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Serafina

Rodrigo Bivar transforma cenas banais do cotidiano em arte

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Dentro do seu Gol caixinha azul-calcinha-desbotada 1992, Rodrigo Bivar, moreno feito um mouro, olhos verdes e barba por fazer, parece um pirata que, recém-desembarcado –digamos, no porto de Santos–, gastou metade do que tinha nos bolsos na compra de um carro velho (depois de ter esbanjado, na noite anterior, a outra metade nos bares perto do cais), subiu a serra e agora dirige pela zona oeste de São Paulo em busca de algum endereço do passado que ele já não consegue localizar porque a cidade mudou.

A impressão, embora sincera, é equivocada. Nada mais distante do espírito desse pintor de 29 anos do que excessos românticos baratos.

VIVENDO DE ARTE

Rodrigo Bivar é um paulistano tímido e tranquilo, que, de segunda a sexta, sai de manhã com seu Gol caixinha azul-calcinha-desbotada 1992 do bairro de Pinheiros (zona oeste), onde mora com a mulher e artista plástica, Lúcia Koch, em direção ao seu ateliê na Lapa, um sobrado de cômodos quase vazios e paredes cheias de quadros. "Quando não estou lendo ou dormindo, eu pinto", brinca, esparramado no sofá.

Carolina Krieger/Folhapress
O artista plástico paulistano Rodrigo Bivar, 29, em seu ateliê em São Paulo
Artista plástico paulistano Rodrigo Bivar (foto), 29, em seu ateliê na Lapa, na zona oeste de São Paulo

Desde 2005, quando concluiu o curso de artes plásticas na Faap e deu início à sua atividade profissional, finalizou mais de cem telas e participou de exposições coletivas. Em 2008, expôs individualmente no Centro Cultural SP.

É representado pela galeria Millan e, como muitos artistas de sua geração, consegue pagar as contas fazendo o que gosta. "O mercado de arte no Brasil é forte hoje. Para as gerações anteriores, o terreno era bem mais pedregoso", diz.

Os temas de sua pintura –figurativa, inspirada em fotos que ele tira aleatoriamente– são instantes banais (ou de uma "visualidade casual", nas palavras de outro Rodrigo pintor, o Andrade) vividos pelo homem comum, e nunca momentos reveladores, de exceção.

Observando as paredes de seu ateliê, vemos banhistas deitados na areia da praia (pacatos como animais sadios), um homem barrigudo tomando uma ducha (a festa da luz e da água!), uma paisagem verde exuberante cortada por um Opala roxo (para onde ele vai? não importa).

Como se o autor estivesse interessado em mostrar a humanidade sem dramas –e em conhecer sua natureza antes de ela se transformar em algo terrível ou afetado. O horror está ausente de suas telas. Sua pintura é amigável.

Os títulos variam muito: "Vaso", "Ubatuba", "Tudo É Como É e Assim É que É", este último um verso de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa.

Everton Ballardin/Folhapress
O quadro "Tudo É Como É e Assim É que É", do artista paulistano Rodrigo Bivar
Quadro "Tudo É Como É e Assim É que É" (foto), de 2011, do artista paulistano Rodrigo Bivar

Leitor de Flaubert, Conrad e Faulkner, a literatura ocupa lugar de destaque na rotina de Bivar. Não por acaso, sua mãe é formada em letras, seu tio é o dramaturgo e escritor Antonio Bivar ("Verdes Vales do Fim do Mundo") e seu pai, morto quando Rodrigo tinha 18 anos, era aviador, carreira que o pintor cogitou seguir.

EM ABERTO

Dos mestres do passado, admira os pintores franceses Manet e Courbet. Entre os contemporâneos, cita brasileiros: Tunga, Luiz Zerbini, Rodrigo Andrade e o fotógrafo Mauro Restiffe. E acredita que artista não pode ter medo de errar.

"Bom é ser como o Woody Allen, que produz um filme por ano. Às vezes o resultado é ótimo, às vezes ruim. Mas e daí? O compromisso de um artista é consigo mesmo, não com as expectativas dos outros."

Então para, reflete e diz (gentilmente, mas como quem pretende não dizer mais nada): "Meu negócio é trabalhar. Não falar. Sei que ainda estou aprendendo meu ofício. Sinto que só agora, depois de anos, estou começando a entender algumas especificidades da pintura. Por isso é melhor não racionalizar demais, pintar de maneira simples, direta e arejada e deixar as coisas em aberto".

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