às 2h30, vão para a balada. A preferida é a Tequila, famosa por receber celebridades e onde nos dias mais festivos, contam, o dono decide quem paga quanto. "Eles sabem que os caras de São Paulo têm mais dinheiro", afirma Edson. E, aí, o ingresso pode chegar a US$ 100 (cerca de R$ 166).

Lá dentro, um público dos 18 aos 60 e uma surpresa: o ator Ricardo Darín, de "O Segredo de Seus Olhos", dançando de mãozinhas para o ar e se roçando em uma dançarina. Infelizmente, câmeras fotográficas são proibidas na balada.

Moda paulistana
Nascida no Uruguai e há muitos anos em SP, Sharon Beting levou sua multimarcas de biquínis Sub (com sede no shopping Cidade Jardim) para Punta com um pé atrás. "Achei que o público ia ser só de brasileiras", conta. "Tinha medo de que as argentinas não gostassem por causa do tamanho pequeno. Mas elas enlouqueceram." O de oncinha vendeu que nem água, diz.

Na loja, que tem marcas como Vix e Adriana Degreas, vendedoras são orientadas a dizer que os biquínis são brasileiros, "porque algumas clientes se assustam com o valor", afirma ela, que vende peças de US$ 80 a US$ 200.

Galeria Experiência/Folhapress
Raquel Cantero e Silvana Morales na badalada praia Bikini
Raquel Cantero e Silvana Morales na badalada praia Bikini

Frequentadora de Punta, Sharon diz que ela mesma se assustou com os preços de lá. "Você não vai a um restaurante famoso por menos de US$ 200. Essa inflação é em função do paulistano que vem e paga", conta. "Os brasileiros estão sustentando Punta."

Na sorveteria Volta, um grupo de médicos conta suas impressões. "As praias aqui são mais limpas e têm mais espaço que as de São Paulo, que estão lotadas", diz Haila Mutti, 29. O preço não incomoda. "Pra outros brasileiros, talvez esteja caro. Mas pra gente, que é de SP, está OK."

Já na areia de Bikini, uma turma paulistana que não escolheu sustentar Punta curte o sol. Eles ganharam a viagem como prêmio da "firma". Se não, estaríamos no Guarujá", brinca o engenheiro Paulo Toledo, 27. "Temos um perfil mais 'low cost'. Se a gente pudesse escolher, pelo dinheiro que se gasta aqui, dava para ir a lugares bem mais legais."

 

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