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13/02/2011 - 10h06

Biografia de Béla Bartók mostra a complexa fusão entre vanguarda e pesquisa etnomusical

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MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA sãopaulo

Sempre que se fala do húngaro Béla Bartók (1881-1945), os críticos e biógrafos fazem um paralelo com o brasileiro Villa-Lobos. Ambos foram compositores que renovaram a linguagem da música erudita a partir de pesquisas de campo das tradições populares. E ambos se distinguiram dos nacionalistas românticos do século 19 por irem além do plano epidérmico de temas folclóricos, investigando as raízes profundas da estrutura musical.

Entretanto, a biografia de Bartók escrita pelo crítico e pesquisador brasileiro Lauro Machado Coelho vai muito além da importância do compositor como precursor da moderna etnomusicologia.

O livro dá a devida importância à célebre expedição que ele e seu colega Zoltán Kodály fizeram pela Hungria e pela Romênia, coletando milhares de canções que permitiram desfazer a confusão (fomentada por Liszt) entre a música cigana e a tradição magiar.

O fato, porém, é que Bartók não se limitou a exumar ritmos folclóricos, mas incorporou-os a peças musicais que exploraram os limites do sistema tonal sem cair na "escolástica" de Schoenberg (o dodecafonismo).

Nesse sentido, "Nela Vive a Alma de Seu Povo" é também uma reflexão sobre a complexa relação entre as vanguardas e os nacionalismos do século 20. Ao contrário do retorno às origens arcaicas proposto pelos ideólogos da direita (e que semearam o campo para simulacros do nazismo pelo leste europeu), Bartók desagradou aos conservadores ao identificar uma rede capilar que ia desde as aldeias da Transilvânia até a Argélia, no norte da África, onde esteve em 1913.

Ou seja, o mesmo compositor da "Cantata Profana", que celebrava as "fontes puras" da música folclórica, sabia que esse veio subterrâneo era constituído de um amálgama impuro de diferentes dialetos musicais. Sua ideia de "nacionalidade" era estrangeira aos lugares-comuns instrumentalizados pelos partidos de esquerda e direita, o que fez de Bartók o mais cosmopolita dos nacionalistas.

LIVRO
NELA VIVE A ALMA DE SEU POVO - VIDA E OBRA DE BÉLA BARTÓK
Autor: Lauro Machado Coelho
Editora: Algol (256 págs., R$ 55; box "Vida e Obra", R$ 200)

DISCO
BARTÓK: 6 STRING QUARTETS
Em festivais de música de câmara, os quartetos de Bartók costumam ser executados junto aos de Beethoven -o que indica sua condição de ápice do gênero.
ARTISTA Emerson String Quartet
GRAVADORA Deutsche Grammophon (2007, R$ 79,20, CD duplo)

DISCO
BARTÓK: PIANO CONCERTOS 1 E 2
O maior pianista e o maior regente da atualidade interpretam dois concertos de Bartók que extraem propriedades percussivas do piano.
ARTISTAS Maurizio Pollini (piano), Claudio Abbado (regente), Sinfônica de Chicago
GRAVADORA Deutsche Grammophon (2007, R$ 68)

DISCO
ACERVO RUSSO - STRAVINSKY
Vários (Biscoito Fino/Dell'Arte, R$ 120, 4 CDs)
Stravinsky abandonou a União Soviética, cuja cultura oficial não tolerava o "formalismo" das vanguardas. Mas isso não impediu que as orquestras do país realizassem, a partir dos anos 1930, alguns dos melhores registros de sua obra. Nesta caixa estão gravações preciosas, como "Petrushka", regida por Evgeny Mravinsky, e peças menos conhecidas, como o "Introitus", em memória do poeta T. S. Eliot.

LIVRO
A NONA SINFONIA E SEU DUPLO
Daniel Bento (Editora Unesp, 230 págs., R$ 37)
Completamente surdo, Beethoven compôs no final da vida suas obras mais radicais, libertas da eufonia, como o quarteto "A Grande Fuga" e as últimas sonatas para piano. A "Nona Sinfonia", com seu jubiloso coral, parece fugir à regra, mas o pesquisador Daniel Bento mostra seu espelhamento com a sublime aspereza da sonata "Hammerklavier", num livro mais bem aproveitado por quem domina musicologia.

FILME
COCO CHANEL & IGOR STRAVINSKY
Jan Kounen (Imovision, locação)
Baseado em romance de Chris Green halgh, a fantasia sobre o suposto caso entre o compositor russo e a estilista francesa prefere a estética fashion às dissonâncias de "A Sagração da Primavera": o balé revolucionário que escandalizou Paris em 1913 dá lugar ao escândalo sexual de modo consequente com uma época (a nossa) que promoveu a moda à condição de arte.

 

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