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10/06/2011 - 20h31

Produtor americano desvenda São Paulo

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MARIANNE PIEMONTE
DE SÃO PAULO

Quando desembarcou pela primeira vez em São Paulo, o nova-iorquino Victor Rice, 44, achou tudo por aqui "marginal e gostoso". O ano era 1998 e o motivo da visita era um show da banda de ska The Toasters, na qual atuava como baixista.

Com seu português de sotaque carregado, ele conta que ficou encantado com a possibilidade que a cidade oferecia de viver bem de um tipo de arte que não é "mainstream".

"Nova York, com [Rudolph] Giuliani, tornou-se o melhor lugar para a arte e o pior para os artistas", diz. Ele se refere ao ex-prefeito de Nova York que ficou famoso pelo programa de "tolerância zero" contra criminosos. Victor diz que os impostos e a intolerância cresceram. A cidade, para ele, ficou insustentável.

Maria do Carmo/Folhapress
São Paulo, SP, Brasil. 28.04.2011. Produtor e musico, Victor Rice em uma loja da rua Andrades onde compra equipamentos de som usados. (Foto: Maria do Carmo/ Folhapress, Revista)
O produtor e músico Victor Rice em uma loja da rua dos Andradas onde compra equipamentos de som usados.

O atentado terrorista às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, foi um marco e o motivo definitivo para que ele fechasse as malas e se mudasse de vez para a cidade que seus pais chamaram de "Nova York com palmeiras": São Paulo.

Em fevereiro de 2002, ele voltou com a intenção de ficar. Para se aclimatar, passou dois meses em Paraty, no Rio de Janeiro, tocando nos bares à noite e treinando o português com os caiçaras durante o dia.

Hoje, ele passa seis meses em São Paulo e seis nos Estados Unidos, com eventuais turnês pela Europa. Do seu estúdio, no 29º andar do edifício Copan, no centro, produz de vinhetas para a HBO americana a mixagens, como a do novo disco de Marcelo Camelo, "Toque Dela". Também trabalha em outros estúdios, como o El Rocha, onde mixa o mais recente trabalho da cantora Mallu Magalhães.

Acostumado à cidade, Victor ressalta características paulistanas que costumam passar despercebidas por seus moradores. "Vejo gente de todo o mundo assim que saio de casa e só me chamam de gringo quando abro a boca", diverte-se. E se deslumbra com a possibilidade de fazer amizade com os vizinhos. "Por lá, tudo isso ficou muito mais difícil pós-11 de Setembro."

BALAIO DOS BONS

O músico formado pela Manhattan School of Music diz que a MPB tem uma das melodias mais sofisticadas do mundo. No entanto, uma de suas principais inspirações é Béla Bartók (1881-1945), músico erudito húngaro que usava elementos do folclore em suas composições.

Apesar das referências, é no rap que Victor vai apostar quando criar seu selo. Pelo Total Running Time, o músico quer lançar artistas como o rapper Pity Shu, garoto angolano que vive nas ruas de São Paulo. "Fiquei encantando ao vê-lo improvisando", diz.

No seu apartamento, diante da vista que tem para a zona norte da cidade, ele costuma passar horas entre máquinas analógicas, instrumentos musicais e computadores. Essa mistura de ferramentas de trabalho traduz a personalidade pouco ortodoxa do gringo. Ele consulta o I Ching [oráculo chinês] anualmente, espalha moedas na entrada do apartamento para trazer fortuna e não lê jornais nem vê televisão porque não quer "dedicar atenção às coisas que não fazem parte da realidade".

Quando quer dar uma "energizada na inspiração", caminha pelas ruas do centro antigo. "A cidade tem a energia do trabalho. Impossível não se sentir contagiado."
Entre os muitos planos de Victor, está o de ter um visto de permanência no Brasil. Enquanto isso não acontece, ele trabalha e curte a cidade como poucos paulistanos costumam fazer.

DIA DE GRINGO

Um sábado perfeito para Victor Rice:

8h - Chegar cedo no Mercado Municipal para comprar as melhores frutas

10h - Ir à rua 25 de Março para se abastecer de Nag Champa, incenso produzido nos templos hindus e budistas

12h - Passear pelas lojas da rua Santa Ifigênia

14h - Conversar com os vendedores de equipamentos analógicos na rua dos Andradas

15h - Tomar chope no Bar do Léo, na rua Aurora, acompanhado de canapés de carne crua

16h - Relaxar com vista para zona norte do alto do 29º andar do edifício Copan

20h - Comer um bom prato de filé mignon com brócolis no Sujinho. "Isso sim é um alimento para a alma."

 

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