Brasil importa 85% dos fertilizantes usados na agricultura

Políticas para reduzir a dependência e fazer melhor uso dos adubos são centrais, dizem especialistas

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São Paulo

O Brasil, um dos maiores exportadores agrícolas do mundo, ainda é dependente do mercado externo quando se trata de fertilizante. Segundo um balanço da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), das 40 milhões de toneladas entregues ao mercado no ano passado, apenas 6 milhões vieram do mercado interno, o que significa que o país importa 85% do produto que consome.

Essa desproporção faz com que o mercado fique à mercê do preço do dólar. Os fertilizantes, também conhecidos como adubos, são aditivos importantes para a agricultura para prover nutrientes ao crescimento das plantas.

Um dos maiores desafios da indústria neste momento, avalia Marcelo Morandi, chefe-geral de meio​ ambiente da Embrapa, é justamente ter um mercado estável que dê mais opções para o mercado interno.

Ele participou do 5º seminário Agronegócio Sustentável, realizado pela Folha com patrocínio do governo de Mato Grosso, da Mosaic Fertilizantes e da Ambipar.

Segundo Morandi, entre os três elementos mais importantes que as plantas precisam, conhecidos como fertilizantes NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), o Brasil ainda é dependente dos últimos dois, em especial o potássio, devido às poucas fontes naturais.

O governo federal anunciou, em março deste ano, que vai elaborar uma política para ampliar a produção nacional de fertilizantes agrícolas para reduzir a dependência da importação e sustentar uma produção mínima.

Para Ricardo Tortorella, diretor-executivo da Anda, o aceno do governo já é um passo importante para o setor, só que, além da questão da dependência, é preciso falar sobre como o fertilizante é aplicado.

Nos últimos 40 anos, a produção de grãos no Brasil cresceu mais de seis vezes enquanto a área plantada apenas dobrou. “Isso significa investimento em tecnologia e produtividade. O fertilizante ajudou muito para que esse cenário fosse possível”, afirma.

O adubo bem usado é amigo do meio ambiente, continua Tortorella, porque implica menos desmatamento, menos água e menos poluição. “Conseguimos produzir em um hectare de terra o que produziríamos em quatro hectares sem esses produtos.”

Morandi afirma que, fora os grandes produtores superespecializados, que já usam agricultura de precisão, o país ainda tem muitos produtores menores que, por deficiência técnica, fazem aplicação sem uma recomendação ou análise específica do terreno. “Às vezes você tem excesso no uso de fertilizantes, e tudo o que não é utilizado tem algum destino ambiental”, diz.

A gerente de pesquisa, desenvolvimento e inovação da empresa multinacional de resíduos Ambipar, Bianca Ayres, conta que a empresa desenvolveu um condicionador de solo, chamado Ecosolo, que potencializa os fertilizantes, a absorção de nutrientes para a raiz e, consequentemente, a produtividade.

O produto faz parte da política de economia circular da empresa. O Ecosolo é feito a partir de resíduos orgânicos da indústria de papel, que passam por processo de biodegradação controlada, que permite eliminar componentes tóxicos, como metais pesados.

“Nós liberamos cada lote a partir de uma análise de eficiência e acompanhamos sua aplicação há alguns anos. Orientamos os parceiros rurais com técnicas de manejo sustentável.” Por meio desse processo, ela explica, é possível aumentar o bioma e preservar a vida da mesofauna (micro-organismos nas raízes e nas profundezas do solo).

O gerente de serviços técnicos da Mosaic Fertilizantes, empresa americana com fábricas no Brasil, Flávio Bonini, concorda que a economia circular deve ser uma das preocupações da indústria.

“A produção de fertilizante gera produtos secundários e você tem a obrigação de transformá-lo em algo que possa ser usado depois”, diz, citando o gesso agrícola, gerado a partir de fertilizantes fosfatados. “No Brasil, ele foi um dos alicerces para construir solos considerados inférteis.”

Como a produção de alimento vem crescendo no país, a indústria de fertilizantes nos próximos anos terá que vencer o desafio de conseguir ser fornecedor de nutrientes adequados em tempo útil e com um bom preço, conclui Tortorella.


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