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Serafina

Com franja e chapinha, visual de Michelle Obama gera debate nos EUA

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No meio da cerimônia de sua segunda posse, o presidente Barack Obama arrumou um jeito de brincar com o que chamou de "um dos assuntos mais significantes" da semana: a nova franja da mulher, Michelle.

A primeira-dama é um ícone de estilo dos Estados Unidos. Fala-se muito do jogo de cintura "fashion" da Sra. Obama, que usa peças de luxo com roupas e acessórios comprados em redes de "fast fashion". A franja e a chapinha de Michelle são só a ponta do novelo. Há debates online sobre seu estilo, e os maiores jornais, revistas e TVs do mundo também acompanham tudo de perto. As escolhas desta mulher e suas filhas, aliás, foram criticadas por milhares nos últimos dias.

Ativistas e apoiadores de movimentos negros, além da tropa usual de comentadores genéricos, acham que a primeira-dama deveria assumir seus cachos, talvez adotar um "black power" à Angela Davis, uma das líderes e musas do partido revolucionário Panteras Negras. De fato, a moda imprimiu mundialmente a noção de que um cabelo liso é mais elegante do que um crespo. É uma espécie de maldição da Medusa: os cabelos volumosos viraram índice de agressividade, de um excesso feminino indomável e ameaçador.

Ironicamente, Michelle é uma primeira-dama ativa, que discursa firmemente, interfere politicamente em seu país e é vista pelos eleitores como braço direito de Obama. Basta compará-la com o estilo mosca-morta de Carla Bruni.

A Sra. Obama, vale lembrar, até já foi criticada por ter um comportamento fora dos padrões frígidos da política dos EUA. Beija e abraça o marido em público, dança, sorri, faz piada, cara feia e deixa claro que tem vida sexual para além da procriação.

Mas voltemos aos fios dos cabelos. O liso de Michelle pode ser visto de outro ângulo. Tem o mesmo status que o casaco de pele Christian Dior ou os brincos de esmeralda que Beyoncé usou para cantar na posse do presidente: é um código de riqueza.

ASCENSÃO

Michelle e Barack, assim como Beyoncé e seu marido, o rapper e empresário Jay-Z, representam a ascensão social vivenciada por parte da comunidade negra norte-americana. E em dois setores essenciais do sistema: a política e a indústria cultural.

O casal presidencial é, claro, mais careta. A primeira-dama faz o estilo clássico, pouco ousada, mas sempre muito bonita. Já a diva Bey e seu Jay são um tapa na cara do discreto charme da burguesia. Não têm medo de brilhar e ostentar (como boa parcela dos negros endinheirados dos EUA). São um contraponto para os ricos tradicionais, que atualmente preferem a carapuça modernosa do "low profile" e da causa verde.

É importante observar como a questão da luta de classes e do preconceito está escrita nos códigos visuais. Muitos negros (e uma leva de brancos muito "preocupados") acham que Michelle fica "menos preta" toda vez que alisa os cabelos. Que dessa forma cede ao padrão de beleza branquelo. Tantos outros acham que isso não existe, que ela é um símbolo de orgulho negro independentemente das madeixas.

O padrão de beleza branco está diretamente ligado à riqueza no mundo capitalista ocidental. Os brancos sempre foram maioria entre os ricos. E dita a moda quem tem mais dinheiro ou, em outras palavras, os brancos é que decidem o que é chique, a partir de sua própria imagem.

Numa relação simplificada, mentirosa e preconceituosa, mas muito arraigada e propagada pela moda, o cabelo liso dos brancos é vendido como índice de cuidado, elegância e recato. Na mesma relação perversa, o cabelo cacheado dos negros vira índice de falta de sofisticação e de uma sensualidade estereotipada, "exótica".

O curto-circuito acontece quando um negro assume um lugar de destaque, tradicionalmente ocupado por representantes nascidos no berço branco/rico. E, aí, como proceder? Que tipo de imagem passar? O que fazer? É complicado.

Analisar a moda é assim, a gente começa numa simples franja lisa e termina mais careca que Naomi Campbell, arrancando os cabelos entre as barbas de Marx e Malcolm X.

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