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13/03/2011 - 11h33

O mercado de Pinheiros

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FABRÍCIO CORSALETTI
COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo

Não sou grande frequentador de museus. É uma pena, pois gosto de museus e galerias e já tive boas experiências nesses lugares. Os fatos, porém, não me deixam iludir: vivo em São Paulo há 14 anos e fui apenas duas vezes ao Masp, nunca visitei o Museu da Língua Portuguesa e nem sei direito onde fica o do Ipiranga, ainda que "Independência ou morte!", o verso rock'n'roll de d. Pedro 1º, me faça pensar no nosso imperador como um ex-integrante dos Mutantes --o que não é pouca coisa. Mas não quero escrever sobre museus. Quero escrever sobre o mercado de Pinheiros, onde almocei na semana passada e que é, como todo mercado, o antimuseu, com seus produtos perecíveis e nenhum turista xarope tirando foto.

Sei lá, todas aquelas frutas e legumes frescos, coloridos... Dá vontade de tomar um ácido e ficar ali até entender o que o pimentão está cochichando à berinjela, qual é o problema do caju, o segredo das laranjas, por que as batatas são tão orgulhosas. Dá vontade de correr pra Cidade do México e saltar pra dentro de um mural de Diego Rivera. Dá vontade de ver um filme, dos mais extravagantes, de Almodóvar. Dá vontade de reler a "Ode à Alcachofra", de Neruda. Acho que todo mercado me dá vontade de falar espanhol.

Mudo, mas matutando em português, rodei os dois andares do mercado, parando em alguns boxes a fim de olhar com calma os queijos & os doces, as farinhas & os embutidos. Comprei um punhado de banana-passa. Depois fui conferir os peixes, os inacreditáveis nomes dos peixes: merluza, robalo, cavalinha. Peguei uma receita de ensopado com o peixeiro.

Quando senti fome, pedi uma truta com arroz e purê num restaurante do andar superior e fui feliz. Enquanto comia --sobre a minha cabeça, o teto abaulado--, tive a impressão de que o mercado de Pinheiros era um pequeno ginásio de esportes desativado --sem gritos de torcida organizada e sem apito de juiz. Um lugar silencioso (um túmulo, comparado ao Mercadão), onde o silêncio faz como que um contraponto a alguma coisa nervosa. (O caos do largo da Batata? Não sei.)

De volta ao trabalho, contei pro pessoal minha odisseia pelo mercado de Pinheiros: é um oásis, uma explosão de cores numa paisagem morta, uma bolha --ventilada-- de tranquilidade, um monumento em homenagem a Dorival Caymmi, à vida simples, ao prazer. Mas tomaram minha exaltação por piada e me aconselharam a descer pra praia no final de semana e relaxar. Se ficasse em São Paulo, que procurasse um museu de verdade, e não um barracão abastecido pela Ceagesp. Você já viu o autorretrato do Modigliani que tem no MAC?

Não fiz nada disso. Visitei minha família em Santo Anastácio. E à minha sobrinha de três anos narrei minhas aventuras no mercado. Ela ria, mas me levando a sério, e quando a história acabou pediu que eu repetisse a parte do tomate maravilha, dos torcedores invisíveis e da comida com sabor de onda do mar pegando fogo.

 

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