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Serafina

Viúva de Leon Cakoff luta para manter a Mostra de Cinema de SP

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Por pouco, a Mostra Internacional de Cinema de SP não começou sem festa em 19 de outubro. É que Renata de Almeida, a diretora do evento em que deseja estar todo o cinema nacional e boa parte do internacional, teve problemas em conseguir patrocínio e decidiu limar a balada inicial pela primeira vez em décadas.

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"A prioridade é fazer uma sessão gratuita de 'Nosferatu' para 12 mil pessoas no Ibirapuera, não uma festa", diz ela.

Priorizar é um verbo que essa paulistana de 47 anos tem conjugado na primeira pessoa do singular no último ano. Até porque seu tempo continuou tendo a mesma metragem, enquanto as tarefas duplicaram.

Faz pouco mais de 12 meses que Leon Cakoff, o crítico de cuja cabeça saiu a temporada cinematográfica paulistana, morreu de um câncer contra o qual se digladiava havia dez anos, num roteiro dramático que Renata também protagonizou.

Seu marido, pai de seus dois filhos e companheiro de trabalho se foi, aos 63 anos, dias antes de a Mostra do ano passado começar. O evento foi dedicado à sua memória e a recém-viúva ganhou abraços e promessas de apoio.

Algumas delas, como o patrocínio prometido, mas sustado a um mês do evento, ficaram só na palavra.

"As pessoas não veem nosso trabalho. É uma empresa que não existe naturalmente, mas que precisa de dinheiro para acontecer. A Mostra nasce e morre todo ano. É um pouco uma miragem", diz.

CASA CHEIA

A começar pela rotina nos dois andares de um prédio próximo à rua Augusta, sazonal como numa lavoura. No correr do ano, cinco pessoas trabalham no escritório.

Dois meses antes da abertura, o número salta para 50. "Hoje de manhã, chamei duas pessoas para a minha sala, porque não tinham onde sentar."

Gui Mohallem
Renata de Almeida enfrenta dificuldades para manter a Mostra de Cinema no primeiro ano após a morte de Cakoff
Renata enfrenta dificuldades para manter a Mostra de Cinema de SP, pouco mais de mais de um ano após a morte de Cakoff

Mas a casa cheia não significa menos solidão. Esta foi a primeira edição em que Renata teve de fazer tudo por conta própria.

"Discutimos muito, mas as decisões, no fim, eu tomo muito sozinha." Por exemplo, o tema deste ano. Ela decidiu que seria o cineasta russo Andrei Tarkóvski (1932-1986), pensou em uma retrospectiva inédita da obra dele e ainda em uma exposição de polaroides que o russo fez de naturezas-mortas e de outras vivas, como sua mulher e seu filho.

Ela mesma entrou em contato com o herdeiro de Tarkóvski, que aparece nas fotografias, e o convenceu a vir a SP, com as fotos na bagagem.

Ainda acionou a agenda de contatos para falar com o ator mexicano Gael García Bernal. Quer trazer ao Brasil o protagonista do filme que abre o evento, "No", do chileno Pablo Larraín. A história de dois publicitários e de um plebiscito para decidir se Pinochet continua ou não no poder é "boa para o momento paulistano", classifica.

E, ao olhar para as pesquisas eleitorais de SP, balança a cabeça: "É com eles que vou ter que conversar para fazer a Mostra do ano que vem..."

O FIM?

Mas, cuidado, candidatos. Se não houver papo, patrocinador ou pique, pode ser que o evento acabe. "Não sou como o Leon, que faria a Mostra não importa o que acontecesse.

A Mostra só continua enquanto for possível. Deixou de ser viável, acabou. E, se for para parar e começar outra coisa, eu faria tão bem quanto."

Ou talvez nem fosse preciso parar para recomeçar. Quando fala de "Mostra Internacional de Cinema na Cultura", programa que o canal público televisiona nas noites de quarta e de sexta, ela se anima.

"São 70 mil pessoas assistindo a um filme que nunca passou no cinema." Antes da sessão, Renata faz uma pequena apresentação da película, em que o histórico de atriz pré-Mostra "ajuda", mas "não resolve", define ela. "Só vou e faço o que tenho de fazer, nem me assisto depois."

Gui Mohallem
 FRSER3009RENATA2: Renata de Almeida, mulher de Leon Cakoff, no jardim da Cinemateca
Renata de Almeida, que dirige a Mostra Internacional de Cinema de SP há 23 anos, no jardim da Cinemateca

O mesmo senso prático apareceu nas fotos que fez para a Serafina. Aceitou a sugestão de se vestir com um terno masculino, dizendo que, se gostasse do figurino, já faria uma oferta por ele ali mesmo. "Me resolve um problema em vez de criar um." Não fez.

Mas parece ser essa a lógica da diretora. E foi também por pragmatismo que levou os dois filhos para viajar no último ano. Foram à Disney, a Nova York e ao México. Cada viagem englobou uma data: Natal, Dia dos Pais, aniversário de Leon. "Foi tanto o que passamos, que não precisávamos disso, de ficar em casa só na lembrança."

Mas, mesmo quando viaja, às vezes não consegue escapar por completo. Conta que, numa festa de Walter Salles no festival de Cannes, em maio, ela se deu conta de que não sabia mais se portar em meio à felicidade.

"Se tivesse enterro ou hospital, podiam me chamar, eu era a pessoa ideal. Agora, balada, não." Na ocasião, o cineasta iraniano Abbas Kiarostami olhou para ela e disse: "Vem, sente aqui comigo". E ela se sentiu mais tranquila.

Depois, conseguiu até ir a algumas outras festas num ano com outros velórios, como o do diretor e amigo Carlos Reichenbach, em junho.

"É, talvez essa coisa de não ter festa de abertura seja o meu inconsciente me pregando uma peça", brinca. E coloca seu sorriso, pela primeira vez em uma hora, à mostra, mesmo antes de saber que outro patrocinador bancaria a balada, que vai acontecer, sim. Olha o inconsciente aí de novo.

Produção: Casa Juisi
Roupas: Lita Mortari e Corello

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