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Serafina

Trabalhar com Almodóvar não é fácil, diz Antonio Banderas

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Antonio Banderas tem a alma inquieta. Segundo ele, uma característica dos andaluzes. "Somos alegres e ativos, é uma reação à presença da morte", diz. "Vivemos intensamente."

Nascido em Málaga, na Andaluzia (sul da Espanha), mesma cidade de Picasso, o ator vive momento especial. Aos 50 anos, voltou a filmar com Pedro Almodóvar, cineasta que o lançou e com quem não trabalhava desde "Ata-me!" (1989).

Em "A Pele que Habito", interpreta um cirurgião plástico frio e brutal. Define o filme e seu personagem como "naturalmente aterrorizantes". O longa será apresentado no Festival de Cannes, no mês que vem, com previsão de chegar ao Brasil em novembro.

Banderas vem antes. Este mês, chega ao Rio de Janeiro para lançar o perfume The Secret, da linha que leva o seu nome, e fará uma exposição de fotos de sua autoria, como parte de um leilão beneficente.

O ator costuma fotografar por hobby, mas desta vez a coisa foi profissional - passou dois dias clicando modelos em poses com referências espanholas, como os touros, Carmem, o Barbeiro de Sevilha. "Busquei teatralidade e novos ângulos desses mitos." Essa será sua segunda visita ao país.

Banderas é casado há 15 anos com a atriz norte-americana Melanie Griffith, com quem tem uma filha, Stella. Os dois filhos do casamento anterior dela também cresceram com o casal. A família tem casas em Madri, Los Angeles e Marbella, a uma hora de Málaga. Foi no jardim da última, debruçada no azulão do mar mediterrâneo, que o ator conversou com Serafina por mais de uma hora. Usava jeans, camisa xadrez e botina. Fumou alguns cigarros, brincou com o cachorro e cantarolou Vinícius de Moraes, "o Brasil encarnado".

Paola Kudacki/.
Em entrevista à *Serafina* Banderas fala sobre promessa de largar cigarro e como foi voltar a filmar com Almdóvar
Em entrevista à Serafina, Antonio Banderas fala sobre como foi voltar a filmar com Almodóvar

Como foi reencontrar Almodóvar?
Encontrei um homem que ganhou complexidade no conteúdo e tornou-se minimalista na forma. Perdeu o barroco. Trabalhar com ele não é fácil, graças a Deus! Sinto-me inseguro, e a insegurança é um bom elemento para criar. Na segurança, a gente se repete. Pedro me fez ser econômico nos gestos. Fez com que encontrasse o centro do personagem, sem quase nenhum apoio externo. De alguma forma, reencontrá-lo ajudou a me reencontrar comigo mesmo. No trato pessoal, continua uma pessoa geniosa, divertida, rápida, aguda, genial. Provocador, às vezes mete o dedo na ferida.

Você gosta de dirigir e fotografar. Isso o torna um ator mais completo?
Antes de dirigir, eu pensava que o universo do ator era o que mais me chamaria a atenção. Mas não. Com o passar dos anos, a direção me atrai cada vez mais. Como ator, você é um intérprete, um instrumento. Como diretor, tem capacidade de gerar um universo próprio, se converte um pouquinho em Deus.

E a fotografia?
Com a fotografia, uma história pode não ser a mesma, tudo depende de como se maneja a câmera, a luz. Acredito que esses mecanismos me melhoram como ator, sim, claro. Entendo os códigos, as regras para contar uma história. E quando se conhecem as regras, pode-se permitir outras coisas. Picasso não criaria o cubismo se não houvesse antes a pintura figurativa.

Como é sua relação com a obra de Picasso, já que nasceram na mesma cidade?
Nasci muito perto de onde ele nasceu. É meu ídolo. Um homem livre, intenso, alegre, completo, fez tudo. Tenho contato com a família dele, conheci sua filha Paloma em Los Angeles. E o Museu Picasso de Málaga para mim é o melhor do mundo, por ser particular, com obras íntimas, da família.

Málaga é a cidade onde se sente mais em casa?
Sim. Na minha terra, com a minha gente. Agora passo mais tempo aqui, onde montei uma produtora de cinema. Tenho outra em Granada, de filmes de animação. Saí daqui aos 19 anos mas nunca perdi o contato, minha família vive aqui. Agora, não importa onde os filmes são feitos, te associam a Hollywood. Não se fazem mais filmes em Los Angeles, e sim no México, Canadá, França, Espanha. Hollywood é uma ideia na cabeça das pessoas. Não é um lugar –é uma marca.

