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Serafina

Adriana Varejão ganha exposição panorâmica no MAM-SP e celebra bom momento

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Faz um daqueles dias radiosos no Rio de Janeiro. O céu e o mar se estendem pela janela do apartamento, que parece flutuar sobre a praia do Arpoador.

Adriana Varejão senta-se à mesa e faz um comentário fortuito sobre os pinguins, que neste inverno mais uma vez viajaram da Patagônia até o litoral carioca. "Olha um ali", aponto, enquanto vemos o bichinho singrar entre os poucos banhistas que se deliciam com o início cintilante da tarde de segunda-feira.

Estamos terminando o almoço para em seguida irmos ao bairro do Horto, onde a artista repagina a antiga casa em que morava para ampliar os domínios de seu ateliê.

Depois de seis anos casada com o empresário Bernardo Paz, idealizador do Instituto de Arte Contemporânea Inhotim, em MG, ela vive agora com Pedro Buarque de Hollanda, seu amigo de juventude, executivo da Conspiração Filmes e ex-marido da atriz Mariana Ximenes.

Os dois em breve trocarão o mar pela montanha -vão morar numa casa que compraram no Jardim Botânico, projetada por Oscar Niemeyer.

Adriana Varejão, 47, é uma das artistas brasileiras mais prestigiadas e bem cotadas no mundo de arte internacional. Em fevereiro de 2011, quando já transcorriam 25 anos de sua primeira exposição individual, uma de suas telas, intitulada "Parede com Incisões à la Fontana", foi arrematada por R$ 3 milhões num leilão da casa Christie's, de Londres.

Entre artistas latino-americanos vivos, apenas um trabalho do veterano colombiano Fernando Botero, 80, célebre por suas duvidosas figuras rechonchudas, havia atingido cifra ligeiramente mais alta -R$ 3,38 milhões.

Murillo Meirelles
Adriana Varejão
Adriana Varejão

O trabalho de Adriana não foi, contudo, confinado à categoria "arte latino-americana". Ele participou de uma sessão em companhia de artistas top como o norte-americano Andy Warhol. A revista britânica "The Economist" classificou o resultado de um "sucesso espetacular", lembrando que o vendedor, um português, teria adquirido a tela em 2002 por cerca de R$ 60 mil. A artista, é bom lembrar, não ganhou nada com a revenda na Christie's.

Tudo Azul

O lance milionário causou frisson no meio artístico e virou notícia de jornal. "Fiquei surpresa com a repercussão, mas não foi um milagre. Foi fruto de anos de trabalho consistente. E não pode ser visto como um fato isolado. Artistas de vários países já alcançavam preços bem maiores do que esse em leilões. Agora os brasileiros estão chegando. Há muitos valorizados, como Hélio Oiticica, Sérgio Camargo, Lygia Clark, Beatriz Milhazes, Vik Muniz..

Aliás, não é só fora do Brasil que essa valorização acontece, em leilões daqui também", diz ela. A pintura vendida em Londres possivelmente se transformaria no fetiche da grande panorâmica da obra de Adriana Varejão que será inaugurada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, no próximo dia 3 de setembro, pouco antes da abertura da 30ª Bienal.

Mas o quadro não estará entre as cerca de 40 peças selecionadas para a mostra -algumas de museus como o Guggenheim, de Nova York, e a Tate Modern, de Londres, outras de acervos particulares, como o do banqueiro Alfredo Setubal, do Itaú, o principal colecionador da artista no Brasil.

Além do custo adicional de trazer a valiosa tela do exterior (o nome do comprador é mantido em sigilo, mas se sabe que está fora do país), Adriana e o curador Adriano Pedrosa optaram por privilegiar na exposição -que terá o título de "Histórias às Margens"- as associações de cor.

Uma pintura também intitulada "Parede com Incisões à la Fontana", datada de 2000, será exibida no MAM. À diferença da tela leiloada, predominantemente branca, esta é azul e formará um conjunto com obras no mesmo tom.

Editoria de Arte/Folhapress
Varejão atacada
Varejão atacada

Fascículos

Carioca de Ipanema, Adriana é filha de um ex-piloto de caça da Aeronáutica e de uma nutricionista. Na juventude pensou em estudar arquitetura, mas, numa época em que engenheiros cada vez mais assumiam projetos, terminou fazendo vestibular para engenharia, na PUC do Rio.

Quando começou o ano, viu-se ''numa daquelas salas com 47 homens e três meninas". Não demorou muito a trancar matrícula e tentar outro caminho: o desenho industrial. Inicialmente na mesma PUC, depois na Faculdade da Cidade, onde foi fisgada pelas aulas de história da arte.

Até então, suas relações com esse mundo eram marcadas por atividades nos tempos de colégio ou pela prosaica convivência com a coleção de fascículos "Gênios da Pintura", que naqueles tempos havia conquistado os lares da classe média brasileira.

Quando o artista norte-americano John Nicholson, que se mudara do Texas para o Rio, anunciou um curso na faculdade, ela decidiu fazer. Por essa época, assistiu a um filme que alimentou suas fantasias de se tornar artista -"Adeus às Ilusões", com Liz Taylor, uma pintora que mora numa cidade litorânea da Califórnia.

