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03/07/2011 - 14h24

O iluminado

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KÁTIA LESSA
DE SÃO PAULO

Boa parte dos letreiros luminosos que abrilhantam a rua Augusta ou o Bexiga saiu de um pequeno espaço no segundo piso do número 65 da rua General Osório, na região central. É ali que está instalada há mais de 30 anos a Neon Três Estações.

Edvar Ferreira Silva, 39, o dono, diz que nunca teve outra profissão. "Faço isso há 25 anos. Só sei dar a luz", brinca. Mas as coisas no seu laboratório --como ele chama o lugar-- mudaram bastante nos últimos quatro anos. Sua produção, antes limitada a padarias, prostíbulos, motéis e sex shops, aumentou 60% nesse período. "Oneon virou 'hype'. É procurado por gente criativa e moderna."

Um dos pioneiros dessa nova clientela foi o estilista Marcelo Sommer. "Fiz um disco voador para um desfile dele no Morumbi Fashion [antigo nome da São Paulo Fashion Week]. Depois, o pessoal da moda adotou o brilho." Hoje, Edvar atende bares, artistas, arquitetos e grandes empresas.

Christian von Ameln/Folhapress
Edvar Ferreira Silva em seu laboratório de neons, no centro
Edvar Ferreira Silva em seu laboratório de neons, no centro de São Paulo

Dois fatores que ajudaram a popularizar o neon, segundo ele, foram a Lei Cidade Limpa e a revitalização da região da Augusta. O luminoso, avalia, virou uma maneira de os comerciantes chamarem a atenção do público em dimensões mais modestas.

No laboratório, onde manipula metros de vidro, argônio e neônio, o maçarico é o mesmo de quando aprendeu o ofício com o tio. "Somos a segunda geração do neon nesta casa. Meu tio começou o negócio há 36 anos."

Waldomiro Ferreira, o tio, aprendeu a mexer nas tiras de vidro nos anos 1940, quando notou que os vizinhos italianos faziam luminosos vestindo terno e gravata. "Ele achava chique", conta o sobrinho. Waldomiro pediu para fazer faxina no ateliê e saiu de lá um perito no assunto.

Igual a tatuagem

Entre os atuais clientes ilustres, estão o bar Volt, as galerias Mendes Wood e Melissa, as lojas Ellus, C&A e Colcci e, claro, a grife Neon. A Coca-Cola também. "Foi um logotipo difícil de fazer. A letra é muito sinuosa."

Outra grande demanda vem de artistas como Rick Castro, Maurício Ianês e Kleber Matheus e do arquiteto Marcelo Rosembaum, que encomenda detalhes de decoração. "Meu primeiro contato com o neon foi na publicidade. Depois, passei a construir objetos para presentear amigos. Fez tanto sucesso que acabou virando a matéria-prima das minhas instalações", diz o diretor de arte Kleber Matheus, conhecido pelas obras geométricas e nada discretas.

"Neon é igual a tatuagem: você faz o primeiro e não consegue mais parar", conta Fábio Luciano, 37, que ajuda Edvar a instalar os luminosos. Por lá, a turma já fez quase tudo brilhar. "Um cliente pediu um pênis em neon de quase dois metros para o quarto dele", lembra Edvar. Uma peça simples com cerca de 40 centímetros custa por volta de R$ 250. E o que ele não aguenta mais fabricar? "A palavra 'aberto'. Já produzi mais de 500. Estão piscando pela cidade toda", desabafa.

Produção artesanal

Saiba como um neon é feito:

1. O cliente envia um modelo da peça ao ateliê
2. O vidro vem de fábrica em barras de 1,5 m
3. As barras são moldadas com o maçarico a 350ºC
4. Eletrodos são colocados nas pontas da peça
5. O oxigênio é retirado do tubo com uma bomba de vácuo. O resto é queimado com o auxílio de um transformador
6. Os gases neônio e argônio são injetados no vidro com ampolas de gás comprimido
7. Para o efeito vermelho, usa-se o neônio. Para o azul, o argônio. Para as demais cores, o vidro é pintado
8. O gás reage com o eletrodo e acende

Neon-arte

Eliana Finkelstein, dona da galeria Vermelho, afirma que há dois anos notou um aumento do uso do neon nas obras de arte contemporânea. "Na feira Art Basel Miami Beach, uma das maiores do mundo, o material foi bastante utilizado. O volume chegou a chamar a atenção. Talvez o fenômeno esteja ligado ao retorno do minimalismo, um movimento que mexe com a luz. "

 

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