Antonio Banderas também é uma marca, inclusive do perfume que você lança agora. O que ele tem em comum com você?
Sou muito espontâneo, e é assim que quero que me percebam. A vida é misteriosa e gosto desse mistério, me sinto confortável nele. Trabalho há 14 anos com a linha de fragrâncias que leva o meu nome. Os perfumistas vão captando minha personalidade. Começamos com uma água muito fresca, natural, agora estamos nessa fase mais misteriosa, com o The Secret. O perfume tem de passar isso, quis o cheiro natural de uma flor, do oceano. Não pode ser uma coisa forte, que te derruba.

Como cuida do corpo e da saúde?
Pratico 40 minutos de ioga todos os dias, depois corro. E suo muito [risos]. No momento, meu maior desafio é parar de fumar. Se estou sozinho, fumo uns seis ou sete cigarros por dia, com um filtro enorme. Mas, numa entrevista como esta, posso fumar o dobro. Fiz uma promessa de eliminar o cigarro depois da Semana Santa. E vou conseguir!

Você também produz vinhos. É um apreciador da bebida?
Não sou um bebedor de álcool. Gosto de vinho tinto e, de vez em quando, de um branco –mas muito pouco, à noite. Durante o dia não bebo.

Você está casado há 15 anos com Melanie Griffith. É mais fácil quando os dois têm a mesma profissão?
Se eu me casasse com uma médica seria muito mais complexo. Tendo a mesma profissão, a pessoa entende seus motivos. E eu já admirava a atriz Melanie Griffith antes de conhecê-la e de ela se tornar minha mulher.

Que tipo de pai você é?
Não sou de grandes imposições. Gosto muito da conversa, não acredito em castigos. Mas sei que tenho de exercer o papel de pai, e não somente o de amigo. Alexander, o mais velho, está com 26 anos, vive em NY e tem uma banda de rock. Dakota, de 21, é atriz. E Stella, de 14, está estudando, mas não creio que seguirá nossa profissão. Não vou influencia-la, quero que siga seu caminho.

Essa será sua segunda visita ao Brasil. Que imagem tem do país?
De uma explosão sensual. De natureza muito forte e de alegria, minha palavra favorita. A felicidade é para os tontos. É muito difícil ser feliz vendo as notícias todos os dias. Prefiro a alegria, que é uma atitude diante da vida, uma forma de afrontá-la -e os brasileiros vivem assim. E não posso deixar de lembrar o futebol [risos]. Eu joguei aqui em Málaga, mas nunca profissionalmente. Levei uma pancada na canela que acabou com a minha carreira futebolística e me levou ao teatro. Graças a Deus, pois tenho 50 anos e minha carreira teria terminado há 15, pelo menos.

Você diz muito "graças a Deus". É apenas uma figura de linguagem ou tem uma religiosidade presente?
Minha religiosidade é forte e distinta. Sou católico. Pertenço a uma confraria em Málaga chamada "Fundación Lagrimas y Favores". Na Semana Santa, saímos em procissão -cada bairro tem a sua confraria, com cores, imagens e sua forma de solidariedade. Tem muito a ver com a arte de rua, a cultura popular. É um grande teatro, uma grande ópera que ocorre durante uma semana pelas ruas de toda Andaluzia, muito bonito e marcante na minha vida.

E você pode sair assim tranqüilo pelas ruas?
É possível, mas é difícil. Nessa procissão, saímos todos cobertos da cabeça aos pés [risos].

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Os cinco sentidos de Banderas

O espanhol diz apreciar "a ideia renascentista do indíviduo com variadas atividades". E parece levar isso ao pé da letra

visão
Para cada foto sua da série que será leiloada no Brasil, o ator criou um poema.

tato
Interpreta um cirurgião plástico no novo filme de Almodóvar, "A Pele que Habito". "Ele é um homem maravilhoso, educado e de uma frieza assustadora. As pessoas terão muito medo."

audição
É a voz do Gato de Botas, personagem dos filmes "Shrek 2" e "Shrek 3" que ganha um longa só dele, superlançamento para o final do ano. "Adoro o personagem! Merecia ter um filme só seu. Gravei em espanhol, inglês e italiano."

paladar
Produz vinhos tintos e roses. "O vinho tem de respeitar as características de sua terra de origem. Gosto de beber à noite, nunca de dia."

olfato
Vem ao Brasil em maio para lançar o perfume The Secret. "O meu segredo é a naturalidade. E um perfume tem de passar isso."

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