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Serafina

Serafina acompanha magnatas em viagem para poucos no polo Sul

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Tínhamos esquiado 12 quilômetros. Ainda faltavam oito e mais um dia inteiro. Tentei dormir, mas estava cansado demais. Levantei e fui até a barraca verde dos guias. Lá dentro, Rick e Dirk haviam preparado uma cozinha interessante. A tenda era sustentada por uma estaca central. Em torno dessa estaca, ficavam dois fogareiros. E, ao redor de todo esse centro, eles cavaram um fosso circular de forma que você podia enfiar o pé nele e sentar em volta. A neve retirada do fosso era a que iria virar água nas chaleiras.

O dia era 13 de dezembro de 2011 e tínhamos um plano: chegar à marca do polo no dia seguinte, refazendo os passos do explorador norueguês Roald Amundsen (1872-1928), o primeiro a atingir o local, cem anos atrás.

Veja álbum de fotos da expedição

Nossa viagem havia começado cinco dias antes, no Chile. Rick Sweitzer, o dono e guia da empresa turística norte-americana Polar Explorers, reuniu a turma em Punta Arenas, extremo sul do continente americano, para uma rodada de pisco sour.

Meu grupo é formado por 17 pessoas. Além dos dois guias, eu e o fotógrafo João Wainer viemos a trabalho. Os outros são magnatas, industriais, financistas, negociantes de petróleo, milionários em geral. Cada um pagou US$ 52,5 mil (R$ 92 mil) por oito dias na Antártida, sem contar o voo para o Chile, os exames médicos e os seguros obrigatórios. Esses 13 turistas, sendo duas mulheres, podem passar férias em qualquer lugar do mundo. Preferiram encarar uma viagem desconfortável, mas com uma recompensa rara: ser um dos poucos seres vivos a visitar este lugar.

Um deles, o norte-americano Daniel Pena, 66, veio se casar. Trouxe sua mulher, Sally Hall, 48, e um de seus funcionários, William Smith, 41, que fez um curso pela internet especialmente para poder oficializar o casamento no gelo. Daniel é um gigante de 100 kg e de quase 1,90 m, daquele tipo a que você obedece sem pensar, só de ouvir a voz de trovão. Um cara singular: comprou um castelo na Escócia para jogar golfe ("O esporte foi inventado lá"), escreveu o livro "Your First 100 Million" ("Seus Primeiros Cem Milhões", não lançado no Brasil) e carregou para a Antártida seis quilos de vitaminas ("Tomo 120 pílulas por dia: vitaminas A, B, C, D, E, zinco, cálcio, magnésio, minerais, suplementos etc. Por isso não pareço ter 66 anos").

João Wainer/Folhapress
O turista turco Kamil aprecia o clima de -10°C do acampamento, depois de enfrentar -35°no polo Sul
O turista turco Kamil aprecia o clima de -10°C do acampamento, depois de enfrentar -35°no polo Sul

A japonesa Mieko Kugizaki tem 73 anos e parece tê-los. Apoia-se numa bengala desde que fez uma cirurgia para recompor a bacia há alguns anos. Em uma excursão agregada à nossa, Mieko trouxe (e pagou pela viagem de) um guia exclusivo, que também serve de tradutor. "No ano passado, fui para o polo Norte. Para 2012, reservei uma passagem num avião espacial que sai da atmosfera." O tíquete custa US$ 200 mil e a viagem dura apenas duas horas, com direito a quatro minutos de gravidade zero. O marido nunca a acompanha. "Ele tem medo", sorri.

O texano James Ryff el, 52, trabalha com imóveis e ergue shopping centers nos Estados do Texas, do Arizona e da Georgia. Às vezes, fica com eles. "Tenho cerca de 45", conta. Jim Finley, 55, é do ramo do petróleo. Possui 900 torres extratoras, espalhadas por 13 Estados norte-americanos. James (quatro filhos) e Jim (três) são amigos há 15 anos, assim como suas mulheres e as crianças. Há ainda Jim Johnson, 50, que constrói prédios comerciais no Colorado. Hospitais, hotéis e escritórios estão em sua lista, mas a demanda nos EUA levou sua empresa a se especializar em... cadeias. "Estamos concluindo nossa 16ª prisão", diz. Os três foram juntos ao polo Norte em 2009, quando aquela região comemorou os seus cem anos de conquista.

