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Serafina

"Comigo não tem isso de o importante é competir. O bom mesmo é ganhar", diz a técnica Rosicleia Campos

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No sábado, a judoca piauiense Sarah Oliveira conseguiu o primeiro ouro para o Brasil nos Jogos de Londres ao vencer todas as suas adversárias na categoria até 48 kg.

Na final, a piauiense derrotou a campeã olímpica em Pequim 2008, Alina Dimitru, da Romênia.

Na hora de receber a medalha, dividiu a atenção e as palmas do público com a vibrante técnica do judô, Rosicleia Campos.

Considerada uma "figura" por manter uma postura efusiva durante as competições, Rosicleia bateu um papo com o jornalista e colunista da Folha Rodolfo Lucena antes de partir para Londres. Confira o perfil da divertida treinadora, que está nas páginas da revista Serafina deste domingo:

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A aula de catecismo era o destino da menina quando saía de casa. Ao chegar à igreja, porém, atravessava a rua e ia acompanhar os treinos de judô na academia ao lado, no bairro de Cascadura, zona norte do Rio de Janeiro. A professora de religião acabou chamando os pais da garotinha para tentar botar ordem na casa. Resultado: a menina saiu do catecismo e entrou no judô.

Filha de um ex-judoca e uma ex-jogadora de vôlei, Rosicleia Cardoso Campos tinha então 11 anos. Com 15, chegou à seleção brasileira de sua categoria; no ano seguinte, estava no Mundial. Foi nove vezes campeã sul-americana, sete vezes campeã brasileira, além de competir em dois Pan-Americanos e em duas Olimpíadas (Barcelona-1992 e Atlanta-1996).

Hoje, aos 42, comanda a seleção brasileira feminina de judô, que acaba de começar sua luta por medalhas nos Jogos de Londres.

Gustavo Pellizon
A treinadora Rosicleia Campos
A treinadora Rosicleia Campos

Guardando a voz

Enquanto as pupilas combatem no tatame, tia Rosi enfrenta outra batalha: conter as emoções, segurar o ímpeto, guardar a voz, refrear os movimentos. Conhecida pelo estilo exaltado com que orienta suas atletas, a técnica terá de se submeter a uma regra recente da Federação Internacional de Judô, que proíbe o treinador de dar dicas enquanto a luta está em andamento. Falar com o atleta só é permitido em brevíssimas interrupções da luta determinadas pelo juiz.

"É um sofrimento total", diz, pouco antes de viajar para Londres. "Descobri que eu fiquei com cacoete de fazer caras e bocas, porque, como não posso falar, desenvolvi algumas técnicas. Às vezes escapa alguma coisa, mas eu, no susto, coloco a mão na boca."

Quando a regra foi aprovada, o estilo de Rosicleia foi apontado como atitude que precisava ser coibida. Ela contesta: "Isso incomoda os árbitros, mas eu nunca falei com eles. É que eu falo o tempo inteiro, então talvez tire a concentração deles. Eu fui dada como exemplo, mas o técnico de Cuba é muito pior do que eu, mil vezes. Eu sou injustiçada", diz, entre risos.

E continua: "Fiquei com fama de barraqueira, queimou meu filme geral, os holofotes estão todos virados para mim, o que não acho justo. Eu brigo pelo que acredito, o que é diferente".

Pelo menos uma vez, porém, chegou mesmo a dizer ao juiz o que pensava, com todos os pingos nos is. Foi no Pan de 2007 (Rio), em uma final. "O cara roubou a gente quase que de mão armada. Fiquei revoltadíssima. Se eu pudesse, matava. Mas foi tudo verbal. A vontade era ser realmente físico, mas a etiqueta do judô não me permite. Além, é claro, da educação que minha mãe me deu", relembra.

'Vamo que vamo'

Essa paixão ela procura passar para suas pupilas. "Eu falo para as meninas: se elas entrassem com a metade da vontade que eu tenho, não tinha para ninguém. Comigo não tem isso de o importante é competir. O bom mesmo é ganhar."

Para isso, a confiança é um caminho, receita: "Você tem de entrar com a certeza de que quer ganhar, que ninguém fez melhor do que você ali. É assim que eu entro: com sangue nos olhos, olhos de tigre, 'vamo que vamo', que é nosso e não tem para ninguém. Um segundo, um centésimo de lapso no judô, de dúvida, é a hora em que você fraqueja e o teu adversário percebe.

Aquela brecha pode mudar toda a história, e é isso que não pode ter. Eu não tenho". Também não tem medo da lei da mordaça. "Virei um personagem nessa história toda porque eu sou mulher, sou alta, gesticulo muito, eu sou uma pessoa muito passional. Mas sou disciplinada. Quando saiu essa regra, tinha uma aposta geral de que eu jamais iria conseguir ficar naquela cadeira, porque eu ia ser expulsa 100% das vezes. Só que eu estou invicta até agora, não fui expulsa nenhuma vez", festeja.

Se achar necessário, porém, vai gritar nos Jogos de Londres. "Algumas atletas precisam de estímulos. O judô dura cinco minutos, e você não pode nem piscar porque compromete o resultado. Eu tenho a obrigação de mantê-las alertas."

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