Naquele início da década de 1980, em meio à crise da ditadura militar e também das utopias políticas, uma nova geração de artistas se organizava em ateliês e trocava o intelectualismo conceitual da década de 1970 por uma pintura colorida, de pinceladas fortes, que seria rotulada de neo-expressionismo.

Adriana começou a frequentar o Parque Laje em 1983, mas não participou da famosa exposição "Como Vai Você, Geração 80?", inaugurada em julho de 1984, que lançou nomes como Beatriz Milhazes, José Leonilson, Leda Catunda, Luiz Zerbini e Daniel Senise.

Divulgação
"Ruína e Charque - Porto", obra de Adriana Varejão na SP Arte de 2010
"Ruína e Charque - Porto", obra de Adriana Varejão na SP Arte de 2010

Barroca

Embora simpatizasse com a nova vertente e gostasse de pintores que serviam de referência para os novos, seus interesses pessoais a levaram para outra margem da história da arte -o território do barroco, estilo que atingiu alturas no Brasil.

Uma clássica viagem às cidades históricas de Minas foi a porta que a levou para um acervo de imagens que parecia adormecido no passado colonial, fora da perspectiva da arte contemporânea e do campo de visão da nova safra de artistas plásticos.

Seguindo trilha própria, a conversa com o barroco trans-formou-se, para Adriana, numa estratégia artística que se poderia chamar de conceitual, marcada por citações, paródias e jogos óticos.

"Trazendo o barroco para a cena contemporânea", explica o crítico Luiz Camilo Osório, "Varejão repõe na ordem do dia uma pintura que não teme o artifício, a ilusão, o jogo delirante e sensual com a aparência".

Tão fértil quanto a descoberta de Minas, foi uma viagem à China, em 1992, que também deixou marcas definitivas em sua obra. A cerâmica da dinastia Song, por exemplo, é a fonte de inspiração para as superfícies craqueladas como as dos azulejões que revestem as paredes de sua impressionante galeria nos jardins de Inhotim.

Depois da retrospectiva, Adriana já tem um novo trabalho para se dedicar: o desenvolvimento de tintas óleo que correspondem a cores de peles de brasileiros. O projeto, que terá uma tiragem determinada, baseia-se numa pesquisa de 1976, na qual o IBGE pediu às pessoas que declarassem a cor de sua pele. O resultado foram 136 tonalidades, que vão da "agalegada" à "preta", passando por "quase negra", "acanelada", "morena roxa" ou "sapecada".

Caçamba

Nome consagrado, Adriana é muitas vezes procurada por jovens interessados em saber mais sobre o que seria a "carreira" de um artista. "Hoje me perguntam muito sobre a profissionalização; é mais difícil conversar sobre arte."

Talvez alguns desses curiosos se surpreendessem ao saber que a pintora, em momentos de insatisfação, já destruiu obras que poderiam ser vendidas sem maior dificuldade em leilões e galerias. Foi o que fez, por exemplo, com a pintura de uma Nossa Senhora que despejou, enrolada, numa caçamba de entulho. Ataque de raiva? "Não", ela garante.

"Não sou de dar ataques. Eu fiz friamente. Sempre fui muito exigente com meu trabalho. É difícil eu deixar sair do ateliê alguma coisa que não me satisfaça inteiramente. Às vezes retrabalho obras às vésperas de uma exposição, como fiz, em 2005, antes da abertura de uma mostra na Fundação Cartier, em Paris."

Adriana considera que "a pintura lida o tempo todo com essa dinâmica de construção e destruição; você não pode ter medo do ímpeto de destruir, porque ele também é o ímpeto de construir".

Hoje, mais madura, já está aprendendo a ser menos impetuosa -ou fria- na hora de descartar obras. "Com a maturidade a gente vai entendendo que o tempo diz muito sobre os trabalhos, é preciso aguardar para avaliar melhor. Mas, mesmo assim, outro dia eu já estava pronta para pintar por cima de uma obra que não tinha gostado muito e o Pedro não deixou. Espera, ele disse, depois você decide." Por enquanto ela está esperando.

CRÉDITOS ENSAIO
Styling: Marina Franco. Maquiagem: Eliezer Lopes. Tratamento de imagem: Alex Wink (Studio AW). Assistentes de fotografia: Fabian Alvarez e Leonardo Graff. Assistente de styling: Paula Cozendey. Gerente de estúdio (Murillo Meirelles): Larissa Vieira. Assistente de arte: (Adriana Varejão): Jeane Terra. Gerente de estúdio (Adriana Varejão): Cecília Fortes. Agradecimentos: Ernesto Neto, Diego Cattani, Gilson Reis, Felipe Gaspar, Pricilla Régis, Leonardo Reis, Fábio Santana e Restaurante Cabana de Praia. Adriana Varejão veste: T-shirt acervo pessoasl, saia Balmain da NK Store, colar Diego Cattani e vestido Filhas de Gaia.

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