RUMO À ANTÁRTIDA

Dois dias depois daqueles pisco sours em Punta Arenas, embarcamos num avião de carga russo IL-76, aparentemente caindo aos pedaços. As poltronas não reclinam, a porta do único banheiro não tranca e não há cabine separando os passageiros da área de carga. A tripulação veio com o aparelho após o desmantelamento da União Soviética: são todos russos e parecem vilões do 007. Na hora do lanche, cada um dos passageiros se levanta e monta seu próprio sanduíche de pão de forma, presunto e maionese, apoiado num isopor no chão. E pensar que pelo menos quatro desses meus colegas têm aviões particulares em seus países de origem.

"O importante de uma viagem dessas é fazer você apreciar as coisas básicas, como a água, o ar, um abrigo do frio", resume Avantika Dalmia, 35, filha de um industrial na Índia, que comemora os 15 anos de seu casamento com Puneet Dalmia, 39. "Minha família está nas áreas de cimento, açúcar, eletricidade e cerâmicas industriais", conta o marido. Coisas básicas.

O trunfo desse avião é que ele consegue descer em locais não asfaltados, como a pista de gelo azul da Antártida, onde pousa 3.000 km e quatro horas depois. Logo estamos em Union Glacier, base da empresa que opera os aviões antárticos, tomando sopa de legumes num barracão aquecido. E, surpresa, servem vinho chileno, tinto e branco.

Um de meus novos amigos, o norte-americano Anton Valukas, passa com uma garrafa térmica e oferece: é uísque "single malt". Anton é um advogado de 68 anos, nomeado pela Justiça dos EUA em 2008 para investigar a falência do banco Lehman Brothers. Hoje, comanda uma fi rma de 500 advogados e sempre quis vir à Antártida. "Acabo de me divorciar e achei que era a hora. Liguei para a agência e disse: 'Tenho 68 anos, faço duas horas de bicicleta por dia. Tenho condições de ir?'" É evidente que Anton está em muito melhores condições físicas do que eu. Aos 41, eu havia passado todo o ano de 2011 adiando meu ingresso em uma academia. Acabei me inscrevendo um mês antes da viagem e fiz exercícios apenas no dia da matrícula. Um check-up completo na primeira semana de dezembro, porém, atestou que eu e João Wainer estávamos saudáveis o suficiente para o desafio.

Aproveito para entrevistar um dos reis do aço de Chicago, Dave Nelsen, 53. Descubro que ele tem 30 carros antigos, todos Chevrolet. "Dezenove são Corvettes, sendo eles de 1953, 57, 59, dois de 63, três de 67, 68, 69, 72, 78, 90, 01, 08, 09 e 2012", recita, na ponta da língua, mas pulando dois exemplares. Embalados pelo uísque, conversamos sobre a agradável sensação de dirigir Corvettes pelas ruas de Chicago (em sonho, no meu caso). Pisei na Antártida há apenas três horas e já estou rodeado de copos, garrafas e chegados milionários. Deveria ter trazido meus cigarros...

Passamos três dias no acampamento Union Glacier, aguardando tempo bom para voar ao pólo Sul. Ainda estamos a mil quilômetros de lá, e os aviões não conversam muito bem com gelo e neve. É impossível voar por instrumentos, já que a aparelhagem não consegue medir a água solidificada tão bem como se fosse terra. Me acostumo a usar dentifrício em pó (a pasta dental congelaria) e a escrever com lápis (a tinta ficaria dura).

Uma cadeia de montanhas negras, salpicadas de neve branca, cercam nossas barracas coloridas, nos lembrando a todo instante de que estamos num lugar único. Mas o mais marcante no acampamento é a discrepância entre o banheiro e o orgulho que o pessoal que trabalha lá sente dele. Realmente, outrora devia ser duro, porque "agora temos privadas", vangloriam-se. Mas não têm descarga. E é preciso separar sólidos e líquidos para facilitar o manejo posterior, já que tudo isso voará para ser descartado no Chile. Não há água corrente. Banho, portanto, nem pensar. Pergunto a Daniel Pena, o dono do castelo, como ele enfrenta a dura experiência do banheiro. "Sou o primeiro a acordar e faço tudo antes de todo o mundo." Fica a dica.

