ANDREA VIALLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Medir o real impacto dos aplicativos de transporte como Uber, 99 e Cabify no trânsito das grandes cidades ainda é um desafio, mas estudos realizados pelas próprias empresas apontam a tendência do uso das novas tecnologias como um modal a mais entre os passageiros que utilizam metrô, trens e ônibus.

Segundo pesquisa da 99, na cidade do Rio de Janeiro 24,3% dos deslocamentos feitos via aplicativo tiveram como origem ou destino terminais de metrô, trem, ônibus, VLT ou balsa. Em São Paulo, 13,2% dos deslocamentos têm como origem ou destino estações de metrô e trens ou terminais de ônibus.

"Ainda vamos identificar, em nova pesquisa, se esses usuários estão substituindo o uso do carro próprio pelo aplicativo. Mas os dados indicam que combinar as corridas com outros meios de transporte público é uma tendência que está crescendo nas grandes cidades", diz Ana Guerrini, diretora de políticas públicas da 99.

Outra pesquisa, realizada pela Cabify com mil usuários no segundo semestre de 2017, apontou que a prática de mesclar meios de transporte é recorrente entre os paulistanos: além dos aplicativos de carro e táxi, as pessoas utilizam 2,6 meios de transporte para se locomover de um ponto a outro da cidade. Segundo o estudo, 68% dos usuários têm carro próprio, mas 52% afirmam ter reduzido o uso com os aplicativos.

MENOS CARROS

As viagens compartilhadas são a aposta da Uber para retirar carros das ruas. A empresa estima que a modalidade pool (onde usuários dividem o mesmo carro) possibilitou uma redução de mais de 13 milhões de quilômetros que seriam rodados pelos carros em São Paulo.

Os serviços de carros compartilhados e autônomos poderiam reduzir o número de veículos nas ruas em 90%, segundo estudo recente da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Transformar cada deslocamento em uma viagem compartilhada, combinada ao transporte público, é a "maior ambição" da Uber, diz Fabio Sabba, diretor de comunicação da empresa. "E que as pessoas usem esses serviços não por obrigação, mas por opção, porque compartilhar será uma alternativa mais barata e mais conveniente do que ter carro", diz.

Em termos globais, o compartilhamento de carros representa menos de 4% dos quilômetros rodados, mas tem espaço para crescer: esse número pode chegar a 25% até 2030, segundo projeção do banco Morgan Stanley.

"Essa será a grande aposta das empresas de aplicativos de mobilidade para os próximos anos", afirma André Miceli, professor e coordenador do MBA em marketing digital da Fundação Getúlio Vargas. Segundo Miceli, empresas como Waze estão estudando o potencial de uso dos carros particulares que ficam parados nas garagens para viagens compartilhadas, e mesmo gigantes do setor automobilístico, como Ford e GM, estão investindo em start-ups com soluções para carros autônomos.

CORREDORES

Para desafogar o trânsito, os corredores de ônibus paulistanos passaram a receber sinalização reforçada a partir de setembro de 2016. Placas alertam os motoristas de carros particulares sobre os horários em que é possível trafegar pelas vias rápidas. As regras são diferentes para táxis e carros de motoristas de aplicativos.

Os particulares podem circular entre 23h e 4h de segunda a sexta e das 15h de sábado até as 4h de segunda. Já os táxis podem circular em qualquer momento do dia, desde que com passageiros.

ÍNDICE DE CONGESTIONAMENTO

No Brasil, o mercado de aplicativos de mobilidade ainda tem grande potencial. Calcula-se que apenas 10% da população - cerca de 20 milhões de pessoas- utiliza algum tipo de sistema.

Esse número despertou o interesse do grupo chinês Didi Chuxing, que comprou a 99 neste ano. Fundada em 2012, a 99 é uma das primeiras start-ups brasileiras de mobilidade. Com 300 mil motoristas cadastrados no aplicativo em 400 cidades brasileiras e 14 milhões de passageiros, a empresa começou a usar as informações geradas em suas bases de dados para medir o impacto dos congestionamentos nas principais cidades em que opera.

O resultado foi a criação de um índice, o ITV (Índice de Tempo de Viagens), que compara o tempo de um deslocamento durante o horário de pico com o tempo gasto fora do pico em 15 cidades.

Recife é a capital brasileira em que mais tempo se gasta no trânsito: os deslocamentos de carro em horários de pico demoram em média 86% mais tempo em comparação com os períodos
sem congestionamento.

Porto Alegre vem na segunda posição, com viagens que demoram 77% a mais na hora do rush. São Paulo ocupa a sexta posição, e o Rio de Janeiro ficou em quinto lugar, com lentidão de 70% e
71%, respectivamente.

Segundo Ana Guerrini, diretora de políticas públicas da 99, a ideia é que os dados da empresa ajudem prefeituras em programas de mobilidade. Já estão em andamento parcerias com as prefeituras de São José dos Campos (SP) e Porto Alegre.

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