Descrição de chapéu O Futuro do Nordeste

Ceará avança na produção de insumos para a moda

Estado se organiza para subir no ranking das maiores potências têxteis do país

Pedro Diniz
Fortaleza e Maracanaú

As projeções para os próximos cinco anos da indústria da moda cearense são otimistas: o estado deve sair do quinto para um dos três primeiros lugares na produção de têxteis e confecção do país —posições hoje ocupadas por São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais.


Numa análise dos números recentes da cadeia nacional, enquanto a produção têxtil brasileira caiu 12,8% no país entre 2012 e 2016, auge da crise estrutural nas contas e na indústria, o setor cresceu 3,6% no estado.


Só no último ano, segundo pesquisa do Iemi (Instituto de Estudos e Marketing Industrial), o Ceará avançou 3% em sua produção de insumos para a cadeia da moda, enquanto o país recuava 4,5%.

Já no setor de confecção, nos mesmos cinco anos apurados pelo Iemi, o Ceará caiu 3%, contra queda de 8% na média brasileira.


As curvas positivas se explicam por um esforço conjunto entre governo, empresas e instituições de ensino. De acordo com o presidente da TBM Têxtil, Ivan Bezerra Filho, “tirar leite de pedra” foi a solução para a crise.


Dono de uma das maiores fiações do país, fincada na capital, Fortaleza, ele diz que o protecionismo do estado segurou investimentos e fez florescer negócios que possibilitam a confecção de 610 milhões de peças por ano, 183 mil toneladas de insumos têxteis e 105 mil postos de trabalho na região.


A guerra fiscal brasileira, que no século passado atraiu indústrias para cidades satélites com impostos menores do que os praticados pelos estados, “e a vocação nata do cearense em tecer e trabalhar com fios”, contribuíram para o cenário favorável.


Das 2.000 toneladas mensais dos fios de algodão que produz, 100% abastecem a cadeia nacional, enquanto no braço de malharia acabada, 80% vão para as confecções do Ceará. 


Ao todo, diz o presidente da TBM Têxtil, a empresa fatura R$ 500 milhões por ano, dos quais 20% são investidos em maquinário novo para garantir eficiência.


“Os empresários perceberam que precisavam investir em tecnologia e valor agregado. Se não podemos competir com a Ásia em preço, então competimos com produto melhor”, diz Bezerra Filho.

QUALIDADE

Esse tipo de investimento acompanha as demandas das grandes redes de varejo. Se antes as fábricas usavam máquinas que produziam dez mil peças, hoje as mais novas produzem 200. Com isso, é possível atender a pedidos menores, porém constantes e assertivos, de quem vende ao consumidor final.


É a lógica da Delfa, fábrica de bojos para roupa íntima que abastece 40% de toda a produção de lingerie do país.


A fábrica em Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza, libera 4 mil bojos por dia para diversas confecções que apostam nas modelagens da empresa.


A opção por uma escala de tamanhos variados, fruto de pesquisas sobre o corpo da mulher brasileira, engordou a cartela de clientes da Delfa, que, segundo sua diretora comercial, Diana Murinelly, copiava as modelagens que faziam sucesso na Europa e nos Estados Unidos.


“Tínhamos a cultura de achar que o que vem de fora é melhor. Nosso corpo é diferente dos do Hemisfério Norte. Então, nossos produtos, para que funcionem, têm de ser adaptados para ele”, diz.


Um robô que no Brasil só era usado pela indústria automobilística faz a leitura milimétrica das fôrmas testadas na empresa, o que garante precisão matemática na produção dos materiais.


“O segredo foi voltar a preocupação ao consumidor final, e não apenas ao próprio cliente, que confecciona o sutiã. Se a compradora está feliz, automaticamente a cadeia inteira é beneficiada”, diz Murinelly.

COMPETIÇÃO

Chefe do gabinete do governador Camilo Santana (PT), Élcio Batista acredita na integração entre agentes de cultura, empresários e confeccionistas.


“Nosso desafio é criar um ambiente propício para que as pessoas vejam o estado como um polo de inovação e de economia criativa, um lugar onde elas queiram estar”, diz Batista.


Ele cita o plano Ceará 2050, um estudo feio em parceria com a Universidade Federal do Ceará, arquitetos e urbanistas para traçar metas para a indústria se firmar como modelo nacional. A moda é um dos vetores desse plano.


“Só em cultura, investiremos quase R$ 400 milhões neste ano. E somos o único governo que apoia com verba eventos de moda, como o Dragão Fashion Brasil”, diz.


Batista também defende uma distribuição balanceada dos investimentos do estado nos setores produtivos, criativos e sociais. 


Ele afirma que os estados nordestinos devem se unir para acabar com suposto clima de competição por investimentos federais. “Às vezes, competimos pelas mesmas coisas. Isso não é saudável.”


3,6%
foi o crescimento da produção têxtil no Ceará entre 2012 e 2016; no mesmo período, a produção nacional 
caiu 12,8%


610 milhões
de peças são confeccionadas por ano pelo estado, além de 183 mil toneladas de insumos têxteis

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