RUMO AO POLO

A primeira coisa que acontece quando você pisa na região polar é seu nariz começar a escorrer. A 35 abaixo de zero, o muco congela e cada gota vira uma miniestalactite que te alfi neta por dentro das narinas. Havíamos acabado de descer com o pequeno DC-3 na pista de gelo azul próxima ao polo Sul, tão assustados com as histórias de necroses causadas pelo frio que cobrimos todos os milímetros do corpo com o máximo de tecido disponível. A temperatura é de 35 graus negativos. Estou encapotado como uma cebola, com cinco camadas de roupa. Um exagero, percebo em dois minutos.

Nove turistas de nosso grupo, inclusive eu e João, havíamos escolhido esquiar os últimos 20 quilômetros em direção ao polo. Os dois guias nos acompanhariam. A intenção era chegar à marca no dia seguinte, 14 de dezembro, mesma data de Amundsen em 1911. Passei os primeiros minutos dessa nova jornada me perguntando o que fazia ali. Xingando a situação, coloquei meus esquis, prendi o trenó no cinturão e comecei a puxar. Cada um de nós dez carregava um trenó igual, de 15 kg a 25 kg, entre roupas, saco de dormir, comida, chocolate, barracas, fogareiros etc.

Logo senti o dedão do meu pé direito gelado. Pensei em trocar as meias, mas vi que seria impossível. O simples ato de beber um gole de água exigia voltar com o esqui de ré até emparelhar com o trenó, dobrar os dois joelhos, quase sentando (o esqui te impede de levantar o calcanhar), tirar as luvas externas, achar um lugar para colocá-las sem derrubá-las na neve, abrir a mochila, achar a garrafa, abri-la, beber sem se desequilibrar nessa posição dos infernos e, quando acabar, fazer tudo de novo ao contrário. Enquanto isso, a expedição caminha e você vai ficando para trás. Trocar de meia, portanto, estava fora de cogitação.

Vale dizer que nossa esquiada não tem nada a ver com estações recreativas como Bariloche ou Aspen. Não deslizávamos pela neve, já que não existem descidinhas no planalto do polo Sul. Estávamos caminhando, levantando um esqui após o outro e dando passos. Era como andar de pé de pato na praia. João sofria mais que eu porque, além do trenó, tinha o equipamento fotográfico pendurado no corpo -e precisava parar para fotografar de vez em quando. Logo se formaram dois grupos. Atrás, andávamos eu, os amigos texanos James Ryff el e Jim Finley e Arjun Gupta, 51, um indiano morador da Califórnia que se especializou em bancar novas empresas no Vale do Silício e depois vendê-las. Já fez isso com 61 delas.

Quinze minutos depois, meu dedão já se aquietou, mas os dedos da mão esquerda passaram a doer demais. Estavam em processo de congelamento, certeza absoluta. A sensação era de quente, não de frio. Parecia que tinha colocado os dedos na boca de um fogão. Reclamei para o guia Dirk Jensen, mais amigável que Rick. Ele arrancou minha luva externa e a de baixo. Disse que era só frio, nada demais, mas reclamou que estavam muito apertadas. "É preciso espaço para o ar. É o ar quente que mantém sua mão aquecida." Coloquei saquinhos de aquecedores químicos dentro das luvas, mas, 15 minutos depois, a dor tinha aumentado.

Ficar a 30 graus negativos enquanto se vai do hotel para o restaurante é uma coisa, mas ficar o tempo todo a 30 graus negativos era outra bem diferente. Lembrei-me da passagem de "Solar" (2010), de Ian McEwan, em que o protagonista, que está numa viagem semelhante, faz xixi ao ar livre no polo Norte e acha que seu pênis congelou. O risco de ficar quieto me pareceu grande demais e, quando reclamei pela terceira vez, Dirk me deu suas luvas externas e ficou sem. Salvou minha mão (acho) e parte do meu humor (certeza).

