Serafina
Gaby Amarantos e Chayene podem não ser finas, mas estão na moda
Era uma vez um Brasil em que a classe média se gabava de moderação quase cristã, com moças de cabelos domados e roupas adequadas à escola, ao baile e, dependendo da casa, à missa.
Esse Brasil ganhou um vizinho atrevido, que chegou causando sensação no condomínio. É a nova classe média, formada por novos trabalhadores bem empregados e por empreendedores, fruto da melhor distribuição de renda.
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E ela chegou chegando, exibindo uma identidade visual própria e um repertório de ídolos e referências tachado por muitos de cafona. Mas já conquistou algum terreno e parte da galera fashion, sedenta por novidades.
Vicente de Paulo/Divulgação | ||
Uma festa em que não toque hits de Gaby Amarantos está por fora do babado |
OVERDOSE
Um dos ícones desse movimento complexo é a cantora Gaby Amarantos, a gata que despontou como "Beyoncé do Pará" e rapidamente ganhou brilho próprio.
Uma festa em que não toque um de seus hits, como "Xirley" ou "Ex Mai Love", está por fora do babado. A segunda faixa faz parte de seu novo disco, "Treme", e está entre as mais vendidas do iTunes no Brasil.
Ela é a inspiração da personagem de Claudia Abreu em "Cheias de Charme". E quem pensa que o visual overdose-de-tudo da personagem é caricato demais para o gosto do público está enganado.
Grande parte da população se reconhece mais em Chayene e Gaby do que em qualquer modelo de capa de revista. Gostosas, sem vergonha de mostrar o corpo, coloridas, descombinadas, estampadas, brilhosas, purpurinadas.
Os cérebros mais divertidos já cataram onda no movimento. Já entenderam que o mundo da "aparelhagem" –o circuito tecnobrega que rola sobretudo no Norte e no Nordeste do país– é uma das coisas mais inventivas que apareceram nos últimos tempos.
Não faltam DJs e músicos estrangeiros de olho nessa cena. E atenção: muitos dos que hoje acham tudo isso uma cafonalha estarão em breve curtindo o legado dessa galera em versão para gringo, achando lindo.
Em termos de "visual", Gaby e Chayene podem não ser finas como querem certos manuais empoeirados, mas estão na moda. E não é de hoje.
Enquanto muitos estilistas brasileiros insistem num estilo europeizado e veem seus negócios naufragarem, grifes do gosto da nova classe média endinheirada (e das moças
mais vaporosas da antiga), como Planet Girls e Morena Rosa, constroem suas minas de ouro fashion.
"CAFONA PRIDE"
Cores, fendas, brilho, tudo sensualizando nas araras. A valorização dessa estética "Miami Maculelê" só cresce. Caetano e Gal, aliás, com o funk tropicalista que leva esse nome, mostraram que quem é grande não tem medo de sair da casinha e experimentar o batidão.
Não se trata de criar uma nova ditadura, mas de reconhecer que, se a moda brasileira quer mesmo crescer e enfrentar a concorrência externa, vai ter de largar de ser metidinha e dialogar de alguma forma com essa estética.
Até porque essa história de cada um isolado no seu casulo, como diz Gaby, se botar na vitrine, não vale R$ 1,99.
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