DIFICULDADES

Minutos depois, uma moto de neve se aproximou, com um dos funcionários do acampamento. Trazia uma lata de combustível, que tinha ficado para trás. Rick gritou para todos: "Se alguém quiser desistir, é agora", oferecendo a garupa. Jim Finley se adiantou: "Não estou me dando bem com estes esquis, as botas ficam torcendo o tempo todo e talvez eu não esteja gostando muito disso". Invejei, de verdade.

Após algum tempo, já me equilibrava sem esforço no esqui (nunca havia visto um na vida). Mesmo assim, estava no fim da fila. Arjun e James Ryffel iam comigo, mas os dois paravam um bocado para ganhar fôlego. Estávamos a quase 3.000 m de altitude. Respirar fica mais difícil; há menos oxigênio no ar. A partir do oitavo quilômetro, o cansaço tornou-se insuportável. O trenó parecia cada vez mais pesado. Para não perdermos tempo, nem havíamos almoçado naquele dia. Comecei a sentir frio, apesar do exercício constante, e coloquei mais uma jaqueta. Senti que me aproximava do esgotamento quando, em vez de fincar os espetos para ajudar no equilíbrio sobre os esquis, comecei a usá-los como muletas, jogando meu peso sobre eles a cada passo. De 50 em 50 metros, parávamos durante um ou dois minutos, curvados sobre nós mesmos, mãos no joelho, arfando.

Quando o primeiro grupo finalmente parou, sete horas depois do início, eles estavam uns 500 metros à nossa frente. Venci dolorosamente os últimos passos e desabei em cima do meu trenó. O islandês Bjarn Ármannsson, 43, estava bem à vontade. Com quatro filhos e quatro empresas (chocolate, gás propano, armazenamento de dados e seguros), o maratonista acostumado com o gelo de seu país ajudou os guias a montar as barracas. Como ele, Jim Johnson, Dave Nelsen e Anton Valukas mantinham a energia e o bom humor. Apesar disso, Anton me disse depois: "Enfrentei desafios físicos em vários lugares do mundo, mas este foi o dia mais brutal da minha vida".

Entrei na barraca e João estava no mesmo clima de sofrimento. "Como fomos nos meter nessa?", indagou, e adormeceu instantaneamente. Eram 22h, mas o maldito sol nunca se punha, portanto, nem dava para perceber... Não há noite no verão antártico. O sol está lá o tempo todo, a uma altura de 30 graus em relação ao horizonte. Passa o tempo todo rodopiando sobre nossas cabeças. Às vezes, quando o tempo abre, o sol brilha e o céu fica tão azul quanto o de uma praia do Nordeste. Mas, quando está nublado, a vastidão de neve lisa que domina a região do polo, sem montanhas ou colinas, se encontra no horizonte com o céu embaçado e tudo se transforma numa massa branca sem fim.

Deixei João dormindo e entrei na barraca verde que os guias haviam erguido para cozinhar, aquela com um fosso no meio. De repente, aquela tortura toda começou a fazer sentido. Dava para ver a felicidade daqueles homens ao redor do fogo, cortando nacos de salame de um centímetro de espessura e tomando cappuccinos instantâneos, satisfeitos consigo mesmos, a milhares de quilômetros de distância de seus funcionários, mansões, mulheres, filhos e outros dramas.

Havia pacotes e mais pacotes de comida desidratada, tipo carne com arroz, mas eles preferiram beliscar linguiças e tortilhas com queijo. Era como o clube do Bolinha dos gibis, uma casinha onde menina não entra. Estavam quase todos lá, inclusive James Ryffel, que parecia exausto, não conseguiu comer nada e logo foi se deitar. Ele sentia os efeitos da altitude e, naquela noite, mal conseguiria descansar, teria náusea, calafrios e enjoos. Já Arjun, meu outro companheiro do grupo de trás, nem sequer apareceu para o salaminho.

O POLO

Na manhã seguinte, voltei para a fila da caminhada como se estivesse andando na prancha de um navio pirata, pronto para o abate. Mas o dia acabou não sendo tão ruim quanto o primeiro: o cansaço deixara de ser novidade. Após quatro quilômetros, entramos numa área de pesquisa da estação norte-americana. Os guias comandaram um desvio à esquerda, até encontrarmos a estrada, para vencer os últimos quatro quilômetros seguindo as marcas de pneu. Mas James Ryffel não desviou junto com a gente. Estava tão esgotado que, apesar de ser o último da fila, não percebeu a mudança de rota. O islandês Bjarn teve que ir buscá-lo e, a partir de então, puxar também o seu trenó.

Chegamos ao polo momentos antes do casamento de Daniel e Sally. Casaram-se entre as bandeiras dos EUA e do Reino Unido (ela é inglesa) que circundam a marca cerimonial do polo Sul. Todos brindamos com vodca. Era 14 de dezembro, o mesmo dia de Amundsen, há cem anos. Havia noruegueses por toda parte, inclusive o primeiro-ministro do país, Jens Stoltenberg, que participou de uma cerimônia para 500 pessoas, um recorde no lugar.

Aqui e ali, eu revia os colegas de nossa expedição que não haviam participado da caminhada. A senhora Mieko, apoiada em sua bengala, e seu guia particular vindo do Alasca. O casal Dalmia, da Índia. E Peter Lui, 53, um chinês interessado numa distinção bem específica: ser o primeiro escoteiro de Hong Kong a estar no polo Sul. "Há alguns anos, um escoteiro inglês veio. Ou eu teria sido o primeiro do mundo", lamentou.

Há gente bem diferenciada circulando por aqui. Um senhor norueguês de 60 anos, chamado Asle T. Johansen, conta que veio esquiando com dois colegas desde a costa, por mais de mil quilômetros, durante 40 dias, usando roupas e equipamentos idênticos aos de Amundsen. "Matamos 30 renas para juntar a pele necessária para os casacos, luvas etc." Outro é Jann Pettersen, 78, neto do carpinteiro da expedição vitoriosa de 1911. Passeia exibindo o relógio de ouro que Amundsen em pessoa ofereceu a seu avô.

E o norte-americano aposentado Don Parrish está caminhando em volta da marca polar, uma, duas, dez, 20 vezes. Parrish, 67, é o quarto homem mais viajado do planeta. Já esteve em 787 lugares dos 872 listados pelo site Most Travelled People (pessoas mais viajadas). "Mas também sou sócio de um clube de circum-navegações e aqui tenho a oportunidade de dar várias voltas no globo." É isso mesmo, Don está dando microvoltinhas ao redor da Terra em torno do eixo do polo Sul, andando só dez metros a cada círculo. "Decidi circum-navegar cem vezes, em homenagem aos cem anos. Mas, para não haver risco de errar na conta, dei 110 voltas."

O comportamento de Don me chama a atenção para duas questões específicas do último lugar da Terra. Caminho até o polo, paro exatamente na marca e respiro profundamente. Se eu der um passo para a frente, irei para o norte. Até aí, tudo bem. Mas aqui, ao contrário de todos os outros lugares do planeta, se eu der um passo para trás, também estarei indo para o norte. Qualquer passo que eu dê em qualquer direção será para o norte. Então, me dou conta de outra situação: um passo à direita me coloca no dia 15 de dezembro, 8h horário da Nova Zelândia. Mas, ali, naquele fim de mundo, onde todas as latitudes e fusos horários se encontram, um passo à esquerda me leva para o dia anterior: 14 de dezembro, 20h no horário do Chile.

Volto para o refeitório, onde estão meus colegas de expedição. Arjun dormiria cerca de 20 horas para se recuperar do cansaço. James, cerca de 15. Jim Finley comenta que pretende voltar no ano que vem. "Sinto que falhei." James Ryffel diz ao amigo: "Se você precisar vir, voltarei com você". Os outros turistas apenas aguardam o tempo abrir para poder voar de volta ao acampamento, depois ao Chile e aí cada um para sua vida. Enquanto isso, passam o tempo no refeitório jogando Banco Imobiliário, com dinheiro de mentira.

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